DIA ODIOSO.

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        A semana começou, é segunda, esse é o dia da semana mais detestado por uma boa maioria das pessoas, portanto, um dia odioso, apesar que, a semana começa mesmo é no domingo, que é na essência o primeiro dia semana, mas para nós brasileiros, domingo passou a ser o sétimo dia, portanto, dia de descanso, na nossa cultura ele é o último dia e não o primeiro. Já o sábado é um dia glorificado, principalmente entre uma grande maioria de jovens trabalhadores, que enxergam no sábado a oportunidade de uma festa, de uma balada, bebedeiras sem a preocupação de ter que acordar cedo para trabalhar, no domingo já não é possível os exageros do dia anterior, muitos bebem durante quase todo o domingo, mas quando vai chegando o entardecer a maioria cerra os lábios para o álcool, e começa então a preparação para a segunda-feira.
             Ao entardecer do domingo, a maioria das pessoas que tem que acordar cedo para trabalhar, sentem os efeitos antecipadamente do dia seguinte, o semblante muda de repente, já não há mais espaços paras as brincadeiras, já na há mais lugar para as bebedeiras. Os pensamentos começam a focar no que poderá acontecer no dia seguinte, preocupações com pendências da semana anterior, a cobrança do chefe, os compromissos sociais fora da empresa, médicos, escolas das crianças, e tantas outras coisas que vão surgindo na tela do pensamento, nem percebemos, mas o nosso semblante se transforma no domingo a noite. Muitas pessoas não são afetadas por essas preocupações do dia a dia, vivem como se não as tivessem, como conseguem é um mistério.
            No ano passado, dia vinte e um de dezembro, eu tive que me afastar da empresa onde trabalho para fazer uma cirurgia na coluna, coloquei parafusos e hastes metálicas na segunda e terceira vértebra, e uma prótese entre elas substituído o disco vertebral que estava doente, fiquei afastado da empresa por seis meses. Nos dois primeiros meses eu ainda era atormentado pelo monstro da segunda-feira, mas do terceiro mês em diante ele já não me assustava mais. Os seis meses passaram rápidos, então voltei a trabalhar semana passada, quando foi neste último domingo a tarde, lá estava ele, o monstro da segunda-feira, pronto a me atormentar, confundindo meus pensamentos. Imaginem só amigos leitores, seis meses em casa, todos os dias eram domingos para mim, mas de repente, surge a segunda odiosa para me aterrorizar.
            Analisando friamente esse dia tão horrível,  não deveria existir nele diferenças aos demais dias da semana, acredito eu, e essa é minha tese, que o problema na verdade é psicossomático, aos poucos, ano a ano, nos tornamos escravos de nos mesmos, de nossos caprichos, de nosso modo de vida confortável, de certa forma, encontramos na segunda-feira a culpa de nossas mentes aprisionadas em um sistema capitalista consumista, criado por nós mesmos. É só observar,  existem muitas pessoas que não se importam com essa história de segunda-feira como pior dia da semana, criamos os nossos próprios medos, alimentando um fantasma que existe somente em nossas cabeças, e esse fantasma por sua vez nos adoece.  A partir de hoje, eu quero me livrar desse monstro que só existe nos limites dos meus pensamentos, e vencer de uma vez por todas, o Golias da segunda odiosa.
              Deveríamos aproveitar melhor nossas vidas, admirar as pequenas e belas coisas deste mundo, ver o sol nascer com todo seu esplendor, ver a aurora com todos os seus matizes faiscando no horizonte das nuvens, ver a sinfonia de pássaros saudando o novo dia, são maravilhas que está diante de nossos olhos todos os dias e nem percebemos. Eu tenho um amigo que vivia para o trabalho e não tinha tempo para nada e nem ninguém, certo dia ele ficou muito doente, teve que ficar internado, foi um terror para ele a clausura de um quarto de hospital, mas no quarto que ele ficou havia uma enorme janela de vidro, bem de frente da sua cama, na exata posição do nascer do sol, todos os dias, esse meu amigo contemplava o sol nascer com toda a sua beleza, isso durante trinta dias, bastou  para que ele mudasse a sua vida. As vezes nos preocupamos demais, e coisas pequenas tornamos grandes e as grandes em pequenas. As coisas mais belas e importantes desse mundo estão nos pequenos detalhes da vida.

RETALHOS DA MEMÓRIA. Where stories live. Discover now