"24"

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Era uma sexta à noite quando ficar no quarto deu o que tinha que dar, e eu não aguentava mais olhar para as paredes vermelho cereja e o teto branco sem graça.
Tomei um banho e me arrumei. Creme no cabelo, vestido azul e sapatilhas. E então me dei conta de que eu não tinha ninguem com quem sair, eu estava sozinha. Mesmo assim ergui a cabeça e sai, eu sabia que Daniel iria aparecer, afinal, todas as vezes em que eu estava sosinha ele vinha me fazer compania.
Dito e feito, dez minutos depois que sai de casa ele chegou por traz e começou a andar ao meu lado.
- parece triste - ele disse pensativo - aconteceu alguma coisa?
- fora todas as coisas que você escondeu de mim todo esse tempo... - suspirei - estou bem!
- ainda acha que as coisas daquele livro são verdadeiras? - ele sorriu tentando me fazer ficar sem graça.
- conheci um arcanjo, um anjo e acho que eu... - abaixei os olhos e fitei o chão por um instante - acho que eu sou uma mentira Daniel.
- Eu não acho que você seja uma mentira... - ele me analisou - Nefilin é uma palavra mais adequada.
- o que? - Daniel sorria orgulhoso-o que quer dizer?
- meio sangue, sangue mestiço, você sabe do que estou falando.
- como sabe disso? - perguntei surpresa.
- eu estava lá, li o livro enquanto você dormia e... - ele me encarou com os olhos negros - não gosto de ver você chorando Analu.
- meu quarto? - dei um soco em seu peito e os musculos se contrairam - o que estava fazendo la?
- te vigiando! - ele sorriu orgulhoso novamente.
- me vigiando? Quem você pensa que é? - gritei - meu quarto, minhas coisas!
- Um anjo que tem como objetivo te proteger...
- Conta outra Daniel... sei muito bem o que você é.
- sabe? - ele me prensou na parede, ficando à alguns centimetros de mim, e eu pude sentir sua respiração - então me diga, o que eu sou?
- um... - seus olhos eram de uma intensidade inenarravel, e me deixavam totalmente sem ar - você é um... um...
- vamos Analu, me fale. - um canto de sua boca se ergueu, e pequenas rugasinhas se formaram ao redor de seus olhos.
- um demônio. - falei cuidadosamente.
- tem certeza disso? - ele se aproximou um pouco mais- me acha angelical?
- eu... - o perfume de Daniel era perfeito, e seus olhos tão perto dos meus estavam me fazendo sair de mim. Eu definitivamente não era confiavel na presença dele.
- você...? - ele disse lentamente.
Sem dizer mais nada fechei os olhos e segundos depois nossas bocas se encontraram, eu não me importava que ele fosse um demônio, eu não me importava com nada alem daquele beijo intenso e incrivel. Daniel enrolou o dedo indicador em um cacho do meu cabelo, e por um momento me senti total e completamente completa, e eu queria aquilo pra mim, mais beijos como aquele, eu queria Daniel, ele sendo ou não um demônio.
- Analu... - ele disse - o que está fazendo comigo?
- o que quer dizer? - perguntei meio sem graça.
- não consigo parar de beijar você!
Dizendo isso ele me agarrou novamente, mas dessa vez seus braços grandes e musculosos estavam em volta de mim, suas mãos se arrastavam em minhas costas e algumas vezes entrelaçavam em meus cabelos fando-o sorrir, mas logo em seguida ele voltava a me beijar, lentamente e intensamente.
Assim que me afastei ele me encarou sorrindo, mas não o sorriso de sempre, ele estava sorrindo de verdade, estava sorrindo para mim.
- Daniel... - falei - o que está fazendo comigo?
- meu pequeno anjo... - ele disse enquanto acariciava meus cabelos, ele parecia adorar aqueles cachos - você pode não acreditar em uma só palavra do que vou dizer, mas irei correr o risco.
O encarei, ele me deu o braço e começamos a andar.
- Posso não ser o anjo que todos esperam que eu seja, mas isso não faz de mim um demônio. - ele sorriu, mas foi um sorriso melancólico - eu... conheci uma garota à alguns anos, e ao contrario do que muitos pensam eu me apaixonei perdidamente por ela.
Ele fitou o vazio em silêncio, o encorajei a continuar balançando a cabeça repetidas vezes.
- bom... ela se foi jovem de mais, por minha culpa - ele suspirou - e então depois de décadas andando por ai eu encontrei você... à treze anos atràs.
- eu tinha apenas tres anos de idade Daniel... - falei calmamente.
- eu sei, você estava perdida, literalmente, estava sem ninguem com quem contar... - ele sorriu, estava pensativo - e seus olhos eram os mesmos olhos de Elaine, a garota por quem me apaixonei...
Eu ouvia atentamente, querendo saber aonde aquela historia levaria.
- e quando me olhou com aqueles olhinhos pequenos eu te vi como uma esperança... como minha Elaine, e então te peguei em meus braços e a fiz dormir - ele sorriu, seus olhos brilhavam - depois limpei sua memoria e procurei uma casa em que a pudesse deixar, e por sorte encontrei Anna e Rick ( papai e mamãe), eles haviam acabado de perder uma filha, ela havia sido atropelada se bem me lembro.- ele entrelaçou nossas mãos - eu limpei a memória deles, uma pequena parte é claro, e os fiz acreditar que a filha que perderam nunca existiu e que você era a verdadeira.
Uma lagrima escorreu em meus olhos, mas eu tinha que terminar de ouvir.
- fui em bora logo em seguida, e você cresceu feliz aparentemente-ele sorriu- à um ano e meio os anjos descobriram que a filha do demônio e do arcanjo existia e estava na terra, e eu fui encarregado de procura-la, e quando à vi, grande e ... tão linda eu mal pude acreditar que minha Elaine estava de volta. Te observei à distância, bolei um plano, e então descobri que iriam matar você para usar seu sangue-ele apertou minha mão, aquele era o monólogo mais interessante que eu ja ouvira - eu não iria perder minha Elaine novamente, mas eu precisava faze-los acreditar que estava fazendo o trabalho, por isso te assustei e atropelei... a proposito, sinto muito! Mas agora Analu, que te conheço, eu não vou deixar que nada aconteça a você... nunca!

Entre luz e TrevasWhere stories live. Discover now