"47"

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Acompanhei Felipe até o estacionamento do prédio, até que paramos frente e frente com uma moto enorme, sua cor vermelha brilhava com os reflexos do sol.

- Espera... quer que eu ande nisso? - perguntei.

- Tem medo de motos?

Fiz que sim, mas isso não era bem a verdade, eu não tinha medo de andar de moto, tinha medo de andar de moto com Felipe ( que eu sequer conhecia ).

- Sabe... você não vai cair se segurar, esse seu medo é um tanto irracional.

- Não podemos ir à pé? ou me levar voando...

- sobe logo, - ele disse e me entregou o capacete.

bufei e subi na moto, demorei um tempo para deixar o capacete bem preso na minha cabeça, assim que consegui Felipe acelerou a moto fazendo-me aperta-lo com as pernas e os braços. Ele estava brincando comigo, eu podia ver seu sorriso pelos retrovisores, e a cada carro que ele desviava mais eu o apertava. Assim que descêssemos da moto, Felipe não iria ter a mesma aparência que tinha quando subiu.

- Felipe! - gritei.

Ele diminuiu a velocidade da moto tempo o bastante para eu respirar e então retomou sua corrida imaginaria, e que ia acabar machucando um de nós.

Quando chegamos ao local desejado, desci da moto até um pouco tonta, só tive força para dar um soco no braço de Felipe, ele estremeceu e xingou baixinho.

- De onde tirou tanta força? - ele perguntou incrédulo.

- do medo que você me fez passar!

Entramos na casa e sentamos no sofá marrom por ordem de uma governanta, ela perguntou se queríamos algo para beber e assim que recusamos ela subiu as escadas de mármore para chamar o arcanjo meu "pai".

- O que acha que ele quer? - perguntei meio nervosa, eu era uma pessoa relativamente tímida e só o havia visto uma vez.

- Não sei... mas relaxa! - ele sorriu com aqueles dentes perfeitamente alinhados e brancos como as nuvens num dia de verão - se quer uma dica, arruma o cabelo.

Todo aquele vento nos meus cabelos rebeldes deviam ter resultado em um desastre, tentei arruma-lo da melhor maneira possível, mas eu sabia que ele só ficaria bom após um banho de creme e água.

John desceu as escadas correndo, seus cabelos enrolados estavam amarrados num rabo baixo, e pude ver o quanto seus olhos eram parecidos com os meus.

- Felipe, você já pode ir... - ele disse calmamente.

Felipe se levantou e saiu da sala, me deixando sozinha com aquele homem assustadoramente parecido comigo.

- Eu sou um arcanjo como você bem sabe...

Assenti.

- E o meu dever como arcanjo seria entrega-la a eles, está havendo uma guerra e você significa o fim dela, o extermínio de toda uma raça.

Abri a boca para falar mas ele me interrompeu.

- só que você sabe que não farei isso... acima de tudo, acima de todo o seu poder, acima de todos os anjos, você é minha filha, uma filha que cresceu distante da verdade por medo, eu tinha medo que descobrissem a verdade e a pegassem... e descobriram, dois anos depois que te mandei para a terra.

Uma lagrima brotou de seus olhos.

- Eu passei quatorze anos achando que estivesse morta!

Eu o encarava atentamente, não sabia o que dizer nem o que fazer, eu havia acabado de perder um pai, e em troca, havia ganhado outro, não que ele fosse ser a metade do que papai fora para mim, mas ele sim era meu pai e isso já bastava.

- E eu sou muito grato por você estar bem e sou muito grato às pessoas que criaram você, eu nunca poderei agradecê-los - ele andou até mim e me puxou para um abraço - Tem... uma pessoa que também quer falar com você.

A governanta acompanhou Mary até a sala onde estávamos, ela estava bem mais bonita do que o dia em que a vi na Praia, seus longos cabelos lisos estavam presos em uma trança de lado e um vestido vermelho mostrava todas as curvas que ela possuía.

- Perdi alguma coisa? - ela disse nos encarando.

- Nada que você gostaria de ver... - John respondeu.

- Minha conversa aqui não é com você John, então se puder se retirar ficaria muito grata.

Ele suspirou e subiu as escadas novamente, Mary continuava a me encarar, seus olhos me perfuravam como garras afiadas.

- Você não se parece nada comigo... - ela disse por fim.

- realmente. - pensei no quanto foi falta de sorte não me parecer com ela.

- Mas talvez tenha mais de mim dentro de você do que imagina.

Respirei fundo, eu sabia o que ela queria dizer, talvez houvesse mais maldade dentro de mim do que... talvez amor.

- vamos ver... - ela continuou enquanto andava em círculos em volta de mim, me analisando atentamente - é idêntica ao seu pai, chega a dar medo.

- posso... fazer uma pergunta?

Ela me encarou, esperando que eu perguntasse imaginei.

- Você chegou a pensar em um nome para mim? por que minha mãe escolheu Analu e tal... e você deve ter pensado em um nome para mim quando estava grávida não é?

Ela sorriu.

- Em primeiro lugar, ela não é sua mãe, eu sou sua mãe! - e deu uma piscadela - e sim... eu cheguei a pensar em um nome para você, um bem melhor que Analu.

- Analu não é um nome ruim... - sorri - mas diga-me o nome...

- Becca, seria Becca Thompson!

- é mesmo um nome bonito,

Mary sorriu e manteve seus olhos fixos nos meus, havia um sentimento ali, eu só não conseguia distinguir qual, ela era pró na arte de escondê-los.

- bom... você está sendo procurada então vai ficar escondida até a lua de sangue passar. - seu rosto voltou ao normal, no lugar do sorriso havia uma expressão fria.

- mas e minha mãe? ela já deve estar preocupada! muito preocupada...

- Eu sou sua mãe... já lhe disse isso, você deve me obedecer, não a ela, entendeu?

- Mary! - John a repreendeu assim que chegou - não fale dessa maneira com ela...

Ela estreitou o olhar e o encarou.

- Sinto muito Analu, mas não será possível que fale com ela por enquanto, é necessário que se mantenha fora do mapa, pelo menos até a Lua de sangue. - ele continuou.

- Mas e se por acaso eu não quiser? e se eu preferir correr o risco?

Mary e John se entreolharam.

- essa é uma coisa que eu não vou permitir. - ele disse calmamente.

Entre luz e TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora