"45"

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Depois de um tempo me levaram para o andar de sima do comodo, e me soltaram da cadeira, aparentemente eles iam mesmo me prender por uma semana inteira, mas e depois? o que estavam planejando afinal? Na quarto onde fiquei tinha um banheiro, e no lado oposto um colchão coberto por um lençol azul e uma coberta fina dobrada por sima. Meus pulsos estavam exatamente como imaginei, esfolados e roxos, e fiquei sem sentir as mãos por alguns minutos.

Lembro-me de ter me encolhido no colchão e chorado até pegar no sono, na verdade essa era a unica coisa que eu conseguia fazer desses dias pra cá, estava me tornando boa nisso. No dia seguinte, quer dizer, imaginei ser o dia seguinte já que não havia por ali alguma janela que mostrasse a luz do sol, ouvi a porta sendo destrancada, me levantei e corri para o lado oposto, ficando assim preparada para me defender caso fosse nessessario.

Os olhos azuis do homem loiro se fixaram em mim assim que a porta foi aberta, um sorriso perverso começava a se formar em seus lábios carnudos. Ele trazia consigo uma bandeja, cuidadosamente a colocou ao lado do colchão e pude ver que ali continha duas maçãs, um sanduíche e uma garrafa de água. Eu já não comia à algum tempo, e ver aquelas coisas acabou me dando água na boca.

- O que vocês querem de mim afinal? - perguntei ainda encostada na parede.

- Vai descobrir depois... - ele sorriu - princesa.

Meu coração acelerou, não pelo que ele havia dito e sim pelo sorriso. No começo eu achava que Dominic tinha rido durante o acidente, mas agora eu tinha certeza que não.

- Você... você sorriu... você estava me olhando durante o acidente!

- é... foi na época em que Daniel levava o trabalho dele a sério, - seus olhos brilharam, estava lembrando de alguma coisa de seu passado com Daniel - Bons tempos!

- O que eu fiz pra você? - a essa altura eu já estava chorando.

Ele avançou até mim rapidamente e apertou minha garganta, tapando minha respiração, seus olhos estavam cheios de ódio e ficaram inteiramente pretos, como em filmes de terror, e eu não tive duvidas, ele era um demônio!

Minhas pernas chacoalhavam no ar, as mãos firmes dele em meu pescoço se recusavam a soltar, e por um momento achei que seria meu fim. Meu peito queimava, e eu sentia meus olhos lutando para continuar abertos.

Então abruptamente cai no chão, o homem agora se encontrava de frente para Daniel, ambos com olhos inteiramente negros. Daniel avançou até ele com uma sequencia de golpes e segundos depois o homem caiu no chão já desacordado.

O ar invadiu meu corpo novamente, mas eu ainda não tinha forças para levantar. Daniel veio até mim lentamente, seus olhos agora já estavam normais, e ainda assim tive medo.

- Vamos... vou tirar você daqui!-ele estava pronto para me pegar no colo, mas recuei um pouco.

- Antes preciso saber se alguma coisa que me falou era verdade...

Suas feições ficaram suaves e um pequeno sorriso surgiu em seu rosto.

- Eu quero você Analu, todos os dias e em todos os momentos. - com o polegar tocou meu rosto - Você se tornou meu vicio!

Dizendo isso me pegou em seus braços e cuidadosamente saímos daquele lugar horrível. Daniel dirigiu rapidamente, eu não conhecia aquele lugar, e duvidava que já tivesse por lá estado alguma vez.

- O que planejavam fazer comigo na lua de sangue? - perguntei.

- está havendo uma guerra... e nossas armas não são como a dos mortais, elas contém forças, do submundo e da luz, mas o seu sangue, uma gota, poderia matar um demônio ou um anjo em segundos.

- pensei que fossem imortais!

- exatamente, seu sangue consegue matar até um imortal.

Meditei alguns instantes, fazia sentido.

- Mas se eu sou tão forte, por que não nasceram mais como eu?

- por que teríamos que nos unir, e está havendo uma guerra entre nós... - sua voz estava tranquila e serena, como o mar naquele dia.

- E por que teria que ser necessariamente na lua de sangue?

- Insistiram para que fosse assim... o mais correto a dizer é "antes da lua de sangue"

- por que?

Ele deu uma leve gargalhada.

- você faz muitas perguntas!

- vamos Daniel - sorri- quero saber!

- Precisa ser antes por que... bem... você ainda não é imortal, mas assim que o sol nascer após a lua de sangue você será.

Respirei fundo, ser imortal não era um sonho de infância e tal, mas ainda assim parecia ser incrível.

- Onde estamos exatamente? - perguntei tentando me situar.

- Eastbourn.

- Minha mãe deve estar preocupada! é uma pena ter pedido meu celular durante o sequestro...

- Analu, vai ter que sumir por uns tempos, sua casa será o primeiro lugar em que irão procura-la.

- E pra onde mais eu iria?

- Vai ficar na minha casa, nimguem sabe onde fica então será seguro!

Ficar na casa de Daniel? era algo fantástico!

Não disse mais nada, eu iria perguntar sobre os cortes outra hora, afinal, como Dominic havia dito, quem é de la de baixo, e Daniel era, não se torna um caído.

A viagem foi tranquila, e eu acabei dormindo novamente, o cheiro doce de Daniel tomava conta do ar, e foi fácil pegar no sono dessa forma. Estava tudo errado, minha vida uma bagunça, nada parecia real, e ainda assim eu tinha Daniel, desde o dia em que tudo começou. Eu o tinha e ele tinha a mim, e tinha a mim da melhor maneira possível. Eu estava louca por ele, e não o perderia por nada nesse mundo.

Entre luz e TrevasWhere stories live. Discover now