Capítulo 19

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Tate

Eu estava andando pelos jardins, alguns dias depois da trégua com Asa, quando eu a vi.

Ela estava sentada na grama, com um livro aberto no colo, usando um longo vestido branco de verão. 

" Não sabia que gostava de ler." Eu disse quando me aproximei. 

Ela sorriu. " Não sabia que gostava de andar pelo jardim. "

Nosso acordo de paz estava indo bem, embora ainda fosse frágil.  Eu a havia visto alguns dias antes, uma vez no corredor e outra com Elan na sala de música,  fazendo um dueto.

" Eu estava indo para uma cavalgada no bosque aqui perto.  Gostaria de sair um pouco de detrás dos muros? " Eu perguntei,  incerto.

Eu havia pensado em diversas coisas para fazer ou falar com ela desde nosso encontro na sala de música.  Eu sabia que eu havia sido um completo idiota com ela e queria compensar.

Ela sorriu. " Cavalos? Com certeza. "

Eu a ajudei a levantar e ela pediu alguns minutos para trocar de roupa. Quando desceu,  estava com uma calça de montaria, uma camiseta sem mangas lilás e botas até o joelho.

Sabia que Akila não se importaria se ela pegasse o cavalo dele, Caspeon.

Bastian, meu cavalo, e Caspeon estavam nas primeiras baias. Entreguei uma sela à ela mas Asa balançou a cabeça.  " Prefiro montar à moda antiga. "

Achei aquilo...incomum mas não disse nada. Assim que terminei de colocar a sela em Bastian, ela subiu com graciosidade no outro cavalo.

Eu fui na frente, guiando o caminho. Passamos um pouco mais rápido que o trote pelos portões e me virei.

" Sabe correr?" Eu gritei, além do vento.

" Claro que sei." Ela sorriu, parecendo mais feliz do que eu jamais tinha visto.

Em resposta, ela acelerou o ritmo, me passando facilmente. 

Ela queria brincar, então?  Tudo bem.

Fiz com que Bastian fosse mais rápido e eu estava ao lado dela em alguns segundos.

Ela sorriu para mim e aumentou o ritmo.

Apostamos corrida até o bosque das cores.

Quando atingimos a linha das árvores,  nós dois diminuímos o ritmo até uma caminhada.  Sabiamente, ela se aproximou de mim.

Aquele bosque era conhecido por ter lobos, embora eu nunca tenha visto nenhum ali.

"O que você veio fazer aqui?" Ela perguntou, baixinho.

" O cozinheiro pediu para que eu pegasse o tempero especial dele, o preferido do rei e de Elan." Eu disse, apenas no momento ouvindo o quão estúpido parecia.

As árvores tinham folhagem densa, por isso quanto mais entrávamos,  mais escuro ficava.

Ouvi algo se quebrando atrás de nós e parei meu cavalo. Asa olhava de um lado para o outro,  assustada.

" Desça. " Eu ordenei, antes de descer de meu próprio cavalo. 

Amarrei-o à árvore e puxei uma corda para amarrar Caspeon à árvore mais próxima. 

Asa se aproximou de mim. Eu sentia sua respiração no meu ombro e o calor de seu corpo perto de meu braço nu.

Entreguei uma faca à ela. "Use somente em emergência. " Eu disse.

Meus instintos gritavam para mim para não confiar numa feérica armada logo atrás de mim mas eu os ignorei. 

Puxei minha espada e a posicionei na lateral direita do meu corpo. Senti algo quente perto do meu pulso esquerdo e vi que Asa se segurava avidamente em mim e na faca. Ela tremia.

Algo estalou, agora mais perto de nós. 

Ela se virou na direção do barulho e eu agradeci aos deuses por sua audição espetacular. 

Eu ouvi o rosnado em algum lugar na minha frente.  Era algo primitivo e totalmente bestial.

" Tate..." Ela disse baixinho, levantando a faca na sua frente. 

Eu a puxei para trás do meu corpo, me posicionando entre o lobo e ela.

Algo se partiu mais duas vezes na minha frente e percebi que eles estavam em um número considerável.  Eu podia lidar facilmente com um mas com três...

Inclinei levemente meu corpo na direção dela. "Quando eles saltarem, corra. Não dá tempo de pegar um cavalo mas corra como se sua vida dependesse disso, porque depende."

Eu a vi assentir, os nós dos dedos brancos de tão forte que apertava a faca.

Eu contei até dezoito antes deles atacarem. Cortei o primeiro ao meio mas o segundo me unhou no braço. 

Uma ardência aguda e uma dor profunda subiram pelo meu braço e eu grunhi.

Eu esperava que Asa tivesse corrido ou estaríamos os dois mortos.

Os dois animais de pele cinzenta rosnaram para mim, os dentes afiados totalmente à mostra.

O terceiro lobo rosnou para mim e deu um passo à frente.  Como se treinado, o segundo saltou na minha direção e mais por reflexo,  minha espada voou para dentro de sua barriga, atravessando-a.

O terceiro lobo pulou no meu peito e me jogou no chão.  Minha espada voou para longe e eu agarrei a pele de seu pescoço para tentar tirar meu rosto, cada vez mais dentro de seu alcance.

Ele mordia o ar a centímetros do meu nariz e estava cada vez mais difícil conter seu peso.

Eu soube que morreria ali e aceitei isso.

De repente,  o lobo ganiu e caiu de lado, me libertando de seu peso.

Quando me apoei no cotovelo, vi que minha faca se projetava de seu pescoço. 

Asa ofegava e olhava fixamente para o lobo morto.

Eu me levantei e a envolvi com um braço,  puxando-a comigo enquanto me afastava dos lobos.

Assim que ele saiu do seu campo de visão,  ela me olhou,  os olhos marejados.

" Eu o matei." Ela disse, com a voz magoada.

Eu toquei os dois lados de sua bochecha.  " Esse é o mundo, Asa. Era eu ou ele e você me escolheu. Tenho uma dívida de vida com você. " Eu não conseguia expressar como estava grato.

Pensei se não era exatamente a mesma coisa que ela pensava de Elan.

Ela ofegou um pouco, se perdendo em pensamentos.

" Precisamos ir. Vai anoitecer em breve." Eu disse e a puxei delicadamente. 

" Consegue cavalgar?" Eu perguntei. 

Ela levou alguns segundos para assentir.

Eu a ajudei a subir no cavalo e vi que seus dedos estavam trêmulos quando se agarraram à crina dele.

Voltamos para o castelo em silêncio. 


O Reino de AçoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant