TERRA VERMELHA.

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       A terra era vermelha, eu me lembro bem daquela terra vermelha, do morro que ficava atrás da escola, o ano eu não me recordo bem, talvez fosse no final da década de oitenta. O nome da escola, se não me falha a memória, era " EE. Doutor João Belo Lisboa "
      A escola era pequena, escola rural, ia até a quarta série do ensino fundamental, havia apenas duas grandes classes nessa escola, na primeira sala de aula havia duas turmas, metade da sala era da primeira série, a outra metade da segunda série, na segunda sala, do mesmo modo dividia-se em duas, metade para a terceira série e a outra metade para a quarta série. Em cada sala havia duas professoras. Imaginem a confusão de informações na cabeça das crianças.
        Lembro-me que nós os meninos, não víamos a hora de chegar o momento do intervalo, era o sinal tocar e corríamos para a fila da merenda, era assim que chamávamos o delicioso alimento servido na hora do recreio, merenda, e a merendeira era a responsável por fazer os mais saborosos pratos de que tenho memória, o meu preferido era arroz com salsichas, a merendeira era muito conhecida por todos os alunos, uma senhora adorável. Mas o principal atrativo em nosso intervalo era brincar no morro de terra vermelha, enquanto as meninas brincavam de amarelinha e outras coisas, nós  subíamos o morro de terra vermelha e descíamos escorregando em um pequeno pedaço de papelão, que, na maioria das vezes rasgava todo, e o resultado final era um monte de meninos com terra vermelha dos pés à cabeça, a professora ficava maluquinha com toda aquela sujeira.
        Certa vez, em uma dessas aventuras morro abaixo, um dos meninos escorregou para o lado na metade do morro, descendo por fora da trilha de terra, o resultado foi bem desagradável, o mato ao lado da trilha era formado basicamente por capim, que é por característica própria muito escorregadio, mas se fosse só o capim tudo bem, no meio do caminho havia uma enorme caixa de marimbondos, meu amigo literalmente passou por cima deles, destruindo a casa dos marimbondos  deixando-os enfurecidos, imaginem os senhores, a   cena, um monte de crianças correndo a toda velocidade sem rumo, sem direção, gritando feito loucos: " Marimbondos, corre, gente, corre, é marimbondos." Era meninos e meninas correndo sala de aula adentro, numa algazarra terrível, depois de passado o susto, era só risadas, por sorte ninguém naquele dia saiu mordido.
         A escola era humilde, porém, muito bem cuidada, limpa, pintada, carteiras e cadeiras em perfeitas condições, éramos crianças com muita disposição e energia, e bagunças fazia parte do nosso dia a dia, mas as nossas brincadeiras eram simples, inocentes, brincadeiras que não agredia, nem física e nem a moral de ninguém,  éramos felizes, e tinhamos as melhores amizades. Lembro-me que na hora do intervalo, sempre cantávamos o hino nacional,  ficávamos enfileirados, mãos no peito, nossa exuberante  bandeira tremulando ao vento, ao som das nossas potentes vozes, cantávamos com o coração e com a alma, aquele foi um tempo maravilhoso, de boas recordações, principalmente o morro de terra vermelha, quanta saudade, ainda hoje, quando me lembro dele dou risadas sozinho, a caixa de marimbondos marcou aquele dia, amigos leitores, aquele foi um dos dias em que eu mais dei risadas.
       A vida passa rápido meus amigos, o que fica são as boas recordações, os bons momentos, de coisas ruins já estamos cheios, o mundo já está cheio do que não presta, as pessoas estão cada vez mais maldosas, a incredulidade do ser humano no próprio ser humano cresce como erva daninha, estamos em um novo tempo, com uma nova dinâmica, ao meu ver muito agressiva, muito competitiva, e não estamos vivendo, pelo contrário, sobrevivemos no caus dessa nova era.      As vezes recorro-me as lembranças, as vezes me perco nessas lembranças, e o meu desejo é de nunca mais voltar das profundezas dos meus pensamentos, como eu gostaria de viver novamente aqueles doces momentos, ter um morro de terra vermelha para brincar, uma escola onde se ensinava muito mais do que ler e escrever, ensinava-se a busca da felicidade na simplicidade da vida.

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