Capítulo 14 - Adrien

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"O medo de perder alguém que você amou a vida toda é pior do que sentir que está morrendo. "
- Laiza Fabiano, (Por Marinette Dupain-Cheng).

Eu entendia o medo dela. Eu conseguia perceber na forma como ela andava de um lado para o outro, mordiscando a almofada do polegar, os seus lábios macios. Da mesma forma que, enquanto ela quase não furava o chão com seus passos preocupados, eu só conseguia observa-la. Não queria falar nada. Às vezes, temos que parar... pensar, repensar, refletir e por fim argumentar. Nossos comentários às vezes são nossa própria destruição sem que saibamos, ou percebemos. Ela provavelmente está me olhando com uma expressão péssima, de culpada, só porque a salvei de morrer, e que esse gesto quase custou a minha vida. Eu não sei como sobrevivi, mas não pensei nisso no momento. Eu só via uma coisa. Diferentes das pessoas, ou de muitas delas, eu não fiquei parado no lugar vendo aquilo acontecer. Eu nos salvei, mesmo não querendo me convencer disso.

Muitos dizem que, na hora de agir, saberão qual caminho seguir. Com a pressão em suas costas, com as pessoas gritando, e saberão agir quando o mundo estiver em perigo e você ser o único que pode salvá-lo. Mas não sabem. Nunca vão saber, pois estão presos em suas próprias vidas, com suas próprias famílias, com uma estrutura sólida imóvel que eles chamam de uma vida perfeita e feliz. Outros têm medo de sair dessa "Vida", pois ela é formada de escolhas. Suas escolhas. Essas escolhas não foram de nenhum de nós. Apenas sua.

- Adrien... - Murmurou uma voz distante, que me fez despertar. -... Graças a deus, você está bem? Quer que eu chame a enfermeira?

Ela estava em pânico, àquilo era plausível diante da minha situação física. Olhei em volta e não me surpreendi por só ter eu e ela naquela sala. Nenhum familiar, ou contato de fora. Poderia ser bem simples: Ou ela pediu para que não contatassem nossos responsáveis, ou simplesmente eles escolheram não gastar seu tempo precioso para vir atrás do filho que salvou a menina de cair de um prédio. Resolvi afastar esse pensamento. Não poderia culpa-los. As escolhas fazem parte de nós, o verdadeiro desafio é saber por qual optar.

- Eu estou bem. - Murmuro com a voz arrastada. Ela respira fundo, parece tentar se controlar para não vir correndo e me abraçar, ou talvez seja só coisa da minha cabeça. No final das contas, ela mudou um pouco desde a adolescência.

- Eu posso... - Murmurou. Seus olhos azuis estavam tomados pelas lágrimas, juntando-se em órbita.

- Pode. - Sorrio para ela.

A mesma corre até mim e envolve seus braços quentes em volta do meu corpo. Suas mãos pequenas e delicadas afagavam meu cabelo, sussurrando coisas como "Que bom que está bem" ou "Obrigada por salvar minha vida". Pelo menos o que pensei não era coisa da minha cabeça.

A verdade é que eu não fazia questão nenhuma de agradecimentos. Eu fiz porque quis fazer, porque a escolha foi minha. Não é algo que eu me arrependesse, ou que por um momento, me senti obrigado a fazer. Nunca.

- A quanto tempo estou aqui? - Murmurei brevemente, afagando seus cabelos soltos e bagunçados.

- Uma semana. Vai receber alta daqui a algumas horas, eles disseram que foi um milagre você não sofrer nada grave, quebrar alguma coisa... Eles tentaram achar algum dano físico, nada. - Ela respirou fundo. - Estou preocupada, você cair daquela altura e...

- Calma. Respire fundo. - Olhei para a mesma, que fez o que pedi. Acabei sorrindo diante do seu estado. - Obrigado por se preocupar comigo.

- O quê? - Ela riu. - Eu sempre me preocupei com você, Adrien. Às vezes até atoa.

- Hum, bom saber. - Ela corou de leve, e eu apenas continuei a sorrir.

Naquele mesmo dia, algumas horas mais tarde, consegui alta no hospital. Marinette me levou até o hotel onde estávamos hospedados e cuidou de mim, até o anoitecer.

Sentado na cama, com o computador em meu colo, continuei a pesquisa incansável que não levava a lugar nenhum. Precisávamos de uma solução, mesmo que provisória... Talvez essa solução desse em uma resposta concreta.

De relance, ao olhar para cima da mesinha de centro a minha frente, vi uma caixa estranhamente familiar. Preta, com um símbolo de uma pata em verde. Arregalei os olhos e projetei-me para frente de repente, agarrando a caixa e deixando o computador tombar para o lado. Olhei para os lados, certificando-me de que Marinette não estava no cômodo, e abri a caixinha. Vi uma sombra preta ganhar forma e o anel branco aparecer.

- Plagg? - Murmuro baixo, quase estático. Os olhos arregalados e assustados de minha parte.

Lembranças passavam em minha cabeça, uma por uma, como um filme em preto e branco. Meu mundo parecia estar se desfazendo em cinzas, tudo o que eu tive que me acostumar e passei a acreditar estavam se desfazendo com minhas crenças. Ou o que eu passei crer.

- Eu gostaria de um Camembert. - Murmurou o Kwami voador, esfregando os enormes olhos verdes.

- Plagg! - Arregalei os olhos.

- Adrien? - O Kwami arregalou os olhos, rapidamente voando até ele e aconchegando-se em seus braços. - Mas... Como?

- É impossível. - Murmuro a baixando o olhar e envolvendo-o em meus braços.

- Adrien? - Ouvi uma voz feminina vinda do banheiro.

Plagg afastou-se rapidamente e olhou para mim, como alguém que faz uma pergunta silenciosa: Quem é ela?

Respirei fundo e abri uma pequena brecha no lençol da cama, Plagg imediatamente entendeu e escondeu-se sob o tecido fino. Marinette afastou os cabelos escuros dos ombros, molhados, ao sair do banheiro. Estava com um pijama rosa, um pouco curto na altura das coxas.

- Desculpe perguntar, mas... Estava falando sozinho? - Perguntou ela, olhando-o de lado.

- Sim! Costumo fazer isso enquanto penso. - Coloco um sorriso meio amarelo no rosto e levanto-me da cama.

- Tudo bem. Vou acertar as coisas com a recepcionista... - Ela diz olhando-me de lado, anda até a porta e sai pela mesma, fechando-a.

Respiro fundo novamente e Plagg sai de baixo dos lençóis, olhando para mim como se pudesse ler minha mente.

- Marinette? - Murmurou e logo começou a rir. - Aquela menina que ficava toda estranha com você?

- Ela mudou Plagg. - Acabo rindo também. - Senti sua falta.

- E eu sinto falta de Camembert. - Resmungou deitando-se na enorme cama, entre os travesseiros. - Se lembra como se faz?

- O quê? - Murmuro confuso.

- Não tenho como explicar do porque estou aqui agora, ou dos detalhes, mas sei que a Espanha precisa da Ladybug e do Chat Noir. E urgente.

O anel brilhava na caixinha, como se me chamasse em um grito silencioso.

E eu estava pronto.

VOLTEEEEEEEEI, Tudo Boum?
Gente, tem tanta coisa acontecendo na minha vida agora que eu perco a linha de raciocínio fácil. Refiz esse capítulo umas cinco vezes, por isso, me desculpem.

Amo vocês,

~Lay.

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