O relógio marcava quase dez e meia quando Lissie finalmente saiu do hospital. O corredor da emergência já estava mais silencioso, o cheiro de antisséptico misturado ao ar frio que entrava pelas portas automáticas. Ela ajeitou a bolsa no ombro e soltou um longo suspiro — daqueles que não são exatamente de cansaço físico, mas de alguém que carrega o peso de dias acumulados.
No estacionamento, as luzes refletiam no asfalto úmido, e a cidade respirava um frio cortante que fazia as mãos dela procurarem o bolso do casaco. Estava prestes a destravar o carro quando ouviu uma voz conhecida ecoar atrás de si:
— Trabalhando até tarde de novo, doutora?
Lissie se virou devagar, franzindo o cenho.
Jay estava ali — encostado na própria caminhonete, mãos nos bolsos do casaco escuro, com aquele meio sorriso que parecia sempre esconder alguma provocação leve.
Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa e, talvez, um pouco desconcertada.
— Halstead? O que você está fazendo aqui?
— Tinha terminado um caso e... estava passando por perto. — Ele deu um meio sorriso que deixava claro que era uma desculpa fraca. — Imaginei que você provavelmente ainda estaria no hospital.
Lissie estreitou os olhos, desconfiada.
— Então agora você anda aprendendo a minha rotina?
— Só bom de adivinhar. — Jay deu alguns passos na direção dela e estendeu uma garrafa térmica. — Com leite e chocolate, como sempre.
Ela hesitou por um instante, mas pegou o café, sentindo o calor reconfortante através do copo.
— Você tá se especializando em prever os meus gostos.
— Eu tento me adaptar. — Ele deu um passo para mais perto dela, olhando em volta. — Tá com fome? Tem um food truck aberto ali perto. Prometo que não é nada suspeito.
Lissie cruzou os braços, avaliando a proposta com o ceticismo habitual.
— E se for ruim?
— Aí você pode me culpar. — Ele respondeu, simples.
Ela segurou o riso. — Justo.
﹏﹏﹏﹏﹏﹏
O food truck ficava a duas quadras dali, cercado por uma meia dúzia de mesas metálicas e luzes amareladas. Eles sentaram lado a lado, cada um com um prato quente e uma caneca de café fumegante. O vento frio fazia o vapor subir, se misturando às risadas distantes da cidade.
A conversa começou leve. Jay comentava sobre o trânsito insuportável, ela reclamava do novo sistema eletrônico do hospital. Mas, conforme o tempo passava, o tom foi mudando — e o silêncio se instalou de forma natural.
Lissie mexia na comida, distraída, os olhos presos em algum ponto da rua. Jay observava de canto, respeitando aquele espaço invisível que ela sempre mantinha.
— Sabe — ele disse, depois de um tempo — acho que nunca conheci alguém que trabalhasse tanto quanto você.
Ela soltou um pequeno riso, mas sem humor.
— Talvez porque trabalhar é a parte mais fácil.
— E qual é a parte difícil?
Ela respirou fundo antes de responder.
— Parar.
Jay a observou, quieto.
— Parar faz a gente pensar demais. E eu já passei tempo suficiente tentando não pensar. Principalmente aqui.
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Invisible String
Romance‧₊˚♡ "Something wrapped all of my past mistakes in barbed wire ‧₊˚♡ Chains around my demons Wool to brave the seasons...
