"51"

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Mais um dia se passou, e as paredes daquele cativeiro estavam a ponto de me enlouquecer... Felipe e eu conversamos bastante. Ele disse que Deus criou os anjos e denominou alguns arcanjos que seriam os mais fortes, sendo assim, os lideres. E contou uma longa e deprimente historia sobre quase ter se tornado um arcanjo mas não se tornou por que ocorreram alguns enganos... ele acabou se exaltando durante a historia mais logo se acalmou. Por mais que ele não parasse de falar um segundo sequer, eu estava feliz por ele estar ali.

- Felipe... - falei, abrindo a boca pela primeira vez desde que ele começara a monologar sobre uma guerra que havia participado - Acho que não virão nos buscar!

- Tenha fé! - ele disse calmamente - e paciência... Deus age no tempo dele, na hora certa;

- mas e se...

- Não se preocupe! apenas espere...

Respirei fundo e esperei, minutos, horas, logo em seguida um dia, e por ai foi... Eu sei que esperar deu o que tinha que dar e eu já estava quase a ponto de fazer Felipe engolir a cadeira em que eu estava amarrada.

- Já chega! - falei - vamos achar um jeito de sair daqui...

- tem que espera...

- se me mandar esperar mais uma vez eu quebro tua cara! - interrompi-o - uma raça inteira depende de mim, e tudo o que eu vou fazer é esperar? eu vou ajuda-los! queira você ou não...

- O.k. - disse ele secamente - e o que pretende fazer?

Analisei o comodo, não havia nada ali que pudesse ajudar, sem janelas, a porta trancada, se não fossem eu, Felipe, a cadeira e as correntes o comodo estaria totalmente vazio... Então tive uma ideia.

- O homem loiro virá aqui nos trazer comida, certo? - perguntei, mesmo sabendo a resposta.

- Certo... mas acho que envolvendo ele já não é um bom plano...

- Fique quieto! acho que pode dar certo... Você é um anjo, em livros que li, anjos são bem fortes, você tem que conseguir se soltar dessa corrente...

- é bem mais complicado do que parece - ele disse - Anjos não se soltam de correntes, não dessas correntes...

- como assim? o que há nessas correntes?

- Você mesma disse que Lúcifer esteve aqui, esse lugar está cheio de instrumentos do inferno! essa não é só uma corrente, é a corrente utilizada para prender anjos caídos no inferno... - ele suspirou - impossível de ser destruída por anjos... nem Deus pode quebra-la!

- Então... ninguém consegue destruí-la? - perguntei incrédula.

- Demônios sim... - ele me encarou, seu rosto pareceu clarear - está pensando o mesmo que eu?

Analisei as opções tentando entender o que ele estava falando, e assim que entendi, tudo o que consegui dizer foi:

- Não dá... não... eu não conseguiria se quisesse;

- Analu, tem que tentar! - ele sorriu me tranquilizando - respire fundo, mantenha a sua mente bem aberta e você vai conseguir...

Fiz o que ele disse respectivamente, e com toda a minha força comecei a tentar me soltar das cordas que me prendiam, senti meus braços queimarem, era como se houvesse fogo no lugar de meu sangue, e segundos depois as cordas caíram no chão, arrebentadas, as partes que estavam coladas em meus braços estavam queimadas, como se de mim houvesse saído fogo. Encarei Felipe assustada.

- O que foi isso?

- Bem que disseram, você é mesmo mais forte que todos nós...

- Mais forte que Lúcifer? - perguntei enquanto me levantava e esticava o corpo.

- Pelo que estou vendo... é provável que sim!

Sorri um pouco envergonhada.

- Só arrebentei uma corda, você faria o mesmo sem esforço...

- A questão não é o que você fez, é como você fez... - ele disse e então arqueou as sobrancelhas.

Sem dizer mais nada andei até ele e segurei a corrente nas mãos, arrebentar uma corda era uma coisa relativamente fácil, mas e uma corrente? era quase impossível... Mas afastei esses pensamentos de minha cabeça e fiz o mesmo, novamente a sensação de meus sangue estar fervendo dentro das veias (literalmente), e ouvi o barulho da corrente caindo no chão. Derretida.

Eu mau respirava, tinha feito muita força, o que havia resultado numa falta de ar totalmente inédita, e fascinante, afinal, tudo tinha o lado bom e o ruim certo? Eu adorei a sensação de ser forte.

Felipe se levantou sorridente e me abraçou, um abraço tão inédito quanto a falta de ar.

- Obrigado... - ele sussurrou - por se preocupar conosco.

Encaixei meu rosto em seu pescoço e acho que ele entendeu o recado, deu outro sorriso e se afastou, agora iriamos colocar o plano em prática. Segundo nossos cálculos, o homem loiro chegaria minutos depois. Colocamos a caideira estrategicamente em frente a porta, de modo que quando o homem abrisse colocaria toda sua atenção em mim, já Felipe de posicionou atrás dela, assim, quando o mesmo a abrisse resultaria num esconderijo perfeito, e com as correntes o prenderíamos e correríamos para fora dali.

Como previsto, minutos depois a porta foi aberta, os olhos do homem percorreram meu corpo, as cordas estavam jogadas aos meus pés, o que o assustou um pouco, mas mesmo assim ele andou até mim e antes que pudesse me tocar, Felipe encostou a porta e pulou em sima dele o derrubando no chão, me juntei a eles, já que agora sabia que tinha força e juntos o prendemos, e com um pedaço da barra de minha blusa amarramos a boca dele, e pronto, o plano estava completo!

Andamos cuidadosamente por aqueles corredores sem fim, umas vezes ou outras ouvíamos vozes e víamos algumas pessoas, mas nos escondíamos de modo que não nos viam. E então, sem que notássemos, alguém chegou por traz, e com uma sequencia de golpes derrubou Felipe. Eu conhecia aquela maneira de cerrar os punhos e acertar continuas vezes na altura da costela.

- Daniel? - falei embora eu quisesse gritar.

Ele parou abruptamente e se virou para mim, seus olhos estavam negros como o de costume, e sem conseguir me conter pulei em seus pescoço e lhe beijei intensamente. Ele se assustou no começo mas logo relaxou e me levantou pela cintura, seu cheiro invadiu meu corpo, dando-me forças.

- Ei... - Felipe disse - eu estou aqui!

Não interrompemos o beijo até que ouvi a voz de John, que me olhava assustado, o olhar de um pai que acaba de pegar a filha no flagra e não pode sequer reclamar... Continuamos a correr por lá, Daniel segurava minha mão com força, eu vi o alivio em seus olhos assim que me viu, ele estava preocupado, e isso me fez sorrir. Mary corria ao meu lado, parecia igualmente preocupada, mas um pensamento invadiu minha cabeça, não estavam preocupados comigo e sim com o que eu significava se continuasse ali. Não era eu, era o meu sangue.


Entre luz e TrevasDär berättelser lever. Upptäck nu