Capítulo 13

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Asa

Eu estava cansada até os ossos, com fome, com frio e com medo. Trancada na escuridão, sem uma fiapo de luz para que meus olhos se acostumassem ao breu, eu tentava e falhava em permanecer alerta.

Não sei quanto tempo passei lá até que o comandante humano voltasse.

No dia anterior, eu quase chorei em agradecimento ao capitão dele, que me carregou quando eu já não aguentava mais andar.

Se tivesse qualquer força, teria gritado com o comandante cruel quando ele chutou o capitão e o socou no rosto.

Quando o comandante voltou, falhei ao tentar não me encolher. Eu o odiava profundamente e sabia que nada poderia mudar aquele sentimento.

Ele parecia descansado e ainda mais irritado. Estava com o outro homem do dia anterior, que eu acho que se chamava Devlon. Não havia sinais do capitão.

O comandante jogou para mim uma bandeja do que parecia ser mingau quase queimado. Eu estava com tanta fome que não hesitei ao atacar o pote. Meu orgulho estava ferido mas pelo menos meu estômago doía cada vez menos.

Quando eu terminei de comer, chutei a bandeja de volta para ele, que permanecia encostado no batente da porta.

Ele me analisava detalhadamente e eu tive náuseas com isso.

" É verdade que os cabelos das mulheres feéricas são a coisa mais preciosa para elas?" Ele perguntou da porta.

Meu estômago se apertou e eu baixei o olhar, sem querer lhe dizer essa informação.

Eu o vi se aproximar quando ele já estava acima de mim. Me agarrou pelos cabelos--já doloridos do dia anterior--e encheu sua enorme mão com eles. Tirou sua faca da bainha e fez uma movimento rápido perto da minha cabeça.

Senti minha cabeça ficar mais leve e vi meu cabelo se amontoar numa pilha dourada.

Meus olhos encheram de lágrimas e eu queria gritar com ele, xingá-lo em todas as línguas que eu conhecia e de todos os nomes que eu conhecia.

Mas eu fiquei quieta, quase morrendo internamente. Andreas, Kaiden, Malya, meu avô...todos amavam meu cabelo. Era meu maior orgulho.

E agora ele estava arruinado por um brutamontes humano.

Pelo que eu sentia, meu cabelo estava um pouco abaixo do queixo e provavelmente irregular.

Baixei a cabeça para meus joelhos e cravei minhas unhas nas coxas para evitar chorar.

"O que eu fiz para você? " Eu quase desabei em lágrimas ao falar.

Ele se afastou de mim. " Não é o que você fez mas o que sua raça fez para mim."

Ele saiu mas esqueceu a janela de vigília aberta, então eu tinha um pouco de luz para enxergar a cela e não temer tanto a escuridão.

Abracei meus joelhos e chorei até dormir.

Eu comia duas vezes por dia, no que parecia ser a hora do almoço e do jantar.

O comandante me visitou algumas vezes nos dois dias que se seguiram. Ele sempre vinha para falar coisas maldosas ou me trazer comida extra, embora eu não entendesse a segunda parte.

Conforme os dias passaram, eu fui ficando mais acostumada com a escuridão, com o frio que parecia sempre emanar das pedras úmidas, e fui desejando desesperadamente um banho.

Quando disse isso para o comandante, ele voltou alguns minutos depois e me jogou um balde de água.

No que eu achei que era o quarto ou quinto dia ali, devido às minhas marcações na parede com uma lasca de pedra, o comandante abriu a porta.

" Levante-se." Ele disse para mim.

Eu o ignorei e continuei olhando-o como se ele não tivesse dito nada.

Ele rosnou alguma coisa e me colocou de pé, puxando-me pelo braço.

" Vai pagar por sua estadia aqui, feérica. Todos os dias, um de meus homens a acompanhará até o cômodo que deverá limpar. " Ele disse. " Eu viajarei por alguns dias, então tente não sentir minha falta. " Ele disse com um sorrisinho que eu queria lhe arrancar no tapa.

Ele saiu e fez um gesto para que eu o seguisse. Hesitando um segundo, eu fui.

Estava ainda mais frio do lado de fora e eu me abracei para tentar impedir que o fim entrasse em meus ossos.

Subimos até o castelo, onde as pessoas me encaravam abertamente.

Tentei puxar meu cabelo para frente só para lembrar que eu não tinha mais cabelo o bastante para fazer isso. Coloquei uma mecha atrás da orelha e vi um humano arregalar ainda mais os olhos ao ver minhas orelhas pontudas.

O comandante me levou até um par de portas de madeira. Ao lado da porta, havia um esfregão e um balde com um escovão dentro.

" Divirta-se. " Ele disse e se virou. Ele parou no meio do corredor e se virou de volta. " Esqueci de avisar...se não fizer um bom trabalho, ficará sem sua próxima refeição. " Eu podia ver seu sorriso malicioso.

Peguei o balde e abri as portas. Era o que parecia ser um salão pouco usado, com alguns sofás, poltronas, uma lareira, enormes cortinas brancas e quadros antigos. Era um lugar enorme e empoeirado.

Suspirei e me ajoelhei. Mergulhei o escovão no balde e comecei a esfregar o chão.

O Reino de AçoWhere stories live. Discover now