Capítulo 25

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Asa

Minhas aulas com Tate continuaram quando ele julgou ser seguro eu sair do quarto, dois dias depois da chegada de Caspiel.

Ao invés de treinarmos ao ar livre, ele me mostrou um salão no andar debaixo, esquecido.

Estava completamente vazio. O chão era de madeira clara e haviam duas paredes completamente de espelhos. A pouca luz que entrava vinha de janelas estreitas perto do teto, onde eu podia ver o quão embaixo estávamos. 

" O que é esse lugar?" Perguntei para Tate.

" A mãe de Elan, a rainha Zara, era dançarina.  Amava a dança como amava o ar que respirava. Ela tinha essa sala só para ela. Ninguém veio aqui desde que ela se foi para bem longe do rei. "

" Então soube que Elan me contou sobre a mãe? " Perguntei enquanto pegava a espada que ele estendeu para mim.

" E sobre Kaya. " Ele disse.

Ele não desembainhou a própria espada. Observou meu pulso e meus dedos ao redor do punho da espada.

" Errado. Arrume." Ele apontou o queixo para minha empunhadura.

Franzi o cenho.  Não sabia o que estava errado ali. Era como eu havia visto guerreiros empunharem suas lâminas.  Eu havia visto Raksha treinar e sabia como copiar sua postura e movimentos.

Ele segurou meu pulso e ajeitou meus dedos para que contornassem a espada.

" Sua lâmina é uma extensão do seu braço.  E você não empunha seu braço errado. "

Revirei meus olhos. " Eu não empunho meu braço. "

Ele riu, embora pudesse perceber que o sorriso não chegava aos olhos.

" Está preocupado. " Eu afirmei para ele.

" Desde quando é psicóloga? " Ele atirou para mim.

" Fui treinada para ler pessoas. Saber quando são um risco e quando estão mentindo."

Ele escondeu um sorriso, tornando seu lábio uma linha fina. " Sim, estou preocupado.  Caspiel me deixa assim. Também me deixa irritado, mas principalmente preocupado.  Sempre que ele vem, algo acontece. "

Ele veio para minhas costas e segurou meu punho armado. Meu coração deu um pulo com sua proximidade.

" O que aconteceu da última vez?" Minha voz tremeu quase imperceptivelmente.

Ele pousou a outra mão na minha cintura e sentia seu calor no meu ombro nu.

" Nada com que tenha que se preocupar. " Ele disse, perto.  Perto demais. 

Ele fez alguns movimentos lentos e suaves com a espada em minha mão.

Ele me mostrava como eu deveria me mexer, como cortar carne e ossos, como bloquear ataques...

Ele se afastou abruptamente de mim e eu não percebi que sentia falta de seu calor até o ar frio me atingir.

Ele desembainhou sua espada e apontou para mim. " Ataque."

Eu agi mais por instinto do que racionalmente. 

Fiz um ataque para frente mas ele saiu facilmente do caminho e bateu a parte chata de sua espada contra a minha.

Minha espada caiu de minha mão e fez um barulho alto quando caiu no chão. 

Apanhei o punho e ergui a espada. Ele atacou, mais rápido do que qualquer um que eu já vira.

Eu ergui a espada, bloqueando o primeiro ataque mas o segundo atingiu minhas costelas, com a parte chata.

" Mantenha sua defesa, Asa." Ele disse, parecendo se divertir.

" Eu não sou uma lutadora." Eu grunhi para ele.

Ele atacou várias vezes, em movimentos quase imprudentes.  Eu bloqueei todos por reflexos.

Ele desceu sua espada contra a minha e enquanto elas se cruzavam, ele se aproximou, nossos rosto separados apenas pelo aço. 

" Você é  uma guerreira.  Só não sabe disso ainda. Seus reflexos feéricos são melhores do que o da maioria dos humanos treinados. Você tem talento natural mas tem medo de segurar uma lâmina. "

Eu empurrei minha espada, mandando-o para alguns passos de mim.

" Eu não tenho medo. Não sou frágil como você diz." Eu estava ficando verdadeiramente irritada.

Ele riu de mim, girando a espada nos dedos para se exibir. " Você nunca matou ninguém.  Então, para mim, não tem qualquer direito de me dizer que não é uma novata, frágil,  sensível. "

"Eu matei aquele lobo no bosque. Eu salvei  sua vida." Eu gritei para ele.

Ele me circulava, como os lobos. " Eu quis dizer matar uma pessoa. Você matou aquele lobo para sua própria proteção.  Não conta."

"Aposto que está só blefando. Aposto que nunca entrou numa batalha de verdade e nem mesmo matou alguém. " Eu cruzei os braços, ciente do quão perto minha espada estava de me cortar.

Ele grunhiu como um animal para mim. Rápido,  rápido demais, ele me derrubou no chão. 

Senti o aço frio no meu pescoço.

" Eu matei e mutilei mais homens do que possa imaginar. Matei meu primeiro homem aos quatorze anos. Caço desde os nove. " Ele praticamente cuspiu para mim.

Ele embainhou sua espada e saiu andando.

Me ergui nos cotovelos e gritei para ele. " E minhas aulas?"

Ele não me respondeu antes de sumir porta afora.

O Reino de Açoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن