Capítulo 02 - Adrien

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Não existe falta de tempo, existe falta de interesse. Por que quando a gente quer mesmo, a madrugada vira dia. Quarta-Feira vira Sábado e um momento vira oportunidade.
- Pedro Bial.

Naquela manhã, acordei com um peso nos ombros insuportável. Depois da morte do meu pai todas as coisas que herdei dele, incluindo sua empresa, acabou dando mais problemas que soluções. Eu não só tinha o sobrenome "Agreste" para sustentar nos ombros, como também tinha de suportar os meus problemas como modelo internacional masculino. Tanta coisa mudou desde que meu pai morreu... Nathalie, a antiga secretária do meu pai, pediu demissão logo após da morte de sua filha. Naquele dia tudo mudou.

Quando encarei o rosto do meu pai, pálido, deitado na maca de hospital e a enfermeira correndo para todos os lados possíveis enquanto o médico lutava para tirar um garoto de 18 anos da sala de cirurgia. Meu pai tinha câncer no pulmão e nunca dividiu essa informação comigo. Durante toda a minha infância e adolescência via ele esconder que estava doente diante dos meus olhos e nunca pude fazer nada. Só queria que ele tivesse aqui, não só para me ajudar como para me consolar. Sei que pode ser difícil de acreditar, porém eu amava meu pai acima de tudo. Mesmo com suas ignorâncias, seu jeito rígido, eu o admirava por ser tão forte e suportar as coisas mais difíceis.

Minha mãe desapareceu quando tinha 10 anos, sumiu da face da terra sem dar explicações e muito menos disse seu paradeiro. Tanto eu como meu pai acreditava que ela já estava morta. Meu pai sofreu muito com seu desaparecimento repentino, ela foi à única que amou meu pai verdadeiramente, que deu carinho e o fez feliz. Eu sinto falta dela. Ela honrava sua promessa, acreditava na bondade dentro das pessoas e sempre manteve um sorriso lindo no rosto, iluminando o caminho por onde passava.

Levantei da cama e segui para o banheiro, me encarei no espelho e tentei dar um jeito nos cabelos loiros rebeldes que cismavam de ficar em pé. Escovei os dentes e andei até a entrada da casa, pois em todas as manhãs busco cartas que são entregues junto aos jornais em frente da mesma.

Agacho-me e vejo uma carta com detalhes dourados, assim que a peguei fiz questão de abri-la para matar a minha curiosidade.

- "Convidamos você para a festa de formatura de Marinette Dupain-Cheng nesse final de semana, dia 17/02. Seu comparecimento já é um presente para nós! Próximo a antiga mansão Agreste. Iremos agradecer seu comparecimento,
Marinette e a família Dupain-Cheng." - Li em voz alta, lentamente.

Admito que fiquei surpreso de ter sido convidado para uma festa de formatura de uma pessoa que não vejo a quase cinco anos. Balancei a cabeça, sorrindo. Levantei-me e acabei esquecendo as outras cartas na porta da frente.

Liguei para a empresa e fiz questão de desmarcar todos os compromissos para aquela noite inclusive a cessão de fotos planejada para aquela tarde. Troquei de roupa e segui para o quarto, sentei na cama e peguei o computador, digitei os diversos tipos de nomes de faculdades que tinham a opção "Designer de moda", a busca não foi muito grande. O anúncio principal era de uma faculdade aqui em Paris, a única que tinha estudos para essa área. Entrei no site e busquei o nome dos formandos desse ano.

"Marinette Dupain-Cheng - Formada em Designer de Moda na décima colocação dos melhores da turma".

Por um momento fiquei encarando a tela do computador, organizando minhas lembranças que tinha sobre Marinette. Fazia tanto tempo, quase não lembrava mais. Não só sobre ela, mas como todos da turma. Não sabia que a maioria manteve contato. Sinto-me arrependido de não ter mantido contato com Nino durante esses anos. Ele foi um grande amigo pra mim, me ajudou nos momentos que mais precisei além de sempre me fazer sorrir quando estava nervoso. Ele e Ladybug...

Balanço a cabeça.

Isso são coisas do passado.

Não deveriam me afetar tanto.

Fecho o computador com força e deito na cama, encarando o teto enquanto passo as mãos pelos cabelos.

Durante a adolescência eu tinha uma queda pela Ladybug... Na verdade o Chat Noir tinha. Ou ainda tenho, eu não sei. Plagg me deu poucas informações sobre seu paradeiro, porém preciso manter sigilo desse segredo. A próxima geração ainda não foi ativada e eles estão adormecidos, provavelmente. É isso que meu antigo Kwami me informou. Só que uma parte de mim ainda não esqueceu a Ladybug. E mesmo depois de quase dois anos como Chat Noir, não descobri sua verdadeira identidade.

Não podemos ficar presos numa coisa por muito tempo. Ladybug me prendeu durante três anos.

Agora esquecê-la se tornou um objetivo. Até hoje resquícios de memórias, flashes, disparam em minha mente.

Naquela época eu cheguei a olhar Marinette de outro jeito. Com suas marias-chiquinhas, seu jeito fofo de ficar corada, de se embolar e principalmente seu sorriso. Conheci Marinette quando tínhamos 9 anos e ela sempre teve esse jeitinho meigo. Porém, fechei meus olhos para o mundo no dia em que Ladybug chegou a minha vida. Sentia-me horrível por ter conhecido-a no modo extrovertido e animado de Chat Noir, o meu verdadeiro eu, e não com minha verdadeira aparência. Tinha certa liberdade com a máscara, porém era bastante limitada. Ladybug me limitava. Impedia-me de voar para longe em direção aos seus sorrisos, seu jeito de proteger as pessoas e de como ela era segura em si. Já salvou Paris mais vezes que eu poderia contar, e sem a minha ajuda. Sempre.

Todos os dias eu olhava para a janela e pensava quem era a Ladybug e se um dia eu seria realmente útil para uma pessoa tão incrível como ela.

Nunca fui correspondido.

Não existia final feliz.

Nunca existiu entre nós dois, ela deixava bem claro, todos os dias, quando capturava o Akuma ou quando eu lançava um de meus trocadilhos só para vê-la revirar os olhos.

- Senhor Adrien? - Ouvi a batida na porta e com um breve movimento de cabeça a porta se escancarou, revelando Matilda, minha atual empregada. - Seu terno já está passado, pronto para esta noite.

Quando pisquei os olhos, a tarde inteira já havia passado. Balancei a cabeça levemente.

- Obrigada. - Sussurro e me levanto, indo na direção do banheiro.

Precisava tomar um banho.

Após tomar o banho, ajeito os cabelos loiros rebeldes e coloco o terno preto e uma gravada azul, nunca fui bom para escolher as roupas que iria vestir. Sempre fui indeciso e principalmente, não tenho talento para a moda como meu pai tinha.

Coloquei os últimos apetrechos e desço na direção da cozinha, pego a chave do carro e sigo até a garagem.

Talvez eu esteja preparado para essa noite, ou talvez não.

Entro no carro e coloco o cinto partindo em direção ao lado Norte de Paris.

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