APOSTA|Capitulo 2

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Esse era o nome da mulher capaz de abandonar o seu próprio filho em um lixão somente porque ela não tinha condições financeiras para criá-lo. Eu jamais poderia entender pessoas como Sarah. Não existe uma desculpa boa o suficiente para que seja capaz de justificar esses tipos de atos. Aquela criança tinha uma vida, independentemente de sua idade ou consciência mental. Nenhum ser humano tem o direito de pôr em risco a vida de outro para o bem próprio. Isso foge de qualquer padrão legal ou social.

Eu reli aquele caso diversas vezes enquanto bebia o meu café e esperava o taxista estacionar diante do prédio que abrigava o Fórum da Justiça do Rio de Janeiro. Sarah afirmou passar por alguns problemas psicológicos e estimulada pelas pilhas de dívidas que só pareciam aumentar em sua casa ela não conseguiu impedir o ato impulsivo. Aquela mulher não tinha como escapar. Nenhum advogado poderia convencer um juiz a libertá-la de sua pena e os promotores estariam ao meu lado, era raro um deles não concordar comigo.

Ao sair do elevador e adentrar no fórum fui cumprimentada pela animação e agitação dos funcionários locais. Pessoas se aglomeravam em filas de diferentes setores esperando os seus respectivos atendimentos. Alguns colegas meus corriam de salas a outras carregando pilhas de papéis nos braços. Policiais conduziam prisioneiros algemados para a sala de espera principal. Um deles, de pele morena e olhos escuros, sorriu ao passar por mim com um garoto preso entre suas mãos:

-Bom dia, Vossa excelência. Como estamos esta amanhã?

-Estamos ocupados, Matheus, ocupados e apressados. Acho bom você está de bom humor hoje porque o dia não será fácil. -Murmurei de volta erguendo as sobrancelhas em falso tom de seriedade.

-Ah, pode deixar, excelentíssima.

Rimos um para o outro enquanto seguíamos em direções opostas. Nenhum policial ou funcionário do fórum me chamava de "Vossa Excelência" fora de um tribunal. Mas Matheus era bem mais do que um servidor de segurança pública. Ele era um dos poucos amigos que mantive após certos acontecimentos de minha vida terem me transformado em outra pessoa. Além disso, Matt era noivo de Gabriela, passávamos praticamente todos os dias juntos, seja resolvendo problemas profissionais ou apenas fazendo algo para nos divertir. Acho que ele era o único homem no qual eu confiava plenamente nos dias atuais.

Mantive os meus passos confiantes até o meu gabinete, passando por Jack, Tânia, Lilian e Júlia, quatro das novas estagiárias do fórum. Elas riam e sussurravam palavras indistinguíveis à distância.

-Bom dia, garotas.

-Er... Bom... Bom Dia, senhorita Bittencourt. -Júlia, a mais tímida do grupo, gaguejou nervosa se atrapalhando com a papelada em sua mão.

Ergui a sobrancelha direita em sinal de questionamento.

-O que estão aprontando, meninas?

Elas hesitaram por um momento e trocaram olhares como se perguntassem uma a outra se poderiam confiar em mim para contar o segredo mais importante do mundo.

-Tá, tudo bem. É que um promotor foi transferido para cá essa quarta e, ah, meu Deus, ele é ma-ra-vi-lho-so! -Responde Tânia sendo acompanhada pelas outras ao abanar o corpo.

Tão bonitas mas tão bobinhas.

Revirei os olhos, inconformada com o comportamento daquelas garotas. Algumas delas, apesar de serem jovens, já até participaram de algumas das reuniões da * e esse tipo de atitude simplesmente envergonhava toda as mulheres no mundo que se valorizavam.

-Muito bem, meninas, o que foi que conversamos sobre autovalorização semana passada? -Comecei meu discurso me sentindo um mãe cansada de dar os mesmos sermões para as filhas imaturas. E ainda nem vieram os netos!

Lilian, a mais velha do grupo e a que me conhecia mais tempo, se aproximou de mim com os olhos brilhando de empolgação e os lábios se movendo tão rápido quanto possível:

-Ai, Kat, eu sei... Mas é que... Se você o conhecesse... ele é tão... Uau.

-É sério? Isso é tudo o que você tem a dizer sobre ele? "Uau"? -Rebati irônica a fazendo formar uma carranca no rosto.

-Você fala isso porque ainda não o conheceu, mas eu aposto que quando o fizer... -Começou ela, mas logo foi interrompida por mim.

-Eu continuaria sendo a mesma mulher madura, determinada, linda e confiante que não precisa de um senhor "Uau" para alcançar os objetivos.

-Ah, vamos lá, Katrina! -Pronunciou-se Jack sorrindo de lado. -Admita que nem mesmo você poderia resistir aos encantos de todos os homens do mundo, muito menos um homem como o Dr. Henrique.

-E é aí que você se engana, minha cara amiga. Qualquer mulher pode resistir a todos os homens do mundo, basta ter determinação e foco.

-Prove, então.

-Claro, basta me dizer como. -Respondi sorrindo debochada.

-Muito bem, se em um mês você não se apaixonar ou se envolver com o Dr.Henrique, nós entramos no seu grupo de apoio. -Lilian explicou provocando risos nas outras garotas. Elas realmente achavam que eu não era capaz de fazer isso.

-Tudo bem, e o que acontece se eu perder?

-Você terá que admitir para as mulheres do grupo que nem todos os homens do mundo são sinônimos de problemas.

Ri irônica e joguei o meu cabelo para o lado provocadoramente:

-Feito. Mas parece que terei que preparar as meninas para receberem novas participantes daqui a um mês.

-Se eu fosse você não ficaria tão confiante, Kat. Muita coisa pode acontecer em um mês. -Alertou Júlia franzindo a festa preocupada.

-Besteira! Onde está o indivíduo que terei que suportar nos próximos 30 dias?

As quatro desviaram a sua atenção até o outro lado do fórum onde uma rodinha de funcionários se formava. Eles sorriam e conversavam sobre alguma coisa e as mulheres ali pareciam afoitas demais para um dia normal no trabalho.

Caminhei até lá confiante, o barulho do meu salto ecoando pelo local e forçando a todos ergueram os olhos para mim. As pessoas logo começaram a abrir caminho até ao meu alvo do mês.

A primeira coisa que percebi quando me aproximei o suficiente daquele homem foi que ele tinha olhos intensos. Eles eram desafiadores e atraentes e combinavam perfeitamente com o sorriso charmoso que ele exibia.

Eu não sei se foi a falta de sexo ou a ansiedade em vencer aquela aposta boba, mas, de repente, cada passo parecia causar arrepios por todo o meu corpo. Meu Deus... Aquele homem era quente!

Agora eu entendo as garotas, elas nunca seriam tão fortes quanto eu para aguentar uma tentação como aquela.

O novo promotor exibia um porte elegante e educado, mas o seu rosto demonstrava certa timidez em relação ao tumulto ao seu redor. Revirei os olhos indignada.

Aquele idiota estava sabendo muito bem como conquistar o pessoal do fórum exibindo esse jeitinho fofo e sexy!

Mesmo assim não perdi a confiança. Cumprimentei cada um dos rostos que notavam a minha presença até que só restava o dele. Quando finalmente se virou para mim, teve a audácia de sorrir largamente parecendo feliz em me conhecer:

-Olá. -A sua voz grave invadiu os meus tímpanos e fez minhas pernas tremeram por alguns segundos enquanto ele estendia a mão em minha direção.

Encarei a sua mão, o seu rosto e mantive um sorriso irônico em meus lábios até ele abaixá-la com uma expressão confusa de dar pena.

Meu Deus, como o filho da mãe era charmoso!

-Eu sou...

-Vá para o auditório em cinco minutos. -O interrompi com a voz serena e tranquila parecendo mais fatal do que nunca.

Esse era o segredo para enfrentar os seus inimigos. Mate-os com gentileza. Caminhei até a porta de vidro que levava até a minha sala sentindo o seu olhar confuso sobre mim.

Eu não iria perder essa aposta. De jeito nenhum.

Treinada para não Amar_ Katrina[CONCLUÍDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora