"40"

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Pulei da cama rapidamente, que vergonha! o que dizer a ele? o que dizer a um pai que acabara de pegar a filha no flagra?

Papai me olhava horrorizado, a boca meio aberta e um olhar vazio, os olhos que costumavam ser verdes e amigáveis haviam desaparecido.

- Senhor... - Daniel disse - Podemos explicar.

"podemos explicar" ele dissera, podíamos mesmo explicar? aquela situação era imperdoavelmente inexplicável, até para mim, o que eu pensei que estivesse fazendo? se papai não tivesse aparecido eu poderia ter cometido um erro, o que deu em mim afinal?

- quero você longe dela agora!- papai gritou - achei que estivesse segura aqui Analu! eu errei...

Daniel o encarava, o começo de um sorriso estava brotando em seu rosto, eu sabia o que ele estava fazendo, você sorri e se convence de que não vale a pena brigar ou discutir, então você se acalma, respira fundo e começa a ignorar. Mas para Daniel era ainda mais difícil, do pouco que eu o conhecia já sabia o que aquilo significava para ele, Daniel não esquece essas coisas, ele não perdoa essas coisas.

- Pai... - falei cuidadosamente - erramos e tal... mas não há motivo para tudo isso - fiz um gesto abrangente - não vai mais acontecer, me desculpe.

Ele apontou um dedo acusador para Daniel e com uma expressão de ódio começou a falar:

- Lembra quando lhe disse que um homem havia procurado sua mãe logo após o seu acidente?

fiz que sim, com um pressentimento ruim sobre o rumo que essa conversa tomaria.

- Você estava o beijando! - ele gritou - Essa... coisa, não é o que você pensa.

Daniel balbuciou um xingamento, mas eu estava perplexa de mais para prestar atenção.

- Ele esta usando você - continuou - e eu não posso permitir isso!

- Daniel? - falei um tanto perturbada, eu sabia que ele tinha cometido o acidente, que ele era a sombra na minha casa ( supostamente a voz que me ameaçou ), mas ele não havia me contado sobre isso.

Ele me olhava em silêncio, e algo dentro de mim, algo tão pequeno que eu nem podia sentir antes daquele momento se desfez.

- Vá em bora daqui! - papai disse, sentindo a minha decepção - E não volte mais...

Abaixei a cabeça, não queria olhar nos olhos dele, já era o bastante, aquilo tudo já havia passado de mais dos limites.


Ficamos só eu e papai no quarto, ele me encarava como se pedisse alguma explicação, e eu devia uma ele, devia varias na verdade.

- Você volta para Londres amanhã mesmo!

- Pai... isso não é justo, eu não quero voltar , se não me quer aqui com você arrumarei outro lugar, mas não volto para Londres e você não pode me obrigar.

Ele suspirou.

- eu quero você aqui sim... mais do que você imagina, eu amo você e quero que fique segura, aqui aparentemente não é o lugar certo.

Me joguei na cama e cobri a cabeça com o travesseiro, aquilo tudo era de mais para mim... no começo eu queria voltar, mas eu tinha me encontrado em Brighton, aqui é a minha casa agora. Mudar de rotina, de escola, de casa e ainda por sima não esquecer Daniel. Eu sabia que ele iria até Londres atrás de mim, mas se isso acontecesse eu não iria conseguir fazer a coisa certa. Eu tenho que ficar aqui, ficar como estou...

- Eu vou ficar!- gritei - goste você ou não!

- Arrume suas coisas Analu, por favor não me obrigue a tomar atitudes drásticas.

Dei alguns socos no travesseiro que agora estava no meu colo e pedi que meu pai saísse, meu pai que nem sequer era meu pai de verdade... Decidi que precisava conhecer os meu pais biológicos de uma vez por todas, Daniel me ajudaria agora com certeza, em Londres eu nunca conseguiria, minha mãe iria ficar me rodeando e eu não poderia sair sem que ninguém notasse como faço aqui.

Peguei o celular e liguei para Daniel, eu tinha pouco tempo, e precisava aproveita-lo. Ele atendeu no terceiro toque.

- Analu? ta tudo bem?

- não graças a você, mas preciso da sua ajuda...

- por que precisa da minha ajuda?

- você sabe por que! e tem de ser logo, volto para Londres amanhã mas acho que consigo enrolar meu pai por pelo menos uma semana...

- Seus pais... - ele ficou em silencio por um tempo - Eu sou um caído agora, então a menos que seu suposto pai desça aqui não vou conseguir falar com ele, mas sua mãe... acho que com ela vai ser fácil.

- vai me ajudar! - gritei - Obrigada Daniel... não sei como te agradecer!

- tudo bem... eu devo isso a você! acho que consigo entrar em contato com seu pai, acabo de saber que um amigo meu está por aqui, e ele pode conversar com o tal arcanjo importante pra você.

sorri aliviada.

- acaba de saber? tem alguém ai com você?

- Ísis, uma amiga... vamos resolver tudo, estamos sem sono não é?

Ouvi uma risada feminina e Daniel sorriu também, estavam mesmo se divertindo? um ódio tomou conta de mim, mas não era exatamente ódio, era inveja e ódio e... espera, ciume?

Daniel me ligaria no dia seguinte para dar as noticias, agora eu precisava de um plano para meu pai me deixar ficar... Tentei dormir mais a imagem de Ísis que eu sequer conhecia e a de Daniel se divertindo e procurando meus pais juntos me assombrava.



Entre luz e TrevasWhere stories live. Discover now