78. FOI A ESCOLHA DE MINHA FILHA

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– Somos uma espécie de último recurso para acessar Tronos – explicou o Lorde. – Como uma medida de segurança, caso a Linhagem falte e o Palácio precise de controle. É uma habilidade que evitamos usar, mas, desta vez, abrimos uma exceção. Era uma forma simples de mostrar a Jamion de Relana para não atacar Moolna novamente, e para lembrar aos Reinos o que acontece quando alguém afronta Moolna. Jamion, como Rei Vermelho, deixou de inspirar o respeito que inspirava como Imperador legítimo. Continua inspirando medo, até mais do que antes, mas o vácuo de respeito à liderança de Relana poderia provocar reações desagradáveis em alguns Reinos. Agora, todos lembraram que, na falta da liderança de Relana, Moolna assume a responsabilidade sobre o Império.

– Tipo, além de tudo, vocês são como uma Linhagem de regentes que não precisam nem ser empossados?!

– Mais ou menos isto – concordou o Lorde.

Enrique ainda não sabia o suficiente sobre o Império para ter uma noção correta do que significava o Lorde ter falado ao Império dos Tronos de Relana, mas, pela expressão de Sarah, podia ter uma boa ideia. Bem... Que bom que uma Linhagem tão especial estava do lado deles!

Então, o Lorde relatou como as vilas dos sem-dono, antes muito numerosas em torno de Relana, estavam abandonadas. Falou também do êxodo dos trabalhadores e moradores do Palácio Imperial.

– O senhor está dizendo que agora ele é Imperador sem Império? E que tudo foi desencadeado aqui, no Salão dos Tronos de Durina?!

– Quem desencadeou foi ele, Enrique! – protestou Sarah.

– E é assim que ele vai pensar?! Pra ele, a culpa vai ser sempre nossa! Sarah, você não entende?! Nunca mais vamos ter paz!

A parte pior é que Enrique estava absolutamente certo.

***

TERMINADA A PARTE mais urgente da conversa, Enrique saiu do núcleo de Durina para encontrar Donasô, que quase caiu dura ao vê-lo com cabelos. Depois, examinou-o todo para ter certeza de que continuava inteiro, e fez uma guerra quando Enrique disse que precisava voltar ao núcleo, onde Donasô ainda não conseguia entrar.

Ver o novo príncipe ileso e bem fez Durina inteiro suspirar de alívio. Finalmente, a longa recuperação havia terminado!

Naquele mesmo dia, com a permissão de Enrique, primeiro o Palácio e depois o Lorde de Moolna vistoriaram e absorveram suas recordações da previsão colorida. Seriam meses, talvez anos, até conseguirem analisar tudo, e haveria coisas perdidas para sempre.

– Principalmente o final da previsão, que devia ser o mais importante – suspirou Enrique. – Desculpem. Aguentei o máximo que pude.

– O problema não foi você – desabafou Sarah. – O problema foi aquele louco irresponsável que estragou uma previsão de tanta importância!

– Sarah... O que o seu pai falou sobre a previsão sempre se cumprir... Não tem furos neste sempre? Quer dizer, não tem algo que a gente possa fazer pra evitar toda esta destruição?

A garota suspirou profundamente e respondeu com a verdade:

– Até agora, nunca houve.

***

RELANA, NO MESMO DIA.

O príncipe herdeiro contava com trinta horas de vida e se mostrava um bebê saudável e faminto. As mulheres que acompanhavam a Imperatriz não compreendiam a tristeza dela, nem as lágrimas que muitas vezes escorriam por suas faces. Não podia, com certeza, se relacionar à ausência do seu terrível companheiro! As lembranças de todas eram de um parto rápido e sem problemas, com o nascimento de um menininho saudável de cabelos castanhos; eram lembranças implantadas por Relana, mas, para elas, estas lembranças falsas eram a única verdade que conheciam. E era bom que fosse, porque seriam interrogadas pelo Imperador, quando ele voltasse. Nada melhor do que elas mesmas não saberem que estavam mentindo.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now