CONVERSA NO ÔNIBUS.

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   Eu estava de retorno para casa, já dentro do terminal de ônibus santo Antônio, era um domingo  tranquilo e não havia muitas pessoas ali, o ônibus não demorou a chegar,  entrei e me sentei em um dos bancos mais na frente próximo ao motorista, eu estava distraído, pensamentos distantes, quando de repente surgiu um casal, entraram apressadamente e sentaram-se bem atrás de mim conversando em voz alta, o que mais chamou a atenção naquele casal não foi o assunto abordado, mas o modo como a coisa toda aconteceu, pelo jeito que conversam era como se não houvesse mais ninguém ali no ônibus, foi inevitável não prestar atenção na conversa, que se deu mais ou menos assim :
    -- O que foi Francisco, porque você ficou tão agitado?
    -- Nada não, foi nada não, não se preocupe Clarice.
    -- E essa tristeza toda estampada no seu rosto, seus olhos estão vermelhos, você andou chorando Francisco, não disfarça?
    -- Não, claro que não, de onde você tirou essa ideia Clarice, que maluquice é essa mulher, eu lá sou homem de ficar chorando, onde já se viu, sou macho mulher, sou gaúcho dos pampas, não choro.
     -- Mesmo… Pois eu não acredito nisso… Todos choram, até os gaúchos dos pampas, é inevitável, as lágrimas sempre estarão presentes em nossos olhos e nas nossas vidas, não precisa se fazer de forte Francisco, não precisa manter a pose de machão, não importa o que tenha acontecido, sou a sua irmã, sangue do seu sangue, porque você não confia em mim,  estou do seu lado Francisco, pode dizer o que está acontecendo.
       -- Clarice, eu juro, estou tranquilo, estou bem, não quero chorar e nem vou chorar e nem dizer nada, pronto.
        -- Mesmo depois de tudo o que aconteceu, das tradições, das mentiras, mesmo depois de tudo, de você ter sido exposto ao ridículo, de ser desmoralizado perante seus melhores amigos, essa mulher não te merece Francisco, acorda, ela não te merece e nunca vai merecer, é por isso que você está assim não é, pode dizer.
       -- Falar é fácil Clarice, falar é fácil, mais vai se colocar na minha situação, simplesmente não dá, eu não consigo tá bom, satisfeita agora, eu não consigo, aquela mulher é o diabo.
       -- Como você não consegue, que história é essa homem, quantas mazelas piores do que essa você já  passou, lembra no Amazonas, aquele trabalho com os índios, lembra quando você estava em Minas Gerais trabalhando no vale da mata, você enfrentou as piores coisas que alguém possa imaginar, armas, facas, bandidos; até bandidos você enfrentou Francisco, não deixe essa mulher te derrubar vença a batalha meu irmão, vença essa batalha.
      -- Eu… Eu não... sério, eu não posso. Perdoe-me, mas eu não posso, tem as crianças, olha, eu já não sei mais o que pensar.
      -- Eu vou te ajudar tudo bem.
      -- Obrigado Clarice, muito obrigado, eu não sei o que seria da minha vida sem você minha irmã querida, não sei mesmo.
      -- Vou agora mesmo ligar para o meu advogado, eu explico sua situação para ele, e tem mais meu irmão, você vai processar essa mulher, ah! Ela não perde por esperar Francisco, ela te humilhou, te traiu com seu amigo, ou melhor, ex amigo, tenha animo, lá no escritório está todo mundo do seu lado, o pessoal está com você Francisco.
        -- É verdade Clarice, você  tem razão, é isso mesmo, é assim que se fala, vamos a batalha então, vamos a vitória. Não vou perder mais tempo com aquela miserável, aquela mulher é o diabo.
        -- Perdoe-me Francisco meu irmão pela minha arrogância, pelo meu jeito cru e rude de falar contigo as vezes, me perdoe, mas é tudo para seu bem, estou disposta a te ajudar a consertar algum coisas que estão fora do lugar. Lembra-se do Ted?
      -- Sim, me lembro dele, é o alfaiate do final da rua, tem uma fama terrível de espalhar fofocas, mas o que ele te haver ele com tudo isso.
      -- Ele estava lá no dia em que aquela crápula saiu com o Tony, ele viu tudo e me contou em seguida até fotos ele tirou com o celular, eu tentei te avisar mas você não deu bola, lembra-se, mas veja só onde isso tudo foi parar.
     -- Eu bem que poderia ter te dado ouvidos, me desculpe, eu fui querer da uma de machão, acabei me ferrando ainda mais.
     A essa altura eu já havia chegado ao meu destino, eu sai do ônibus e o casal continuou lá, conversando sobre a mulher diabo como se não houvesse ninguém ali.

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