MEU PÉ DE JAMBO.

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        Eu fui criado em uma fazenda, e já fiz menção dela em outras crônicas, mas hoje quero falar de algo em específico, que com toda certeza  marcou a minha infância e a de meus irmãos também. Na casa onde morávamos, na então fazenda da lindoya, tinhamos um quintal enorme, e nele havia diversos pés de frutas distribuídos por toda sua extensão. Para ser mais específico, tinhamos pitanga, abacate, goiabada, ameixa, fruta do conde, muitas bananeiras, e o meu preferido, jambo, essa era a árvore mais frondosa do quintal e com os frutos mais doces de que eu tenho lembrança, admirado por mim, por meus irmãos e os tucanos, isso mesmo, tucanos, belíssimas aves que vez ou outra visitava o pé de jambo, recordo como se fosse hoje, das  vivas cores no bico alongado.
         O jambo tem características únicas e especiais, ela é uma planta árvore que pode atingir até 15 m de altura. Copa de forma cônica, densa com ramificação abundante. Folhas de coloração verde-brilhante. Flores grandes, aromáticas, que podem variar de brancas a róseo-purpúreas de acordo com a espécie. Fruto Forma ovóide de coloração branca, verde, rósea, amarela e vermelho-escura, com polpa suculenta, de cor branca, envolvendo sementes globosas. Cultivo Não suporta geadas e desenvolve-se em qualquer tipo de solo, desde que permeáveis e profundos. É cultivado em quase todo Brasil, em regiões de clima quente e úmido. A propagação se dá por sementes. Pode produzir por mais de 20 anos. Frutifica de janeiro a maio. Não sei quem a plantou em nosso quintal, mas era de fato a mais bela árvore de todas ali.
           Lembro-me que logo de manhã, eu era o primeiro a correr até o pé de jambo, subir entre seus galhos até o ponto mais alto, a vista que eu tinha lá de cima era maravilhosa, sentir o vento fresco da manhã, ver os pássaros se aproximarem, que sensação boa, impossível de esquecer. Lembro-me que eu me apoiava em dois pequenos galhos, os dois últimos galhos mais altos, neles que eu me equilibrava deixando metade do corpo para fora das folhas no cume da árvore -- Eu não tinha a mínima noção do perigo que estava correndo, cair de uma altura daquelas seria fatal -- Mas, o bom Deus, enviava os seus anjos para cuidar do pequeno travesso que eu era, não só eu, meus irmãos também subiam entre os galhos escorregadios do pé de jambo, mas não se arriscavam como eu me arriscava, e, evitavam os galhos mais finos, coisa que eu não fazia.
              Certo dia, depois que cheguei da escola, inventei que pularia de cima de um dos galhos do pé de jambo com um guarda chuva -- maluquice de criança -- na minha cabeça o quarta chuva amenizaria a minha queda; só na minha cabeça mesmo. Isso era o resultado de filmes e desenhos animados, que burrice a minha, foi a pior coisa que eu fiz. Lá estava eu, a uns cinco metros do chão, em um galho onde o espaço por baixo era queda livre até o chão de folhas secas, abri o meu velho guarda chuva preto, respirei fundo, contei até dez, e me atirei de olhos fechados, o resultado não poderia ser outro, foi uma queda seca, rápida, bunda magrela no chão e uma dor tremenda, o bom Deus mais uma vez havia enviado seus anjos, eu não quebrei nada, mas fiquei com a bunda dolorida por um bom tempo, ninguém ficou sabendo disso.
         Houve um outro episódio interessante, quando resolvi que faria minha casa da árvore no pé de jambo. Primeiro fiz um rascunho bem tosco no papel de como seria minha casa, o segundo passo foi ajuntar as madeiras necessárias para construção, depois pregos e martelo, bom, até ai tudo bem, tudo muito fácil, mas, a última etapa seria a construção em si, e essa demandaria ajuda, como eu não queria que ninguém soubesse, para fazer uma surpresa a todos e mostra-los do que eu era capaz, fui fazendo tudo sozinho, em uma mirabolante manobra, de subir e descer, inúmeras vezes, amarrar tabuas em cordas, subir com elas amarradas nos pés, e depois puxar e pregar cada uma nos galhos, foi um tremendo trabalho, levei a tarde toda, meus braços pareciam que iam cair de tanto cansaço, foram muitos os incidentes, pregos que caíram e se perderam, martelo, madeira, tudo caiu, enfim, foi um sobe e desce de enlouquecer, mas no fim consegui, não a casa que eu desenhei, mas algumas tabuas meio tortas, aquilo me serviu como casa, e deixou-me  muito realizado com meu feito e orgulhoso de mim mesmo, tenho saudades daquele tempo e daquele pé de jambo, eu tenho certeza que ele ainda resiste ao tempo. Talvez eu nunca mais o veja, mas certo é, que a imagem daquele frondoso pé de jambo nunca mais sairá do meu coração, um tempo de uma inocência gostosa que não se vê mais nos tempos de hoje. Sem dizer que ainda não encontrei um fruto tão doce quanto o  jambo, que o digam os tucanos.

RETALHOS DA MEMÓRIA. Where stories live. Discover now