ROTINA PARTE 2.

8 3 0
                                    

      Após uma hora de ônibus do meu bairro até a cidade vizinha onde trabalho, finalmente chego ao meu destino, são seis horas e trinta e quatro minutos de uma manhã gelada, chegamos dentro do horário previsto, a tempo de tomar o café no restaurante da empresa, desço do ônibus um pouco sonolento, geralmente eu fico acordado apenas os vinte primeiros minutos da viagem, tempo esse dedicado para rascunhar minhas crônicas, feito isso, coloco o fone do celular nos ouvidos, escolho uma seleção de músicas agradáveis, e minutos depois adormeço, parece insignificante quarenta minutos de sono dentro de um ônibus, mas para quem está acostumado a dormir em ônibus enquanto vai para o trabalho ou retorna dele, sabe bem o que estou dizendo, e o quanto é prazeroso esses minutos de sono, é sem dúvidas, o melhor sono das nossas vidas.
           O restaurante da empresa está lotado, vários ônibus chegam ao mesmo tempo, um turbilhão de pessoas adentrando apressadas em fazer o desjejum, semblantes de sono, alguns parecem irritados; é apenas o início da semana, faces carrancudas passam por mim, é o reflexo de uma noite mal dormida, ou talvez o resultado de uma extravagância pela madrugada, enfim, trabalhadores enfileirados para pegarem o seu pãozinho quente, no restaurante da empresa o funcionário tem direito a dois pães, ou, um pão e uma fruta, geralmente eu pego um pão e uma fruta, tem outras opções como Danone com granola e misto quente, mas para essas opções você tem que pagar um valor a parte, são poucos que a utilizam. Com o meu pão e minha fruta em mãos procuro um canto para me sentar, geralmente prefiro um lugar mais próximo da saída e de preferência perto da máquina de café, me sirvo de um caprichado copo desse maravilhoso líquido escuro, aprecio sossegadamente a degustação do meu pãozinho e o meu café quentinho.
           Mesas enfileiradas no amplo espaço do restaurante, todas juntinhas, essa imagem me fez lembrar da escola, ao meu lado sentou um senhor, não o conheço, junto com ele o amigo, ambos dialogam a respeito da partida de futebol da noite anterior, lamentos e xingamentos. Um pouco mais a frente sentou-se dois amigos meus, nem perceberam a minha presença, talvez seja o sono, mas não me importo com isso, prefiro mesmo o silêncio, a solidão no meio da multidão, é um costume estranho eu sei, mas prefiro assim, é claro que, se houver um amigo ou uma companhia com quem eu possa conversar é muito bem vinda. O tempo do café passa rápido, algo não mais que dez minutos, tempo suficiente para observar as pessoas que entram e saem do restaurante, essa é a minha rotina de todos os dias, de todas as semanas, de todos esses anos. Lentamente saio do restaurante em direção a portaria da fábrica, seguindo silencioso a multidão apressada.
             O retorno ao trabalho após seis meses de afastamento pelo INSS não está sendo fácil para mim, a readaptação as novas funções é um desafio, uma rotina totalmente diferente da que eu estava acostumado, há muitos colegas novos, novas contratações do setor, um novo sistema de trabalho foi implantado, sinto dificuldades para me adaptar a essa nova gestão, minhas novas funções são tranquilas de fazerem no que desrespeito à esforço físico, o único porém, é a distância que tenho que andar todos os dias, mas isso não é um grande problema, minha coluna ainda dói, mesmo depois da cirurgia, estou tentando algumas estratégias para que eu não sinta tantas dificuldades para trabalhar, mas eu tenho ciência que esse começo será lento, a readaptação é um processo demorado, eu sei que é preciso ter paciência, que é preciso insistência para uma recuperação ideal, na vida tudo o que vamos fazer é desse modo, dosado de certos desafios, onde precisamos de ter determinação para conseguirmos vencer os  obstáculos do dia a dia.
            Alguns minutos depois e já estou no meu setor de trabalho, sou o primeiro a chegar, vou direto para a sala de reuniões, local onde fazemos o nosso diálogo diário de segurança com um tema previamente escolhido e debatido por um de nós, somos em um total de vinte e uma pessoas no horário administrativo, cada um tem a sua função definida, algumas funçõe exigem mais de três pessoas, a única função solitária é a minha, mas no momento não está sendo, enquanto eu estiver em fase de readaptação vou estar sempre acompanhado de alguém, até por questões de      segurança. Esse é apenas mais um dia, há uma longa jornada pela frente, o turno só termina as dezesseis horas, tenho que ir para o meu campo de batalha onde o meus maiores adversários são as minhas próprias limitações, os meus medos, as minhas fraquezas e minhas incertezas.

RETALHOS DA MEMÓRIA. Where stories live. Discover now