Prólogo

1K 69 20
                                    

— Queremos saber exatamente o que aconteceu, senhorita Charlotte Helstone.

— Já contei tudo para vocês, não irei repetir — cuspi as palavras com desdém, olhando para todos como se fossem meros vermes.

— Se não o fizer por bem, será por mal, senhorita Helstone. Nós precisamos do seu depoimento para poder ajudá-la — reafirmou o cara da esquerda, com seu rosto pálido e cheio de verrugas. Patético.

— Então que seja por mal.

O cara da direita, o mais magro deles, deu um soco na mesa e se retirou da sala. O outro o seguiu imediatamente. Fiquei sozinha ali naquele lugar parcamente iluminado, com as mãos algemadas e olhando para o vazio.

Já tinha dito tudo a eles. O que mais poderiam querer? Que eu confessasse o crime? Isso jamais. Eu não tinha matado ninguém. Uma coisa era odiar mortalmente, a outra era executar o ato. O meu único pecado era outro e pelo que sabia, não estava sendo acusada por ele.

Algum tempo se passou até que a porta foi aberta de novo e dessa vez uma mulher baixa e meio entroncada entrou. Ela tinha um vinco na testa como se estivesse sempre preocupada e o seu cabelo estava preso em um coque perfeito. Seu olhar era analítico, confesso que fiquei amedrontada quando aqueles minúsculos olhos castanhos escuros miraram-me de forma tão intensa. Engoli em seco, esperando qualquer que fosse sua abordagem.

— Olá, senhorita Helstone — disse ela, andando de um lado para o outro. — Meu nome é Laoghaire Donnelly, sou psicóloga e trabalho no departamento de investigação, mas tenho funções específicas que não vem ao caso lhe dizer, tudo o que precisa saber é que estou do seu lado, desde que colabore comigo.

Seu tom de voz era firme e por alguma razão, transmitia-me segurança, naquele instante até consegui ver mais bondade em suas expressões duras do que na dos dois oficiais que estavam me torturando durante horas. Ela era diferente e por isso me permiti relaxar a postura.

— Preciso que seja sincera em suas respostas para que eu possa ajudá-la, quanto mais rápido terminarmos isso, mais rápido poderei fazer algo para te tirar dessa situação, entende? — meneei a cabeça em afirmação. — Ótimo, irei colocar este gravador aqui... — Ela tirou um aparelho do bolso, pressionou alguns botões e o colocou em cima da mesa a minha frente. — E coletar o seu depoimento a respeito da morte de sua madrasta, a senhora Nelly Helstone.

Novamente concordei com a cabeça... Que ótimo, a tortura iria recomeçar! Pelo menos Laoghaire tinha expressões mais tranquilas e me olhava até mesmo com compaixão. Fechei os olhos por alguns instantes e então a olhei de frente, agora ela estava sentada à minha frente.

— Bem, vamos começar. Eu quero que me conte detalhe por detalhe do que aconteceu... — Interrompi-a.

— Mas eu já disse tudo o que sabia para aqueles homens! Eu não matei a Nelly. — Sem querer, acabei alterando o meu tom de voz, o que a fez suspirar fundo e entrelaçar as mãos sobre a mesa.

— Escute, Charlotte, não poderei te ajudar apenas se me disser que não matou a Nelly. — Ela analisava-me e aquilo estava começando a me assustar. — Quero que me conte como era a convivência entre vocês, o que aconteceu que a levou a fazer o que fez e por que eu devo acreditar que você não a matou, mesmo tendo gritado a plenos pulmões que era isto o que faria. Entende? Você é a principal suspeita, vai precisar mais do que isso para nos convencer disso.

— Tudo bem, eu vou te contar tudo... tudo mesmo. Espero, por favor, que não me interrompa, pois eu não vou repetir.

Era verdade. Estava disposta a abrir minha caixa de segredos para aquela mulher e não estava me importando se ela iria ou não me julgar, eu apenas precisava ter coragem e lhe contar o porquê era impossível eu ter matado minha madrasta. Respirei fundo, tentando organizar os meus pensamentos e foi então que a escutei dizer:

— Estou toda ouvidos.

Encarei-a de frente e comecei.

Agora, não podia voltar atrás.

O Quarto ao LadoWhere stories live. Discover now