TODOS É UMA ILHA.

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       Lembro-me com saudades do meu tempo de infância, vez ou outra, recorro-me as crônicas para registrar tais lembranças, dizia certo amigo que lembrar é viver, sendo assim , vivo sempre um pouco mais ao recordar das boas coisas que eu passei em minha áurea infância, as vezes quando vou visitar minha mãe, que mora em outra cidade,  eu e meu irmão ficamos relembrando das coisas que fazíamos quando crianças, as risadas não são poucas, confesso que em tais lembranças, eu não me recordo de ser o que mais aprontava, essa posição era com louvor da minha irmã, essa sim, como costuma dizer minha mãe, ela dava nó até em pingo de água, coitado do meu irmão caçula, era o que mais sofria nas mãos da minha irmã, mas não fiquem assustados, nossas brincadeiras eram inocentes, nunca houve desentendimentos entre nós,  nos amamos muito, nunca ficamos com raiva um do outro, nem uma vez se quer.
       As vezes fico a refletir sobre esses assuntos, sobre o passado, nas coisas boas que ficaram no esquecimento, certo é, que alguns cultuam as regalias que a modernidade lhes proporciona, confesso que não é de um todo ruim, mas, não se compara com o que vivíamos na época de infância, brincadeiras saudáveis, e tantas outras coisas, eu, por exemplo; vivia de chinelo de dedo nos pés, roupas sujas de terra, calção rasgado, assim era o meu visual, nada agradável, mas eu era uma criança feliz, muito feliz.
      Raras era as vezes que deixávamos de brincar na rua, encontrar os amigos, brincar de pique esconde, de queimada, e outras brincadeiras que a muito já foram esquecidas, talvez os leitores mais novos estejam se perguntando, " Mas ques brincadeiras são essas? " Pergunte para alguém mais velho, não sei se essas brincadeiras ainda existem, talvez algumas ainda estejam em uso, mas uma coisa é certa, os jogos eletrônicos, os computadores, tablets, celulares, roubam o melhor da infância.
       Impressionante como essa geração se entregou aos caprichos do modernismo, como tem se tornado sedentários e por vezes até preguiçosos, acordam cedo para irem a escola forçadamente, na minha época era um prazer ouvir o cantar do galo logo as cinco da manhã, fogão de lenha em brasas, café feito em coador de pano, antes que nossas mães pensasse em nos chamar, lá estávamos ao lado dela, a beira do fogão, enchendo os pulmões com o aroma gosto do café sendo coado.
      Saber que esse tempo não volta mais dói na alma, saber que as coisas boas do passado são desconsideradas, e por muitos questionadas, dói ainda mais. As vezes os mais jovens, me perguntam como eu conseguia viver sem ter um computador, vídeo games, e tantas outras coisas dessa era moderna; eu simplesmente respondo que tive a melhor infância que uma criança possa desejar, e participei das melhores brincadeiras e cultivei grandes amizades.
        Somos como um barcos a deriva no mar, navegamos sem ter destino certo por águas turbulentas, estamos passando por tempestades terríveis, e não há garantias nenhuma de chegar a outra margem, este é meu pensamento para este século, este é meu sentimento em relação a presente geração em que estou vivendo, lembrar do passado não é saudosismo meu, pelo contrário, a modernidade tem suas vantagens, porém, quem as utiliza não está sabendo dosa-la  corretamente e com boa moderação, o passado deixou suas marcas, ensinou suas lições, deixou saudades, quem soube viver bem no passado, saberá dosar bem o presente não se entregando ao modernismo e nem o desprezando por completo, já dizia o sábio, que o veneno está na quantidade, isso é válido para tudo em nossas vidas, temos que ter equilíbrio.
      As vezes me sinto como um completo desconhecido neste mundo moderno, as vezes me sinto como se estivesse em uma ilha, afinal, como diz certo refrão de uma conhecida cação,
" Somos todos uma ilha, a milhas e milhas de distância de qualquer lugar. " O mundo tem se tornado esse lugar estranho, cheio de ilhas vazias, por todos os lados, ilhas ambulantes. Eu tenho saudades de muitas coisas que ficou para trás, amizades que eu tinha, pessoas em quem eu confiava e as vezes até confidenciava meus segredos, as vezes eu me faço essa pergunta, Onde está essa pessoa?  Aquela amizade bonita, onde está? Já não sei mais quem me tornei, e qual o meu destino triste nesta terra estranha de gigantes adormecidos, afinal, somos todos iguais a uma ilha, a milhas e minhas de outras inúmeras ilhas, da mesma forma distantes e solitárias.

RETALHOS DA MEMÓRIA. Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt