"Após perder sua mãe, Charlotte Helstone realmente mudou da água para o vinho. De aluna descolada e popular a cafona e mal-humorada. Acho que agora o colégio Stanley Oaks High já pode eleger sua nova favorita a rainha do baile, pois é uma questão de tempo para que Charlotte caia no esquecimento. Aliás, até mesmo o seu ex-namorado, August Smith, já elegeu outra candidata para substituí-la. O atleta foi visto aos beijos com Kendall Bünchmann no estacionamento e Charlotte foi flagrada andando com camisas largas e jaleco no centro da cidade. Estaria ela grávida e tentando esconder? Parece que o reinado da garota mais popular do colégio finalmente chegou ao fim.

Comecem suas apostas para a nova abelha rainha! Nós apostamos em Kendall e vocês?".

A porcaria do post tinha sido feita em modo anônimo e estava cheio de fotos ilustrativas. Uma de Angus aos beijos com a cobra da Kendall e várias outras da minha roupa no colégio e depois com as roupas do Dr. Heughan. Apesar do anonimato, eu tinha certeza de que tinha sido a Kendall. Que garota ridícula! Minha vida era tão importante que, apesar de fazer apenas 10 minutos que a publicação estava no ar, já tinha cerca de 200 curtidas e vários comentários com nomes de possíveis novas celebridades de Stanley Oaks High. Respirei fundo e resolvi responder a Karen. Ela provavelmente pensou que aquilo poderia me chocar e tinha sido legal de sua parte me avisar.

Haha, parece que vou ser mamãe!

Depois disso, joguei o celular no criado-mudo e entrei no modo descansar. Todo o meu corpo estava dolorido e tudo o que eu precisava fazer era fechar os olhos. Porém, quem disse que o sono veio? De novo aquela merda de insônia! Mas não fui até a cozinha como na outra noite. Fiquei na minha janela contando estrelas e nem percebi a hora passar. Fui desperta por uma conversa irritadiça ao celular entre Nelly e uma pessoa que, pelo seu tom de voz, era indesejada.

— Já te falei que não vou fazer isso, agora pare de me ligar, entendeu? Deixe-nos em paz.

Ela estava superagitada e ao olhar para trás, tentando ver se alguém a estava observando, encontrou meus olhos na janela, cravados nela. Assustei-me com sua expressão feroz e fechei a cortina, na tentativa de me ocultar. Meu coração estava na mão e eu corri para a minha cama e me encolhi debaixo das cobertas.

Definitivamente, a situação era muito mais grave do que eu pensava.

Minha respiração estava acelerada e por mais que tentasse me acalmar, estava com medo do que Nelly faria por conta do flagra. Escutei minha maçaneta girar e a porta se encostou levemente. Juro, senti até queimação no estômago de tanto medo. Ajudaria se eu fingisse que estava dormindo, colocando a prova a sua sanidade? Bem, pelo visto não. Era melhor encarar o problema de frente.

Puxei as cobertas e me revelei para Nelly... Er... A não ser que Nelly fosse bem alta e encorpada e tivesse cortado os cabelos!

Era Jayden!

— O que está fazendo aqui? — repreendi-o em tom baixo. Não queria que a mãe dele nos escutasse e sabia que estava acordada. Bem acordada.

— Só queria te pedir desculpas por ontem. Eu não tinha a intenção de machucá-la.

Ele se aproximou de minha cama e se ajoelhou, passando a mão pelo meu rosto em forma de carinho. Em outra situação, eu teria adorado o seu toque, mas estava tensa e com medo de Nelly entrar ali a qualquer momento, então, afastei-me dele.

— Já pediu, pode voltar para o seu quarto. — Meu tom soou ríspido e frio. Eu queria que ele saísse o mais rápido possível.

— Por que me trata assim? Por que é tão cruel, Charlie?

Não tive tempo de responder, a maçaneta da porta girou e tive certeza de que naquele momento estaríamos bem ferrados, mas ajudaria se eu estivesse dormindo, naquela situação. Então, cobri-me rapidamente e me enrolei no cobertor, sabendo exatamente quem estava ali. Não fiquei esperando para ver o que iria acontecer com Jayden e também não me interessava.

Os passos dela eram sorrateiros e não tardou para eu escutar a porta sendo fechada novamente, retirei as cobertas do rosto e respirei aliviada. Jayden saiu debaixo da cama e me encarava confuso com seus olhos negros. Até hoje me pergunto como ele conseguiu se enfiar tão rápido lá embaixo.

— O que minha mãe veio fazer aqui?

— Como eu vou saber? — Na verdade, eu sabia, mas não iria envolvê-lo naquilo.

— Acha que ela está desconfiada da gente? — A voz dele soou carregada de temor, o que me fez lançar-lhe um olhar gelado.

— Desconfiada do que? Nós não temos nada. — Fiz questão de enfatizar a palavra nada, apesar de saber que aquela mentira era a pior que eu já tinha contado.

— Nada? — Ele repetiu e em questão de segundos, voou para cima de mim, prendendo-me à cama. — Chama isso de nada?

— Eu posso gritar, já sabemos que sua mãezinha está acordada.

Jayden passou os lábios de leve sobre os meus e sorriu da minha fala.

— Se você fosse gritar, já teria começado o escândalo.

Eu queria refutar, mas fui calada por seu beijo e droga, meu dia tinha sido tão maluco e cheio de reviravoltas, eu estava tão carente e ele estava ali... Acabei correspondendo, enfiando meus dedos em seus cabelos e puxando-o mais para mim. Seu corpo moldava-se perfeitamente ao meu, deixando-me sem ar.

Aproveitei todo o carinho que ele me dava, enroscando-me em seu corpo e puxando-o para mim, Jayden se virou e me colocou por cima dele. Prendeu-me em seus braços e por mais que eu quisesse sair, não iria conseguir. Usando deste pretexto, deixei-me ser envolvida por aquele momento, aproveitando cada segundo. Como eu podia fazer isso comigo e com ele? Por mais que eu quisesse me vingar da sua mãe, não parecia mais justo usá-lo para conseguir o que queria. Jayden era um inocente naquela história toda e eu o tinha contaminado com minha ira.

— Não... por favor — pedi, ofegante.

Jayden parou de me beijar e aconchegou minha cabeça em seu peitoral, em silêncio, apenas acariciando meus cabelos.

— Por que não? — perguntou após um tempo.

Acreditei veemente que era hora de lhe dizer o motivo de ter me aproximado dele, de tê-lo provocado. Eu já tinha perdido Angus por causa do meu joguinho e sabia que provavelmente Jayden também iria me odiar, mas não ficaria em paz se não lhe dissesse a verdade.

— Jayden, isso não pode ser — comecei, respirando fundo antes de prosseguir. — Eu fiquei cega de ódio quando minha mãe morreu e a sua assumiu o lugar dela como se não se importasse. Eu quis me vingar de Nelly e você parecia o alvo certo para atingir esse objetivo, me desculpe, mas eu me aproximei por causa disso... era tudo parte de um plano idiota...

Não percebi exatamente quando comecei a chorar, mas o pranto se intensificou quando Jayden ficou em silêncio novamente e parou de acariciar o meu cabelo. Acho que perdas sempre nos marcam muito e nos últimos meses, eu tinha perdido muita coisa. Talvez eu realmente fosse cruel, como ele me acusava de ser e estivesse pensando somente em mim quando comecei a arquitetar aquela idiotice toda. Naquele instante, não podia negar: eu estava sentindo algo por Jayden, algo que não saberia explicar em palavras mesmo que quisesse.

— Não acredito que fui apenas um capricho seu, Charlotte.

Ele se levantou bruscamente e eu o agarrei pelo braço, fazendo-o olhar para mim. Seu rosto estava contorcido em uma expressão de dor que me lacerou por dentro, havia tanta mágoa em seus olhos negros que acabei recuando.

— Me desculpe, por favor.

Ele não desculpou. Ele não disse nada.

Saiu.

Deixou-me ali com as malditas lágrimas que teimavam em escorrer por minha face. Eu era uma pessoa má. Eu era uma pessoa muito má.

Jayden fez bem em se afastar de mim.

Aliás, todos faziambem em se afastar de mim.    

O Quarto ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora