– Não tenha receio – disse o Patriarca, com um toque encorajador no ombro do jovem. – Senira é o seu Palácio agora. Nunca vai lhe fazer qualquer mal. Suba com calma o tanto que conseguir. Lila, ele deve ir sem você.
– Eu sei, pai. – Ela espichou-se na ponta dos pés e depositou um rápido beijo nos lábios do companheiro. – Espero você lá em cima, Denaro.
Com passos ágeis, a jovem subiu a escadaria e parou diante dos Tronos, sem sentar.
– Eu acompanho você. – O Patriarca sorriu com simpatia. – Deixe sua mente aberta para avaliarmos seu contato com os Tronos. Pode subir, Rei de Senira. Coloque os dois pés em cada degrau e espere um pouco antes de avançar para o seguinte.
Denaro obedeceu, subindo no primeiro degrau. Não sabia o que esperar... Os guardas e oficiais nunca diziam o que sentiam ao subir nos degraus iniciais da escadaria.
Não sentiu coisa alguma. Era como se continuasse no relvado. Tudo em torno estava muito lindo e brilhante, como sempre. Acima, um céu sem nuvens exibia incontáveis estrelas.
Aguardou um pouco e subiu para o degrau seguinte, com cuidado para não pisar numa moitinha cheia de flores azuis. Deuses. Aquela devia ser a única escadaria de Tronos ajardinada de todo o Império.
Nada. Tudo igual.
Sem saber se aquilo era um bom ou mau sinal, avançou para o degrau seguinte.
Ali, houve diferença. Era como se incontáveis filamentos de luz, finos como teia de aranha, contornassem os degraus, as plantas... Os Tronos. De repente, as escadarias e tudo próximo a elas estavam desenhados em luz. Era fantástico.
Por alguns momentos, permaneceu no mesmo degrau, acostumando-se com aquela nova visão de mundo. Olhou Lila. Ela sorriu, mais linda do que nunca.
Denaro esboçou um sorriso e passou para o degrau seguinte. Era o quarto, o ponto máximo que um oficial alcançava, em Durina.
Os fios de luz refulgiram com mais intensidade e estenderam-se, alcançando uma área maior. O rapaz percebeu que a luz se estendia numa área circular cujo centro eram os Tronos. Será que, quando chegasse lá em cima, veria todo o Palácio desenhado daquela forma?
Quinto degrau. Como esperava, os fios de luz estenderam-se para ainda mais longe. Interessante. Eles circulavam as pessoas, sem tocá-las.
Sexto degrau. A área iluminada cresceu novamente. Uma aura tênue, bem diferente dos fios de luz, envolveu Lila, o Patriarca e Sulon, assim como todos os pequenos animais que viviam na parte emersa de Senira. Mas, mais do que isto, o jovem percebeu que não eram apenas seus olhos que viam a luz. Sua mente também via e usava-a para traçar um mapa exato de tudo que os fios de luz tocavam. Fechou os olhos, observando Senira com a mente... Descobrindo detalhes que seus olhos nunca tinham visto. Era incrível!
No sétimo degrau, a presença do Palácio se tornou muito mais intensa. O mapa de fios e luzes tornou-se sólido e pesou na mente de Denaro, desacostumada a lidar com informações tão compactas. Os animais ganharam objetivos, instinto... Vida! As pessoas se tornaram fabulosos caleidoscópios de emoções. Espanto e orgulho em Sulon, satisfação e dor no Patriarca, que recordava a primeira vez que subira as escadarias dos Tronos... E, em Lila, amor. Mais amor do que parecia possível caber em uma pessoa!
O passo para o oitavo degrau foi tão natural que o jovem nem percebeu que o tinha dado. Sua consciência se expandiu para muito além do jardim dos Tronos, alcançando todo o perímetro mais central de Senira. Não era como o mapa que tinha da área mais central; era mais incompleto, mais fluido, mas mesmo assim impressionante. Sentiu a fúria do furacão que rodopiava logo além do núcleo de Senira, procurando incessantemente Jamion de Relana. Sentiu as águas agitadas e as correntezas; percebeu os golfinhos verificando atrás de cada rocha, entre cada maciço de algas, dentro de cada vão ou gruta. Sentiu dentro de si a ira do Palácio que tivera sua Rainha precocemente roubada e que, por causa disto, logo perderia seu atual Patriarca.
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Olho do Feiticeiro
FantasyJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...
79. UM NOVO REI
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