RETALHOS DA MEMÓRIA.

A poesia do teu olhar.

       O teu olhar tudo muda, tudo transforma, já dizia o poeta: " Transforma - se o amor na coisa amada pela virtude do muito imaginar, "  tais palavras é bem verdade tanto que, nesta manhã calorenta de novembro, os meus pensamentos estão inteiramente voltados para aquele belo olhar que com faíscas de fogo incendiou o meu coração, inquietou a minha alma.                               
         Inutilmente eu tentei ignorar as advertências do meu coração, ele que tanto sofreu por amor, ele que tanto sofreu por amar, que teve medo, teve angústias, desilusões, tudo ele experimentou, bebeu do cálice amargo da indiferença e depois de tantas coisas ruins, quando ele já pensava ter superado tudo, viu-se rendido a simplicidade de um olhar, um simples e magnífico olhar.
          Esse olhar me domina, tem sobre mim um indescritível poder, me subjuga as suas vontades, escraviza a minha alma já a muito cativa. Não há nada que eu possa fazer, sou um menino em matéria do amor, como diz certa canção: " Sou um poeta, mas não aprendi a amar." O teu olhar é  de um escuro profundo, de brilho intenso e vivo, causa em mim um turbilhão de sensações que fica difícil explicar com palavras.
           As vezes o amor é como um leão dentro de uma jaula, assim é o amor dentro do peito, tal como leão, que as vezes adormece no fundo dessa jaula no mais profundo silêncio, contudo, sua quietude não o torna menos perigoso, ele apenas adormeceu, assim também é o meu amor pelo anjo ledo, um leão adormecido nas profundezas da jaula chamada coração, mas basta o teu olhar, o teu doce olhar de amor em mim, e esse leão desperta com toda a sua fúria.
              Lembro-me da vez primeira em o teu olhar pousou sobre os meus, era tarde de primavera, as flores multicoloridas enfeitavam a praça daquela pequena cidade interiorana, eu estava desapercebido, observando os pássaros e os transeuntes, casais de namorados, jovens, crianças correndo de um lado para o outro, um dia comum, um dia qualquer, sem nenhuma novidade, quando de repente, ao longe surge um vulto que aproximou-se de mim, foi então que me encantei com aquele belo olhar, tão divina quanto o de Afrodite, aquele teu olhar brilhando como o sol, com mais luzir do que em mil noites de luar, meus olhos não conseguiram desgrudar dos teus, a tua beleza de anjo ledo levou-me as alturas celestiais onde é possível ouvir o cânticos angélicais, onde a realidade mistura-se a ficção.
              Os dias foram passando lentamente, na verdade se arrastavam, causando-me angústias sem fim, era um suplicio interminável, um flagelo impiedoso a minha alma de poeta, eu não havia percebido o quanto amor existia em mim, eu não havia percebido que o leão estava apenas adormecido na jaula do meu coração, mas bastou o teu olhar, e tudo mudou, despertei uma fera que a muito estava esquecida.
         Se isso não for amor, diga-me, o que mais pode ser, tentei resistir ao teu olhar aos teus encantos, quanto mais eu tentava quanto mais esforço fazia, tão mais inútil era, foi então que percebi que era uma luta injusta, que jamais, em momento nenhum, nem no presente, nem no futuro, jamais vencerei a força desse olhar e o poder do seu amor sobre mim.
           Somos criaturas complexas, gostamos de coisas complexas, o simples não nos atrai, a simplicidade da vida as vezes não agrada tanto quanto a complexidade de certos acontecimentos, principalmente quando estes acontecimentos tem por princípio o amor, o nome por si só já expressa o grau de complexidade deste sentimento, ou talvez não, a depender do coração onde este sentimento estiver abrigado, ele não surtirá efeito algum, mas isso é algo bem raro e improvável de acontecer.
       Contudo, rendo-me nesta singela crônica, a poesia do teu olhar, a magia que ele tem sobre mim, o quanto ele move meus sentidos, minhas vontades, tudo enfim, basta apenas esse olhar, e um dia de tempestades transforma-se em um belo dia de sol, esse olhar e tão mistério quanto o nome desse anjo ledo, certo é, que há mais mistérios no coração apaixonado do que imagina nossa vã filosofia.