Os quinze dias sem ver Denaro pareciam uma eternidade a Lila; por outro lado, quinze dias eram um prazo excelente para a quantidade de interferências mentais que o Talismã Quádruplo precisaria fazer.

Lila sorriu quando os ventos de Deila entregaram o pequeno Aldaret em seus braços.

– Ele tá com fome! – sussurrou a menina, bem baixinho para não acordar o bebê. – Aí eu trouxe ele!

– Você é a melhor irmã do mundo, Deila! – sorriu Lila, depositando um beijo na testa da filha e aconchegando o caçula nos braços. – Mas precisa caminhar mais e voar menos!

Com um rodopio sustentado pelos ventos prateados de Senira, Deila dançou no ar acima da cabeça da mãe. Seu riso cristalino ecoou pelos jardins do Palácio.

– Mas é tão bom, mamãe!

– Pra baixo, mocinha! – Uma ordem de Lila fez os ventos aterrissarem Deila, que riu e abraçou as pernas da mãe antes de disparar correndo para o mar.

Aldaret se moveu, abrindo os olhinhos e sorrindo ao ver a mãe. Lila sorriu também e acomodou-se para amamentá-lo, observando Deila e os golfinhos espanarem água até formarem arco-íris de espuma.

Olhando a beleza da tarde morna e acalentada pelo amor dos filhos, os pensamentos de Lila mais uma vez se desviaram para Durina... E para a dor que sentira em Sarah quando ela segurara Aldaret pela primeira vez. Sarah tinha um belo coração e se alegrara ao conhecer mais um principezinho de Senira... Mas Lila tinha visto muito bem como era doloroso para a prima não ter seu próprio filho para embalar.

E o imbecil do Enrique não estava ajudando nada.

Assim que seu companheiro e seu pai voltassem, Lila fazia questão de dar uma boa olhada naquele superficiano sem noção. E o pior de tudo era já ter uma boa ideia do que ia encontrar!

A Rainha conteve decididamente seu ímpeto de surrar o amigo. Não queria uma tempestade furiosa estragando o dia.

***

UMA SEMANA DEPOIS, Denaro e Aldaret retornaram a Senira, sendo recebidos com fartura de beijos, abraços e lágrimas de felicidade. Naquela noite, Deila e o pequeno Aldaret adormeceram entre os pais, na grande cama do casal. Aldaret-avô sentou aos pés da cama e finalmente a Linhagem pôde conversar. Aldaret e Denaro contaram maravilhas sobre a Casa de Merine e o pouco de Tarilian que tinham conhecido; em seguida, relataram a interferência do Talismã Quádruplo na mente de cada um, algo que só se tornara possível por serem ambos criale. O poder do Talismã de Crialelar era fabuloso e a amizade de Triss e Durin, um tesouro precioso e raro...

– ... Mas só nós estamos falando, e parece que você também tem muito a dizer. – Denaro, deitado de lado e apoiado em um cotovelo, mantinha a filha Deila bem aconchegada contra si. – O que aconteceu aqui, Lila? Por que você está tão preocupada?

– Não foi aqui. Foi em Durina. Mais exatamente, foi aquele idiota do Enrique!

Lila relatou tudo ao pai e ao companheiro.

– Você suspeita que...? – Aldaret-avô não concluiu a frase, muito sério. Lila e Denaro entenderam perfeitamente. Entender frases pela metade era uma das especialidades de Senira.

– A esta altura, eu tenho quase certeza – assegurou Lila. – Enrique tem uma cabeça acelerada o suficiente pra fazer isto. E tem motivos, também. Ele não quer encarar Sarah porque ela ficou dez dias presa nos Tronos por causa dele. Não quer encarar Durina porque sabe que é responsável por muita gente ter morrido naquele maldito ataque renegado. Não quer encarar Senira porque sabe que Sulon e a família dele eram nossos melhores amigos. Deve estar todo magoado porque Sarah e tia Darah foram lá e deram um baile de ciência nele, e também porque perdeu a autoridade de falar pela Linhagem, mas sabe que foi ele mesmo quem causou isto. Não quer encarar esta culpa também. Em resumo, ele não quer saber do Império porque a vida dele na superfície é muito mais garantida e tranquila. E daí se afunda em ciência... Em cabeça acelerada. Como Moolna faz, quando não quer encarar um emocional estropiado. E se desliga do coração e de tudo que importa.

Olho do FeiticeiroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora