"21"

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Daniel não saia de minha cabeça, seu sorriso, seu cheiro, o calor de seu corpo tocando o meu, iam e vinham em minha mente, impedindo que eu pensasse com clareza.
Por um momento fiquei com medo de que ele não me procurasse mais, mas no fundo eu sabia que esse não era o estilo de Daniel.
O unico problema é que ao mesmo tempo que me sinto atraida por ele, também sinto um medo avassalador quando estou ao seu lado. Daniel, o garoto dos sorrisos condescendentes e dos olhos negros que parecem enxergar atraves de mim, havia me beijado, beijado intensamente e calmamente.
Resolvi que precisava vê-lo, eu precisava falar muitas coisas para ele, e ao mesmo tempo manter distância, por que não era certo aquilo, ele era sinistro e assustador, parece me seguir para todos os lugares e é extremamente sexy e... espera, eu havia mesmo pensado nisso?
Levantei correndo e fui para o banheiro, joguei agua no rosto e fitei meu reflexo no espelho à minha frente.
- você é uma idiota! - falei - mas Daniel não vai fazer você ser ainda mais idiota do que é, entendeu?- apontei para o reflexo- entendeu?
Me troquei rapidamente, jeans, regata branca e mocassins rosa claro, fiz um rabo baixo de lado e sai. Onde eu estava indo afinal de contas?
Me sentei na calçada e comecei a pensar em tudo o que havia acontecido, principalmente no beijo. Fiquei ali por longos minutos, até que alguem se sentou ao meu lado.
- pensando em que?- Mariana perguntou, a voz doce e aveludada como a de mamãe.
- estou meio frustrada. - falei fitando a rua vazia.
- o que aconteceu? - ela perguntou se aproximando um pouco mais de mim.
- é uma longa historia. - peguei uma folha no chão e comecei a rasga-la em pedaçinhos.
- então faz um resumo!- ela sorriu - só não me deixe assim.
- um garoto... - suspirei - nos conhecemos em Londres, e desde então ele parece estar em todos os lugares. - Mariana me olhava fixamente - até aqui em Brighton, e nós saimos para tomar sorvete alguns dias atrás, e ele...
- Ele beijou você?- ela perguntou.
- como adivinhou? - dei uma leve gargalhada demonstrando meu constrangimento.
- continue Analu... - ela sorriu e apoiou a cabeça nos joelhos, para mostrar que estava prestando atenção em tudo o que eu dizia.
- hoje ele veio até minha casa- me arrepiei ao lembrar dos beijos intensos- e ele me beijou novamente!
- ah não! - ela disse parecendo preocupada.
- que foi? - perguntei confusa.
-por favor Analu, continue...
- Bom... eu briguei com ele, ele foi em bora, eu me arrependi e sai para procura-lo, e... - suspirei- lembrei que não sei onde encontra-lo.
- posso... saber o nome dele?- Mariana perguntou.
- Daniel. - suspirei - Daniel walters!
- Analu!- ela disse cuidadosamente - eu sei que não tem motivos para confiar em mim, mas tem que vir comigo agora.
- onde vamos?- falei ja me levantando com a ajuda dela.
- biblioteca... tenho que te mostrar uma coisa.

* * *

A biblioteca ficava à duas quadras dali, de modo que não demoramos muito para chegar.
O cheiro doce de livros velhos tomava conta da biblioteca, fechei os olhos assim que passei pela porta de entrada, tentando guardar aquele aroma perfeito em minha memoria, para que num futuro próximo, por mais tênue que fosse, eu me lembrar daquele cheiro.
Acompanhei Mariana até uma mesa retangular de madeira que estava ao centro da biblioteca.
- me espere aqui, vou pegar um livro. - assenti e me sentei numa cadeira almofadada ao lado da mesa.
Dois minutos depois ela voltou com um livro marrom, com certeza era um dos livros mais velhos que havia naquela biblioteca. Ela colocou o livro na mesa à minha frente, na capa lia-se : Seres não descobertos: leia com atenção...
-nome engraçado - falei sorrindo.
- vamos Analu!- ela me repreendeu, tirou o livro de minhas mãos e começou a folhea-lo. - aqui! Leia esse capitulo todo, tenho que ir em um lugar e volto em pouco tempo.
- tudo bem... - eu meio que estava levando na brincadeira, mas algo em Mariana me dizia que era coisa séria.
- mas tem que me prometer que vai ler. - ela disse.
- tudo bem, eu prometo! - então sorri.
Mariana deu meia volta e saiu da boblioteca, analisei o nome do capitulo e me surpreendi: Os demônios.
Sorri e pensei no motivo daquilo tudo, ela tinha mesmo pegado o livro certo?
Mesmo assim comecei a ler, ja que havia prometido e o conteudo parecia interessante.

Demônios:
Foi escrito no livro de enoque que entre nós habitaria criaturas angelicais com o objetivo de nos proteger. Mas nos proteger de que?
Da mesma forma que criaturas angelicais andam livremente entre nós, temos também as criaturas nada angelicais, que estão condenadas a vagar entre o inferno e a terra eternamente. Existem varias historias relatadas sobre romances entre esses seres, tanto os angelicais quanto os não angelicais com humanos. Então lhe digo, não há amor nessas feras, não há vida nelas, são apenas almas ruins com um corpo emprestado.
Pode-se identificar um demônio pelas seguintes caracteristicas:
- podem capitar seus medos, irão até você através deles.
- são extremamente sedutores e aparentam ser angelicais. (Não se deixe enganar)
- rodeiam você o tempo todo, para que anjos não possam protege-lo, e então...
O capitulo estava faltando a segunda pagina, folheei o livro todo a procura dela mas alguem a havia tirado.
- gosta de ler ficção? - Daniel perguntou se sentando ao meu lado - tema interessante...
- obrigada. - falei ja me levantando, acho que eu entendia o porque daquele livro e o por que daquilo tudo, Mariana acreditava que Daniel fosse um " Demônio " e de alguma forma, após ler a metade do capitulo eu também tinha minhas dúvidas. Mesmo sendo muita loucura essa coisa de anjos e demônios.
- ja vai? - ele perguntou.
- você está me rodiando? - ele pareceu confuso.
- Descupe, acho que não entendi a pergunta - ele andou até mim e tirou o livro de minhas mãos.
- acho que você entendeu sim. - coloquei as mãos na cintura e o encarei.
- espere um minuto... - ele se virou para a mesa e colocou o livro nela, logo em seguida abriu o livro onde eu havia dobrado a folha para mostrar à Mariana quando ela voltasse. Ele leu por alguns minutos, respirou fundo e se virou lentamente para mim -por favor, diga que isso - ele fez um gesto abrangente - não tem a ver com esse livro.
- e se tiver? - perguntei arqueando as sobrancelhas.
- você está ficando louca! - ele disse e então massageou a ponte do nariz.
- estou ficando louca? - falei irritada - você parece estar em todos os lugares e também é extremamente atraen... - me arrependi assim que essas palavras sairam de minha boca.
- então você me acha atraente. - ele sorriu animado, parecia estar se divertindo - eu ja sabia e tal... mas não achei que ouviria você dizer.
- idiota convencido! - falei e tornei a sentar na mesa.
Comecei a folhear o livro para não ter que encarar Daniel, a cada palavra que saia de sua boca minhas suspeitas aumentavam.
- Mas talvez... - ele cochichou - esse livro esteja certo.
- para de flertar comigo Daniel !!! - abaixei o livro e ele sorriu enquando fazia que não com seu dedo indicador.
- não meu anjo, pare você de flertar comigo.
- eu não estou... Daniel? - analisei cada canto da biblioteca, mas fora a bibliotecaria que lia atentamente, eu estava sosinha.

Entre luz e TrevasWhere stories live. Discover now