A madrugada já avançava quando Jay percebeu que o corpo de Lissie, antes tenso e inquieto, finalmente dava lugar ao sono. O som da respiração dela ficou mais suave, mais ritmado. O rosto, antes marcado por dor e exaustão, agora parecia descansar. Ele ficou ali, imóvel por um tempo, observando em silêncio.
Havia algo quase sagrado naquele momento — a forma como ela, que tanto resistia, havia finalmente permitido um descanso.
Com cuidado, Jay moveu o braço que ainda a envolvia e se levantou. Por um instante, pensou em ir embora, mas hesitou. Olhou em volta — o apartamento pequeno, os livros empilhados, a xícara de chá esquecida — e o olhar dele voltou para ela.
Lissie dormia com a cabeça caída levemente para o lado, os cabelos bagunçados caindo sobre o rosto. Um suspiro escapou dos lábios dela, e Jay sentiu o peito apertar. Ele se abaixou, com delicadeza, e a pegou nos braços, sustentando o corpo leve dela como quem carrega algo frágil. Levou ela até o quarto e a deitou com cuidado, ajeitando o travesseiro sob a cabeça. Puxou o cobertor até o ombro dela e ficou ali por alguns segundos, apenas olhando — o tipo de olhar que carrega respeito, não curiosidade.
Antes de sair, olhou uma última vez.
— Dorme em paz, Lissie. — murmurou.
E, em silêncio, deixou o apartamento.
﹏﹏﹏﹏
Na manhã seguinte, o sol filtrava pelas cortinas, lançando uma luz dourada sobre o quarto. Lissie abriu os olhos devagar, com aquela confusão de quem não sabe exatamente onde está. O primeiro pensamento foi o mesmo de todas as manhãs: ela sozinha. Mas então, ao se sentar, notou algo diferente — o cobertor cuidadosamente ajeitado, o cheiro leve de café vindo da cozinha, e uma anotação rabiscada em um pequeno post-it sobre a mesa de cabeceira:
"Você dormiu. Eu fui embora pra não te acordar.
Se cuida, tá?
– J."
Ela ficou olhando para o bilhete por alguns segundos, e, sem perceber, um sorriso pequeno apareceu. Foi breve, mas real.
Levantou, foi até a pia, lavou o rosto e olhou o próprio reflexo. As olheiras ainda estavam lá, mas o olhar... o olhar parecia outro. Menos vazio.
Enquanto se arrumava, o som do trânsito lá fora lembrava que a vida seguia. E, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu vontade de seguir junto.
﹏﹏﹏﹏﹏
No Chicago Med, o corredor da emergência estava mais agitado que o normal. Gente entrando e saindo, pacientes novos chegando. Lissie atravessou o saguão com passos firmes, o crachá balançando no jaleco.
Maggie a viu de longe e não conteve um sorriso discreto.
— Olha só quem resolveu voltar à civilização. — disse, cruzando os braços enquanto ela se aproximava.
Lissie soltou um suspiro que se transformou em um meio sorriso.
— Eu precisava trabalhar. Ficar parada ia ser pior.
Maggie inclinou a cabeça, analisando-a com aquele olhar de quem vê além do óbvio.
— Você dormiu?
— Um pouco. — respondeu, desviando.
— Só um pouco?
Lissie respirou fundo, ainda evitando o olhar direto.
— O suficiente. — E então, por um instante, deixou o escudo baixar. — Eu... vou ficar bem, Maggie.
Maggie assentiu, sem insistir.
YOU ARE READING
Invisible String
Romance‧₊˚♡ "Something wrapped all of my past mistakes in barbed wire ‧₊˚♡ Chains around my demons Wool to brave the seasons...
