Capítulo 16

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Asa

Minhas memórias eram um borrão confuso. Eu me lembrava de estar na cela, delirando em febre,  quando o comandante entrou e ficou me encarando. A próxima coisa de que me lembrava era do homem da sala de música entrando na cela e me levando de lá. 

A partir dali, eu mal me lembrava de nada. Um homem chegara e me dera algo para beber, mulheres de branco e de preto e branco zanzando pelo quarto desconhecido,  o rosto lindo do homem que me salvara, o rosto grave do comandante,  o rosto preocupado do capitão, claridade demais no quarto...

Minha consciência voltou aos poucos. Quando tive coragem para abrir os olhos,  vi que alguém tinha fechado as cortinas e o quarto estava escuro o bastante para que a luz não ferisse meus olhos e claro o bastante para que eu enxergasse. 
Olhei ao redor e vi que o homem da sala de música estava adormecido em uma poltrona ao meu lado. Ele segurava minha mão. 

Tentei tirar a mão devagar para não acordá-lo mas ele abriu os olhos, alerta.

Ele olhou ao redor,  procurando por perigo,  mas quando seus olhos focaram em mim, ele relaxou.

Ele se sentou ao meu lado na cama e pressionou sua mão na minha testa. Eu estava sem febre.

Ele suspirou em alívio.  " Como se sente? "

Tentei falar mas minha voz não saiu. Eu estava com tanta sede. Peguei o copo de água na minha cabeceira e tomei um enorme gole antes de me voltar para ele.

" Estou melhor. Muito, muito melhor.  Obrigada." Eu estava realmente grata.

Ele sorriu. " Fico feliz que esteja bem."

"Quem é você? " Perguntei gentilmente. 

Ele corou. " Perdoe minha falta de modos. Meu nome é Elan Drakos, príncipe de Callahan.  "

Eu arregalei os olhos e, por instinto,  me afastei um pouco dele na cama.

" Não,  não.  Não lhe farei mal algum, eu juro. " Ele levantou as duas mãos no ar.

Me senti tola e estúpida e voltei a me aproximar dele.  "Perdoe-me. Não quis ser ingrata, é só que..."

" Eu sei.  Este reino já lhe fez muito mal. " Ele parecia envergonhado e bravo. " Sinto muito. "

"Eu sou Asa. Acho que lhe devo meu nome, já que sabe o meu." Eu disse, como uma oferta de paz.

Ele sorriu. " É um nome muito bonito. " Eu agradeci sua gentileza.  " Deve estar com fome e está quase na hora do seu remédio. "

"Remédio? " Franzi o cenho.

Ele riu. " Eu tenho lhe dado seu chá medicinal de três em três horas.  Ele fez sua febre passar. Doutor Caram disse que era alguma infecção mas já está sob controle. "

"Obrigada por tudo, Elan, não sei nem se eu estaria viva se não fosse por você. "

Ele sorriu. " Sempre que precisar, Asa."

Ele chamou uma criada que parecia com medo de entrar no quarto.

Ela voltou minutos depois com um carrinho de comida.  O cheiro estava delicioso e meu estômago roncou alto. 

Elan me ajudou a levantar e vi que eu estava com um camisola branca até o joelho. Ele seguiu meu olhar e disse que era de sua noiva.

Sentamos numa mesa de madeira e comemos em silêncio.  Eu comi peru, frango, arroz, cenouras, batatas,  beterraba e um enorme pedaço de torta de morango. Comi até estar entupida de comida. 

Elan me deu uma xícara fumegante de um líquido verde e me disse para beber. O gosto era estranho, como comer capim, e ele disse que eu não poderia adoçá-lo. Demorei cinco minutos para tomar a xícara toda.

Quando terminei, examinei o quarto. 

Era imenso. Com uma lareira de pedra branca, quadros, sofás e poltronas, estantes de livros e suportes de armas, a cama enorme com dossel no meio e tapeçarias. 

Com o movimento das longas cortinas, vi que ele tinha uma varanda e me levantei para ir até lá.  Cambaleei um pouco no começo mas consegui firmar meu passo.

Puxei a cortina para o lado e saí para a varanda redonda.

Me apoiei no guarda-corpo e olhei ao redor. Era bonito ali. Havia um jardim florido abaixo de mim, com uma fonte, bancos brancos e pessoas andando tranquilamente por ali.

Conseguia ver os muros do castelo e os campos verdes atrás deles. Havia uma floresta densa no horizonte. 

" Asa?" Elan chamou do quarto e eu entrei.  " Gostaria de tomar um banho enquanto eu providencio um quarto para você? "

Eu sorri. " Não vou voltar para a cela?"

Ele ficou sério e se aproximou de mim. Apoiou as duas mãos nos meus ombros. " Você nunca mais voltará para aquela cela."

Eu quase chorei de alívio e gratidão e não tentei me impedir de abraçá-lo.

"Eu adoraria tomar um banho, se não se importa." Eu disse ao me afastar.

" Vou arrumar algumas roupas para você. O banheiro é na porta atrás da lareira. Fique à vontade e demore quanto tempo quiser." Ele disse antes de beijar minha testa e sair.

Entrei na porta atrás da lareira e vi o lindo banheiro. Haviam duas pias e um espelho enorme, um vaso sanitário e uma banheira no canto. 

Despi-me e me sentei de costas para a porta. A água quente me relaxou e desfez nós que eu achei que nunca mais se desfariam.

Abracei meus joelhos e fechei os olhos,  aproveitando o calor.

O Reino de AçoTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang