Capítulo 8

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Tate

Após dois dias de cavalgada quase constante onde eu fiz um percurso de quatro dias em dois, chegamos ao castelo.

Elan estava cada dia pior mas ainda estava vivo.

Eu parava a cada duas horas para limpar seu ferimento, trocar as bandagens e lhe dar água para depois voltar a cavalgar.

Eu não me importava com o que aconteceria comigo quando o rei descobrisse. Eu só me importava em salvar Elan.

Eu cavalguei direto para dentro dos muros do castelo e parei em frente às portas principais. Desci do cavalo e puxei Elan para meus ombros.

Eu estava completamente exausto e faminto e sentia que poderia desabar a qualquer instante.

Mas eu corri com meu primo nos ombros até a ala médica.

As enfermeiras tomaram um susto ao me ver entrando, todo sujo e com sangue seco em minhas roupas. Ficaram mais assustadas quando gritei ordens para elas.

Duas trouxeram uma maca, onde coloquei Elan delicadamente. Elas o levaram correndo para longe, para dentro de alguma sala de cirurgia.

Eu sabia que Akila havia partido logo depois de mim e que estaria ali a qualquer momento.

Então me permiti desabar no chão gelado da ala hospitalar e desmaiar de cansaço.

Acordei em minha própria cama.
Senti o cansaço amolecendo meus ossos e a fome corroendo meu estômago. Deveria ter morrido a qualquer instante pois não havia ingerido nada mais que água nos últimos dois dias.

Mas notei a agulha intravenosa e a bolsa de soro ao meu lado. Embora estivesse faminto, não estava morto. Ainda.

Lembrei que o rei provavelmente já havia marcado o dia do meu enforcamento público e não senti qualquer vontade de levantar.

A porta se abriu e vi a pele castanha encharcada de suor de Akila.

" Finalmente acordou. " Ele parecia quase aliviado.

" Quanto tempo eu..." Tentei falar mas minha língua estava seca e pesava na boca.

Akila se aproximou e me entregou um copo de água, de onde eu bebi avidamente.

" Quanto tempo você dormiu? Vinte horas desde que desmaiou na enfermaria. Está cansado até os ossos, Tate, e sugiro que descanse enquanto pode."

"O que quer dizer? " Perguntei para ele.

" Quero dizer que o rei me mandou acompanhar você até ele assim que acordasse." Ele disse, qualquer emoção desaparecendo de seu rosto.

Senti meu estômago embrulhar mas sabia que devia arcar com as consequências de meus atos.

Arranquei a agulha do soro de mim e me levantei da cama. Uma tontura que escureceu minha visão por alguns segundos me invadiu mas eu a dominei.

Percebi que estava apenas com uma calça qualquer e me troquei rapidamente.

No caminho para a sala do trono, eu segurei o ombro de Akila.

" Como ele está? Elan."

"Vivo. Vai se recuperar sem sequelas mas vai ficar umas duas semanas de cama. Os médicos disseram que você salvou a vida dele com aquele emplastro."

Me lembrei das folhas e flores amassadas em uma massa verde nojenta que coloquei em sua ferida.

" Minha mãe gostava de botânica e me ensinou sobre isso antes de morrer. Disse que provavelmente seria útil. " Eu disse rapidamente.

Entramos na sala do trono e assim que nos viu, o rei dispensou todos os nobres que falavam com ele.

Ele nos olhou com raiva líquida e seus dedos estavam brancos pois ele agarrava os braços do trono.

" Vocês dois tem muita, muita sorte. Se Elan tivesse se ferido um pouco mais, os dois estariam mortos agora por traição. " Ele rugiu para nós e vi Akila se encolher. " Meu filho me disse que forçou você a levá-lo mas não acredito que o tão temido Comandante Tatum tenha se deixado enganar por um principezinho."

Ele respirou fundo para controlar seu gênio. " Eu não vou mandar os dois para a morte certa mas ambos irão pagar por seu erro e por sua desobediência. "

Ele sorriu maliciosamente para nós e foi minha vez de encolher, mesmo que quase imperceptivelmente.

" Quero que vocês peguem um barco e vão ao continente feérico. " Meu estômago desabou e qualquer coragem que eu tinha simplesmente evaporou." Quero que me tragam uma prova de que estiveram lá. "

"Isso é uma missão suicida! " Akila foi o primeiro a falar. " Já tentamos invadir os feéricos outras vezes e nenhuma das tropas voltou. "

O rei sorriu. " Sugiro que vão logo. Fiz questão de adiantar a festa militar anual e vocês estão suspensos de qualquer atividade ligada ao exército enquanto não me trouxerem o que eu quero. " O bastardo se recostou em seu trono. " Fiquei sabendo que é a festa mais querida de vocês e não acho que queiram perder. "

"Prefiro perder uma festa do que minha vida." Akila disse, quase cuspindo no rei.

A expressão do rei ficou séria. " Tem três dias para me trazerem a prova. Caso contrário, eu executo vocês dois eu mesmo. " Ele fez um gesto com a mão. " Dispensados. "

Eu me virei, com punhos cerrados, quase correndo para fora.

Eu esperei minha vida toda para invadir o continente feérico e ali estava minha chance. Mas também sabia que era uma missão suicida e maluca.

Eu deveria escolher entre a morte certa ou uma morte quase certa.

O Reino de AçoOnde histórias criam vida. Descubra agora