Asa
Minhas memórias eram um borrão confuso. Eu me lembrava de estar na cela, delirando em febre, quando o comandante entrou e ficou me encarando. A próxima coisa de que me lembrava era do homem da sala de música entrando na cela e me levando de lá.
A partir dali, eu mal me lembrava de nada. Um homem chegara e me dera algo para beber, mulheres de branco e de preto e branco zanzando pelo quarto desconhecido, o rosto lindo do homem que me salvara, o rosto grave do comandante, o rosto preocupado do capitão, claridade demais no quarto...
Minha consciência voltou aos poucos. Quando tive coragem para abrir os olhos, vi que alguém tinha fechado as cortinas e o quarto estava escuro o bastante para que a luz não ferisse meus olhos e claro o bastante para que eu enxergasse.
Olhei ao redor e vi que o homem da sala de música estava adormecido em uma poltrona ao meu lado. Ele segurava minha mão.Tentei tirar a mão devagar para não acordá-lo mas ele abriu os olhos, alerta.
Ele olhou ao redor, procurando por perigo, mas quando seus olhos focaram em mim, ele relaxou.
Ele se sentou ao meu lado na cama e pressionou sua mão na minha testa. Eu estava sem febre.
Ele suspirou em alívio. " Como se sente? "
Tentei falar mas minha voz não saiu. Eu estava com tanta sede. Peguei o copo de água na minha cabeceira e tomei um enorme gole antes de me voltar para ele.
" Estou melhor. Muito, muito melhor. Obrigada." Eu estava realmente grata.
Ele sorriu. " Fico feliz que esteja bem."
"Quem é você? " Perguntei gentilmente.
Ele corou. " Perdoe minha falta de modos. Meu nome é Elan Drakos, príncipe de Callahan. "
Eu arregalei os olhos e, por instinto, me afastei um pouco dele na cama.
" Não, não. Não lhe farei mal algum, eu juro. " Ele levantou as duas mãos no ar.
Me senti tola e estúpida e voltei a me aproximar dele. "Perdoe-me. Não quis ser ingrata, é só que..."
" Eu sei. Este reino já lhe fez muito mal. " Ele parecia envergonhado e bravo. " Sinto muito. "
"Eu sou Asa. Acho que lhe devo meu nome, já que sabe o meu." Eu disse, como uma oferta de paz.
Ele sorriu. " É um nome muito bonito. " Eu agradeci sua gentileza. " Deve estar com fome e está quase na hora do seu remédio. "
"Remédio? " Franzi o cenho.
Ele riu. " Eu tenho lhe dado seu chá medicinal de três em três horas. Ele fez sua febre passar. Doutor Caram disse que era alguma infecção mas já está sob controle. "
"Obrigada por tudo, Elan, não sei nem se eu estaria viva se não fosse por você. "
Ele sorriu. " Sempre que precisar, Asa."
Ele chamou uma criada que parecia com medo de entrar no quarto.
Ela voltou minutos depois com um carrinho de comida. O cheiro estava delicioso e meu estômago roncou alto.
Elan me ajudou a levantar e vi que eu estava com um camisola branca até o joelho. Ele seguiu meu olhar e disse que era de sua noiva.
Sentamos numa mesa de madeira e comemos em silêncio. Eu comi peru, frango, arroz, cenouras, batatas, beterraba e um enorme pedaço de torta de morango. Comi até estar entupida de comida.
Elan me deu uma xícara fumegante de um líquido verde e me disse para beber. O gosto era estranho, como comer capim, e ele disse que eu não poderia adoçá-lo. Demorei cinco minutos para tomar a xícara toda.
Quando terminei, examinei o quarto.
Era imenso. Com uma lareira de pedra branca, quadros, sofás e poltronas, estantes de livros e suportes de armas, a cama enorme com dossel no meio e tapeçarias.
Com o movimento das longas cortinas, vi que ele tinha uma varanda e me levantei para ir até lá. Cambaleei um pouco no começo mas consegui firmar meu passo.
Puxei a cortina para o lado e saí para a varanda redonda.
Me apoiei no guarda-corpo e olhei ao redor. Era bonito ali. Havia um jardim florido abaixo de mim, com uma fonte, bancos brancos e pessoas andando tranquilamente por ali.
Conseguia ver os muros do castelo e os campos verdes atrás deles. Havia uma floresta densa no horizonte.
" Asa?" Elan chamou do quarto e eu entrei. " Gostaria de tomar um banho enquanto eu providencio um quarto para você? "
Eu sorri. " Não vou voltar para a cela?"
Ele ficou sério e se aproximou de mim. Apoiou as duas mãos nos meus ombros. " Você nunca mais voltará para aquela cela."
Eu quase chorei de alívio e gratidão e não tentei me impedir de abraçá-lo.
"Eu adoraria tomar um banho, se não se importa." Eu disse ao me afastar.
" Vou arrumar algumas roupas para você. O banheiro é na porta atrás da lareira. Fique à vontade e demore quanto tempo quiser." Ele disse antes de beijar minha testa e sair.
Entrei na porta atrás da lareira e vi o lindo banheiro. Haviam duas pias e um espelho enorme, um vaso sanitário e uma banheira no canto.
Despi-me e me sentei de costas para a porta. A água quente me relaxou e desfez nós que eu achei que nunca mais se desfariam.
Abracei meus joelhos e fechei os olhos, aproveitando o calor.
KAMU SEDANG MEMBACA
O Reino de Aço
Fiksi RemajaTrilogia Entre Reinos Em um mundo separado em dois continentes, um de feéricos e outro de humanos, há apenas um frágil tratado entre eles. Tate é o comandante mais jovem em toda a história do reino humano. Órfão de mãe por causa de um feérico, el...