"49"

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Tranquei a porta e analisei o quarto, andei até a janela e se eu fosse bem cuidadosa conseguiria descer sem me machucar. Bem ao lado havia uma arvore , grande o bastante para eu poder me segurar nela.

Me estiquei pela janela e agarrei um galho da arvore, era mais alto do que parecia, mas eu não me daria essa frustração, um pouco de agilidade e eu desceria pela arvore sem me machucar. A esta altura eu já estava pendurada em um dos galhos, me estiquei para passar para o próximo quando abruptamente o galho em que eu me encontrava quebrou, fazendo-me cair até que eu agarrasse outro, que também se partiu, e eu só parei quando meu corpo frágil tocou o chão com força.

Meu braço direito doía, mas não uma dor comum, era uma dor quase que insuportável, ela era persistente e se recusava a partir. Cruzei o braço na frente do meu corpo deixando a dor um pouco mais suportável, e segui o meu caminho... Agora eu voltaria para casa e explicaria à mamãe tudo o que acabara de acontecer, eu estava cansada de mentiras. Eu só queria minha vida de volta!

Era provável que mamãe ainda estivesse em Brighton, afinal ela não iria em bora sem mim, e por um momento me senti culpada por isso... desde o dia em que estive na praia do mar de Glitter, eu não havia voltado para casa, e ela devia estar extremamente preocupada e arrasada.

Andei por uma hora seguida, mas mau vi o tempo passar, minha cabeça estava nadando em pensamentos, medos e duvidas... Por que eu? dentre todas as pessoas do mundo eu fora a escolhida para passar por tudo isso, quando tudo o que eu queria era ter uma vida normal, como uma pessoa normal, num mundo normal, num mundo real, onde essas coisas são só personagens de livros e filmes, onde tudo é sadio e explicável.

Parei de frente a casa de papai, ( que agora era de Megan), o andar térreo estava iluminado, e eu me senti totalmente em casa, aquela sensação de quando você volta de uma viagem e se senta no sofá. E eu fiquei ali, observando a casa, observando tudo o que restara das lembranças que eu tinha de papai, todas elas estavam ali, naquele lugar grande e chique, naquela casa que durante muito tempo eu quis deixar...

E então vi mamãe, ela estava no sofá da sala, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos no rosto, estava perdida em pensamentos, eu sabia disso por que já a havia visto assim milhares de vezes. Eu estava pronta para entrar correndo na sala e abraça-la fortemente quando Edwart se sentou ao lado dela e a abraçou, (o médico), e isso me fez parar, não que eu estivesse brava ou coisa do tipo, por que eu não estava, só fiquei um tanto surpresa.

Assim que comecei a andar em direção a casa para entrar, fui surpreendida por mãos fortes me agarrando por trás e me puxando para o lado oposto, meu braço supostamente quebrado estava sendo puxado, o que me fez gritar, a ultima coisa que me lembro foi de ter visto mamãe se levantar correndo e uma porta se fechando entre nós. Tinham me pegado de novo, e agora eu tinha quase certeza que era o meu fim.

Lembro-me de balançar varias e varias vezes, eu não estava numa van e sim no porta malas de um carro. Porém dessa vez não fomos muito longe, minutos depois o carro parou e eu fui arrancada de lá. Novamente eu estava presa numa cadeira, novamente o homem loiro apareceu me fitando com os olhos azul piscina, novamente eu estava muito assustada.

- Quando fui até sua casa hoje eu realmente não esperava que estivesse lá... você é mais burra do que eu pensava!

-E você é mais idiota do que eu pensava! - falei - Meus pais virão me buscar e você vai se arrepender!

Eu sabia que talvez isso não fosse verdade, mas eu sabia uma coisa, sempre tente assustar a pessoa que quer te assustar, se você conseguir estará salvo.

- vou correr o risco...

Depois disso fiquei sozinha no comodo, ele era menor que o que eu havia ficado anteriormente, mas possuía o mesmo aroma melancólico e assustador.

O que é que eu vou fazer? eu não devia ter saído daquela casa... agora por minha culpa uma raça inteira seria exterminada... os anjos? os demônios? Daniel é um demônio, não posso perde-lo, e meu pai é um anjo! também não posso perde-lo... o que fazer? eu tinha cinco dias até a lua de sangue, eu tinha cinco dias para fugir, para resolver a besteira que eu fiz.

Meu braço doía bastante, mas a dor não era tão insuportável quanto a dor da culpa, tudo o que fizeram era para me proteger, e tudo o que eu fiz foi atrapalhar! Agora eu iria morrer, e levar comigo uma raça inteira...

Mary tinha razão, eu sou uma má pessoa, e não há nada que eu possa fazer quanto a isso...


Entre luz e TrevasWhere stories live. Discover now