"50"

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Meu braço que antes doía dificultando até minha respiração, agora estava perfeitamente normal, eu tinha certeza de tê-lo quebrado, já havia quebrado o braço uma vez quando tinha nove anos, e conhecia aquela dor, como em algumas horas o meu braço deixara de dor e não estava nem um pouco inchado? era... impossível!

Com o tempo foram chegando varias pessoas, se não fossem Ana Rita e o tal de Wiil, eu poderia dizer jamais tê-los visto, alguns garotos, uma senhora e outros homens, incluindo o loiro dos olhos azul piscina. Meus olhos estavam cheios de lagrimas, mas eu não as soltaria ali, não com todas aquelas pessoas me olhando com cara de nojo. Eu me recusava a demonstrar qualquer indicio de medo.

- Então essa... coisinha ridícula é a tal mestiça? - a senhora perguntou me analisando, ela parecia ter uma certa autoridade naquele lugar, o que me assustou ainda mais - qual é o seu nome?

Fitei seus olhos pretos como os de Daniel, mas não ousei dizer sequer uma palavra.

- Me responda! - ela gritou, mas sua voz agora não parecia a de uma senhora e sim de um homem, um homem com a voz muito grave.

- Analu! - gritei sem conseguir me segurar - e você? quem é você afinal?

Ela sorriu, um sorriso tão horrível quanto a voz, o clima do comodo pareceu piorar, o ar estava pesado, minha visão estava turva e eu sentia algo ruim, um aperto no coração, eu sabia que tinha que sair dali desde o começo, mas a partir daquele momento eu tinha que sair, por extinto e não por que queria. O que eu sentia era parecido com quando um animal se recusa a entrar numa casa, sem motivo especifico, apenas se recusa, por que ele sabe que há algo ruim ali. E eu sabia que no comodo havia algo ruim. Muito ruim.

- Quem sou eu? - ela disse, a voz grave novamente.

Uma risada perturbadora ecoou, se infiltrando em meus ouvidos, fazendo-me tremer, fazendo-me ter calafrios.

- Eu sou Lúcifer!

E então tudo escureceu, o aperto no coração ainda não havia partido, mas eu me sentia mais calma.

Lúcifer, eu estivera no mesmo comodo que Lúcifer, aquilo não me parecia tão real até aquele momento, foi horrível, aquelas palavras, aquela voz, aqueles olhos negros fixados em mim, eu não queria ser aquilo! eu não podia ser aquilo!


Quando abri os olhos, tudo estava normal, e pela primeira vez naquele lugar me senti segura por estar sozinha. Onde estava Daniel? onde estavam meus pais? iriam me salvar novamente?

A porta se abriu abruptamente, dois homens traziam Felipe, ele estava amarrado e todo machucado, tentei me soltar da cadeira para ajudá-lo mas eu não tinha força suficiente. Os homens o jogaram no chão com força e o prenderam pelos pés com uma corrente presa a parede. E apesar de tudo Felipe ainda conseguia sorrir. Assim que ficamos sozinhos ele tentou se soltar, mas ambos sabíamos que não seria possível.

- Eu... sinto muito! - falei por fim - eu não devia ter fugido...

- Tá tudo bem, a gente já ia morrer mesmo!

Ele sorriu e continuou.

- Não fique se culpando... vão tirar você daqui, vão salvar você!

- Acho que não vai dar certo dessa vez... eu não me importo de morrer, não mesmo! mas se eu morrer eu vou levar comigo toda uma raça... E aparentemente serão os anjos, eu sei disso por que Lúcifer esteve aqui!

Felipe suspirou e fitou as paredes sujas do comodo em que estávamos.

- sabe... Você não precisa se preocupar com a gente, quero dizer, com os anjos, Deus esta conosco, nada de mau nos acontecerá, essa guerra já está ganha desde o começo! - ele sorriu - Ele irá proteger você também, Deus é justo, e ele sabe o quanto está se preocupando... o quanto está arrependida, e sabe mais ainda que não escolheu nascer assim, tenha fé... sairemos daqui antes do que você imagina.

Olhei para o teto e sorri também.

- Eu confio em você ... - falei.

- Obrigado! - Felipe respondeu.

- Não em você... em Deus.

Ele deu uma leve gargalhada, seu rosto já havia se curado totalmente, o que me acalmou um pouco mais.

Elevei meus pensamentos até Deus e repeti varias e varias vezes a mesma frase em minha cabeça " O Senhor é o meu pastor e nada me faltará". Eu havia encontrado uma solução para os meus problemas, durante todo esse tempo eu sequer havia pensado em Deus, mas agora, eu sentia a presença dele, e eu sentia que poderia fazer o que quisesse. Eu estava finalmente segura.

Entre luz e TrevasWhere stories live. Discover now