88º Capitulo

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Não conseguia decidir o que era pior, se achar que o Harry andava a esconder-me qualquer coisa ou se era a Lanie achar que a filha está viva. Como é que duas coisas parecem ser completamente opostas e mesmo assim estarem interligadas num certo ponto?

Não consigo evitar que uma hipótese se formule na minha mente: e se o Harry descobriu que a Zoe está viva mas decidiu que ainda não era seguro divulgar essa informação.

Se fosse isso já teria descoberto o que o Harry andava a esconder e a Lanie não estava a ser enganada por ninguém malvado que apenas quisesse levar a pobre mulher a acreditar que a sua filha nunca tinha partido.

Mas como disse é só uma hipótese e talvez a mais parva que já criei em toda a minha vida. Ontem à noite o Harry deixou bem claro que não devia iludir-me com pensamentos de que a Zoe está viva.

O que me levou a pensar nisso sequer? A sua mãe que recebeu um ramo de flores com um pedido de desculpas?

Na verdade até poderia ser o Billy a enviar aquele ramo à Lanie enquanto era atacado pelos remorsos de andar a trai-la com a minha mãe.

Apenas à uma coisa que eu sei, e isso é que a minha melhor amiga infelizmente morreu pois fui eu que agarrei a sua mão fria enquanto o seu corpo descansava dentro de um caixão quase pronto para ser fechado e ser colocado por baixo de terra para nunca mais deixar que o seu corpo morto apanhasse um único raio de sol. Sei que nunca mais vou vê-la a andar por ai, sei que nunca mais a vou voltar a vê-la à minha frente, sei disso por isso não devia sequer fazer mais especulações.

"Se eu te fizer uma pergunta vais finalmente falar comigo e responder?" Pergunto e apenas segundos depois é que a cabeça do Harry roda ligeiramente para o lado e olha para mim.

"Conforme vais dizer-me porque raio estás a olhar para a mesma pagina dessa revista há quinze minutos?" Suspiro e deixo o meu olhar cair na revista de roupa que descansa em cima das minhas pernas.

O Harry está aqui desde as três horas da tarde, quando o meu pai teve de sair para tratar de assuntos sobre o seu novo restaurante, ou seja são quase seis da tarde e ele sentou-se no cadeirão do fundo do quarto com um portátil sobre as suas pernas e esteve sempre calado este tempo todo. Sei que ele está chateado por causa de ontem mas é mesmo necessário dar-me o castigo do silêncio? É preciso estar sentado três horas calado com uma expressão carrancuda?

"Estava distraída a pensar..." Fecho a revista e meto-me em pé já farta de estar sentada.

"Porquê que ontem à noite disseste que não acreditavas na morte do teu pai? O quê que te levou a pensar o contrario?" Ele fecha o portátil e finta os meus olhos castanhos por uns segundos até decidir dar-me uma resposta.

"Tinha treze anos, era um puto. Ao início apenas pensei: okay nunca mais vou ver o meu pai. Mas depois disso quando ele já não estava no seu lugar às horas de jantar, já não lhe podia pedir dinheiro para ir simplesmente a um jogo de futebol, já não podia fazer um monte de coisas que parecem insignificantes mas que apenas só damos valor quando as perdemos. Percebi que ele tinha de voltar algum dia foi nessa altura que meti na cabeça que ele nunca tinha morrido" ouço-o a suspirar enquanto se alevanta do cadeirão e fica à minha frente com menos de um metro de distancia entre nós.

"Basicamente foi como se tivesse passado duas vezes pela morte do meu pai só de alguma maneira a segunda vez ainda conseguiu ser mais dolorosa do que a primeira" ele franze as sobrancelhas e finta o chão por uns segundos como se estivesse a relembrar más memorias até o seu olhar subir e voltar a fintar o meu.

"Ainda estás chateado?" Pergunto metendo o meu peso apenas sobre um pé.

"Rose eu só te pedi uma simples coisa, era que me deixasses meter-te em segurança. O quê que tem de seguro andar pela rua às dez da noite sozinha?" O silêncio preenche o quarto, e nenhum de nós diz nada até que por fim, depois de parecer terem passado um longos minutos, o Harry corta o silêncio.

Always | H.S |Where stories live. Discover now