"13"

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Passamos a maior parte do caminho em silêncio, até que meu pai, o mestre de assuntos importantes e piadas sem graça resolveu abrir o verbo.
- então vocês ja se conhecem?- ele disse sorrindo- isso é otimo!
- não é bem assim pai... só conversamos uma vez quando ele foi me dar um recado do sr.Gretel.
- sr. Gretel?- papai perguntou meio confuso.
- professor de biologia. - Dominic disse se intrometendo - nosso professor de biologia...
- então estudam juntos?
- é... - falei.
- isso é incrivel - papai sorria novamente.

Faltava pouco para chegarmos até Brighton, a rodovia estava clara e só as vezes um carro ou outro passava por nós...
Dominic dormia tranquilamente no banco traseiro, o radio estava chiando um pouco e tocava uma musica calma o bastante para fazer um bebê dormir.
- garotinha? - meu pai disse me chamando.
- oi?- falei baixinho imitando seu tom de voz.
- não está magoada está?
- pai...
- é que eu não quero que fique triste com isso.
- não vou ficar... nã ligo se largou minha mãe e vai casar de novo. - ele respirou fundo - sem querer te ofender.
- eu não larguei sua mãe Analu, - ele parou o carro num posto de beira de estrada- mas não é hora e nem lugar para conversarmos sobre isso.
- nunca é pai... esse é o problema.

Ele ignorou meu comentario e chacoalhou a perna de Dominic, fazendo-o acordar.
- quer alguma coisa pra comer ou beber?- ele perguntou.
Dominic fez que não e se arrumou no banco enquanto tentava se situar.
- e você filha?
- nada também... - eu havia comido macarrão com mamãe antes de sair, por isso não estava com fome.
Papai abriu a porta do carro e desceu lentamente, depois entrou na loja de conveniência e então saiu do meu campo de visão.
- grande coincidencia não é? - Dominic perguntou, colocando a cabeça entre os dois bancos da frente.
- eu diria que sim. - sorri e abaixei mais um pouco o volume do radio, deixando-o quase imperceptivel.
- pois é... - Ele disse cortando o assunto.
Mas eu não podia deixar aquela oportunidade passar, então aproveitei a chance parar tentar exclarecer algumas duvidas.
- afinal, qual é a sua com Daniel?- perguntei com um tom mais casual possivel.
- o que quer dizer?- ele pareceu confuso, mas eu sabia que não passava de um truque para não ter que falar sobre o assunto.
- é evidente que vocês não se gostam...
- porque acha isso? - ele sorriu.
- por que está se fazendo de desentendido?- falei, eu queria minhas respostas e ponto final.
- não se responde uma pergunta com outra pergunta...
- você fez isso primeiro. - e então ele sorriu, mas foi um dos piores momentos de minha vida, a risada durante o acidente, era aquela, a risada de Dominic... não fazia sentido algum, por que ele iria rir? Muito provavelmente teria alguma coisa a ver com Daniel.
- Analu?- ele disse - você esta bem?
- eu só... mudei de ideia, tenho que falar uma coisa pro meu pai.
- então tá... -ele disse calmamente, parecia confuso e desconfiado.
Desci do carro e corri para dentro da loja, peguei uma garrafa de agua e levei até o caixa, onde meu pai estava, ja terminando de pagar dois refrigerantes e um pacote de salgadinhos que nem perdi tempo lendo o nome.
- mudou de ideia garotinha?
- é... - e então sorri.

* * *

Chegamos em Brighton em alguns minutos depois de sair do posto, a casa de papai era enorme. Ele morava em um condominio chique onde só havia casas chiques, carros chiques e pessos chiques.
Ele tinha mudado totalmente de vida, não que há um ano e meio nós fossemos pobres e tal; mas também não eramos ricos o bastante para morar numa casa como aquela.
Assim que paramos o carro em frente a casa, uma mulher alta abriu a porta e nos encarou por um momento. Seus olhos eram verdes como os de Dominic, e ela tinha a mesma feição que ele... poderiam ser considerados irmãos gemeos, levando em conta que ela aparentava ter a minha idade.
- sejam bem vindos amores... - ela disse assim que descemos do carro, e então me analisou- e você é?
- essa é Analu- meu pai disse tomando a frente- minha filha.
- imaginei que ela fosse mais nova... - ela continuava a me encarar.
- tenho a mesma idade que seu filho - falei, arqueei as sobrancelhas e sorri ironicamente.
- é... estou vendo- ela disse.
- vamos entrar? - Dominic disse enquanto tirava suas malas do carro.
Papai me acompanhou até o quarto em que eu ficaria, a casa era enorme e eu tinha certeza que ia precisar de ajuda para voltar até a porta de entrada caso eu precisasse.
- Desculpe pela Megan... ela é muito ciumenta as vezes. - ele disse calmamente, mas havia um nervosismo em sua voz.
- que isso pai! Ela é uma fofa... - brinquei, ele me olhou feio.
- Analu.- ele me abraçou e passou as mãos nos meus cabelos- vocês vão se entender, ela é legal, sei que vai gostar dela... - e então ele beijou minha testa.
- está tudo bem... é so por uns dias e eu volto pra minha vida normal. - sorri - e não vou nem lembrar que ela existe.
- Garotinha... - papai me olhou nos olhos - sua mãe precisa de um tempo, entende?
- do que esta falando? - perguntei, com um mal pressentimento sobre o rumo que essa conversa tomaria.
- você vai ficar aqui por um tempo... - ele respirou fundo.
- quanto tempo ? - falei calmamente, mas eu sentia as lagrimas chegando.
- faremos sua matricula na escola semana que vem... - ele sorriu - ficaremos bem garotinha, pode confiar em mim.

Entre luz e TrevasWhere stories live. Discover now