Sonho nada comum.

7 3 0
                                    

       Estava eu a caminhar tranquilamente por uma rua aparentemente deserta, era a tarde de um bonito sábado, início de primavera. Não havia ninguém naquela rua, as casas estavam todas fechadas, em algumas garagens havia montantes enormes de papéis, panfletos promocionais e envelopes de cobranças.
      A maioria das casas daquela estranha rua estavam assim, com a aparecia de abandono, fiquei pensativo, imaginando se era possíve uma coisa daquelas, uma rua inteira de casas abandonadas, um cenário digno de um filme de terror. Onde estariam os moradores daquelas casas? A maioria das casas eram grandes, com garagens espaçosas para no mínimo dois carros, onde, por Deus, onde estariam essas pessoas?
        Continuei a caminhar tranquilamente, com meus pensamentos ainda distantes, cabisbaixo eu contava os passos, as mãos enfiadas nos bolsos largos da calça jeans, um  pouco mais a frente a rua terminou, ela dava de frente com uma pequena praça, árvores grandes espalhadas ao seu entorno, bancos antigos todos em concreto, alguns estavam quebrados e outros estavam sujos.
      Não havia ninguém na praça naquele momento, eu estranhei a falta de pessoas na praça, ainda a pouco eu havia saído de uma rua completamente deserta e agora estava em uma praça igualmente deserta, isso causou-me estranheza, onde estariam os moradores daquele lugar, talvez fosse uma simples coincidência, mas o fato chamou a minha atenção, porém, continuei a caminhar pela praça. Quase ao final dela havia uma rua estreita bem a minha esquerda, a rua também estava sem nenhum movimento, as casa pareciam abandonadas, semelhante a rua anterior a praça, essa rua tinha as mesmas características da anterior, nenhuma alma viva, as garagens das casas estavam cheias de lixo, um amontoado de papéis espalhado pela calçada, essa rua estava bem pior do que a primeira.
       Por um minuto parei de caminhar, a curiosidade foi de tal modo que não me contive, bati palmas em uma das casas, uma vez, duas vezes, três vezes, por fim desisti de chamar, continuei a caminhar, dessa vez um pouco mais rápido, um pouco mais atento, algo ali estava errado, muito errado, aquele bairro todo parecia ter sido abandonado, era o típico cenário apocalíptico.
           Continuei a caminhar, e a caminhar, e a caminhar até chegar ao centro da cidade, lojas, supermercados, tudo estava vazio, em completo silêncio, medonho silêncio, que aterroriza a alma, fazendo o coração estremecer no peito, naquele momento eu já havia me convencido que aquele era um cenário apocalíptico, uma cidade desconhecida, sem nome, sem moradores, sem alma; apenas o som do vento podia ser ouvido, apenas isso é nada mais, e tudo era silêncio.
      Uma cidade sem pessoas, sem vida, casas e carros em silêncio, nada se move, nada tem sentido, dinheiro e ouro e prata, nada tem sentido, o que aconteceu com o mundo, com as pessoas, não houve guerras, não houve lutas, não houve ataques, apenas o nada, o silêncio que voa da aurora a alvorada, talvez seja a morte criada pelo próprio homem, criada em laboratórios, criada em silêncio para por fim a existência da própria espécie.
       Continuei a caminhar, só que agora, quase a ponto de correr, quando de repente, avistei carros de guerra, tanques, metralhadoras, um montante de armamentos que não tinha fim, agora eu tinha certeza que aquele era um cenário apocalíptico, uma terrível guerra certamente aconteceu, porém, algo não se encaixava na cena, não havia soldados ali, nem vivos e nem mortos, ninguém, tudo era silêncio, meu medo cresceu absurdamente, eu era o único ser vivo naquele lugar, eu tinha tudo, carros, comida, casas, prédios, eu tinha tudo, mas na verdade eu não tinha nada. Foi quando eu despertei, era tudo um sonho, um pesadelo aterrorizante e terrível, despertei com o coração acelerado, pernas trêmulas, assustado, o restante da noite fiquei acordado, refletindo sobre aquele terrível sonho e a possibilidade de estarmos mais próximos dele, a possibilidade de criarmos o nosso próprio Apocalipse.

RETALHOS DA MEMÓRIA. Where stories live. Discover now