Capítulo 03 - Marinette

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Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor.
- Madre Teresa de Calcutá.

Coloquei uma das mechas atrás da orelha e ergui os olhos, passando a mão na franja ajeitando-a.

- A-Adrien... Pensei que não viria. - Digo, porém me condeno mentalmente por ter gaguejado.

- Ah sim, queria saber como você está. - Diz e coloca a mão na nuca, sorrindo. - Antes da morte do meu pai eu até cheguei a procurar vocês em algumas redes sociais, porém acabei esquecendo com o passar... Do tempo.

- Tudo bem, entendo. Sinto muito pelo seu pai, pode ser atrasado, mas... Fiquei arrasada quando soube que ele tinha morrido. Eu o admirava tanto. - Sussurro, voltando ao passado por alguns segundos.

Enrolo a ponta dos cabelos entre os dedos, balançando o corpo de leve enquanto olhava em direção a porta de entrada. Nunca desejei tanto que alguém saísse e atrapalhasse um momento meu com Adrien. Estávamos sem assunto.

Ouvi "A Thousand Years" começar a tocar distante e acabei sorrindo. Essa música me lembrava da minha adolescência, quando salvava Paris como Ladybug e trazia novamente a Paz.

- Quer dançar? - Perguntou e quando me virei, ele estava sorrindo com a mão estendida na minha direção.

- Ah... Eu não acho uma boa ideia. - Sussurro e me viro novamente, andando até a entrada. - A-Ah... Pode me esperar aqui? Um minuto.

Entro na casa e fecho a porta atrás de mim. Fecho os olhos e passo a mão no rosto, respiro fundo e sigo pela casa procurando minha melhor amiga. Afasto as pessoas, passando entre elas, até encontrar as escadas que dariam para o andar de cima.

- Graças a deus. - Sussurro, sentindo-me menos pressionada em relação às coisas que estavam acontecendo.

Subi as escadas e andei pelo corredor, os saltos ecoando pelos cômodos que eu passava. Me virei no último quarto do corredor no lado direito e tranquei a porta após entrar, meu cantinho ainda estava com perfume de lavanda.

O quarto era branco com detalhes rosa, uma enorme cama no centro, algumas mobílias como cômodas, criado-mudo e uma penteadeira. Fora as estantes de livros que ocupavam uma das paredes.

Sentei no parapeito da pequena janela e olhei para baixo, na direção da entrada, e vi Adrien andando de um lado para o outro olhando no relógio.

Ele estava esperando eu voltar?

Ele se preocupava se eu iria realmente voltar?

Ele estava esperando alguém?

Balanço a cabeça, sem querer esbarro na janela e acabo fazendo um barulho alto, chocando minha testa contra o vidro. Coloco a mão na cabeça e solto um gemido de dor.

Após olhar para baixo novamente, Adrien não estava lá.
Sinto muito Adrien, porém... Não sei se estou pronta totalmente para encarar meu passado, e você é uma peça importante desse quebra cabeça. Do quebra cabeça da minha vida, da minha adolescência. Minha primeira paixão.

Meus pensamentos são interrompidos por uma batida na porta, viro a cabeça e levanto do parapeito da janela. Passo a mão no vestido e me vejo no espelho reforçando o brilho labial, suspiro e abro a porta.

- Amor... Você está linda! - Diz Nathanaël, me roubando um beijo.

Sorrio fraco, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- Tudo bem, amor? - Diz e pega minha mão, entrelaçando nossos dedos. - Seus cabelos ficam lindos de qualquer jeito.

Sorrio mais uma vez. Nathanaël sempre foi fofo comigo, desde a adolescência. A história de nós dois é a base de sorte e destino, se é que acredito nessas coisas.

Durante o Ensino Médio Nathanaël trabalhou na biblioteca da escola organizando livros e acumulando pontos para o final do ano, acabou que parou de desenhar durante o último ano do ensino médio por estar bastante ocupado. Às vezes ele me ajudava a achar alguns livros para pesquisas e trabalhos e outras me oferecia um café e ombro amigo quando estava mal. Ele era um verdadeiro amigo pra mim. Me entendia como ninguém. Nossos pais com o tempo se tornaram amigos e ele pode ir à minha casa para fazermos um trabalho ou outro. Era algo divertido ficar ao lado dele. E principalmente por que ele sabia dos meus sentimentos por Adrien na adolescência por isso foi com certo carinho que ele conseguiu se aproximar de mim. Ele me ajudou quando Adrien me decepcionava e me colocava para cima quando Adrien fazia o oposto. Ele era minha energia nos dias difíceis, e eu simplesmente não consegui com o passar do tempo ficar longe dele.

Os cabelos ruivos em mechas médias escorriam como água pelo rosto, as vezes quando ele andava as mesmas atrapalhavam sua visão. Seus olhos eram verdes, um verde brilhante, que as vezes em contato com a luz se misturava com o azul dos mares, a cor de seus olhos prendia minha atenção por longos segundos. Até hoje me sinto um pouco distraída. E Nathanaël nunca parou de desenhar, porém parou de fazê-los para mim. Diz que não tem tempo. Os traços são tão bem feitos... Eu acho incrível.

- Vou receber os convidados, amor. Nos vemos depois, ok? Amo você. - Após roubar mais um beijo, desceu as escadas me deixando sozinha ali com o brilho labial borrado.

Voltei para dentro do quarto e retoquei a maquiagem, desci as escadas e fui à direção do jardim dos fundos. Provavelmente ninguém estaria lá, todos estariam entretidos com a festa e nem perceberiam uma pequena porta de madeira no corredor exterior da casa, seguido do jardim na frente da mesma.

Passei pelo meio das pessoas, e como nunca me destaquei tanto entre elas, conseguiu passar facilmente despercebida. Entrei pelo pequeno portão e vi uma sombra por entre as árvores.

- Quem está aí? - Perguntei, colocando as mãos na cintura.

- Sou eu Marinette. - Disse Adrien, saindo do meio das árvores.

Só agora que percebi que o terno que estava usando o caía muito bem. Parecia formal de um jeito... Natural e extrovertido.

- Ah, é você. Que susto.

- Pensou que fosse o que? Um dinossauro?

- Aqui nesse quintal tudo é possível, se eu fosse você não saía duvidando de tudo por aí. - Digo e acabo rindo.

- Se tudo é possível, você acha que dançar comigo está nessa lista? - Mordi o lábio e desviei o olhar.

- Não tem nem música. - Sussurro, tentando inventar uma desculpa qualquer.

- Isso não é o mais importante. - Diz e pega minha mão, puxando-me para si.

O cheiro de lavanda e grama recém-molhada era uma das coisas que me prendia em Adrien Agreste.

Segurando sua mão, a outra se direcionou para seu pescoço e repousou ali, calmamente. Enquanto sua outra mão repousava em minha cintura. Seu toque me deu arrepios, parecia que estava nu, o tecido tão fino, pude sentir o calor emanando de sua mão.

- Você dança bem. - Comentou, sorrindo enquanto me guiava pelo jardim, às vezes me girando para longe, porém não por muito tempo, logo ele me puxava para si novamente.

- Obrigada! Aprendi com minha mãe. - Disse e sorrio, minhas bochechas ficaram levemente avermelhadas.

Nossos minutos se tornaram horas, dançando, sincronizando com a música, a sincronia entre os corpos juntos, como um só.

Ele arrancava sorrisos de mim tão fácil...

Era inevitável.

Até ouvir o ranger de uma pequena porta ecoar pelo local, imediatamente me virei e encarei a pessoa que acabara de abrir o portão.

- Adrien? Marinette? - Perguntou Nathanaël, atônito.

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