Estar de volta a Chicago.
Durante a adolescência, isso era tudo o que Lissie Voight queria. A lembrança da cidade era um misto de nostalgia e rebeldia: os sons das sirenes, as luzes refletidas nas fachadas antigas, a sensação de que tudo podia acontecer a qualquer hora. Naquela época, ela sonhava com a volta pra casa como se fosse uma certeza de que aquilo a faria feliz, estar junto com seu pai e o meio-irmão.
Agora, anos depois, atravessando novamente as ruas familiares, essa certeza se desmanchava. Chicago parecia maior, mas ao mesmo tempo, havia uma certa familiaridade. O vento que cortava as avenidas trazia memórias, mas não aconchego. E ela repetia para si mesma uma promessa, para se manter firme: “Eu vou evitar qualquer coisa do mundo policial, e assim, vou ficar bem.” Era esse o limite que ela havia traçado, e cada passo dado dentro dessa linha era calculado.
Logo em sua chegada ao hospital Gaffney Chicago Medical Center, o ar mudou. O cheiro de desinfetante misturado ao de café fresco, os passos apressados no corredor, os monitores apitando à distância: tudo tinha o ritmo próprio de um lugar que nunca para. Lissie foi recebida pela diretora da Emergência, Sharon Goodwin, que vinha à frente com passos firmes. Ao lado, Maggie, a chefe das enfermeiras, acompanhava a nova médica com um olhar que mesclava curiosidade e acolhimento.
Sharon, com sua postura habitual, mostrava cada ala, cada detalhe do Med com a segurança de quem conhece cada centímetro daquele labirinto.
— Confesso que não lembrava que o Hank tinha uma filha da sua idade. Você cresceu muito — comentou Sharon, com um sorriso cordial enquanto caminhavam pelo corredor.
— Fiquei bastante tempo longe. Cresci, sobrevivi e agora estou aqui. — respondeu Lissie, sorrindo de leve, contido, como se estivesse acostumada a esse tipo de comentário. — Talvez a senhora esteja mais acostumada com o Justin.
Sharon assentiu, sem perder o passo.
— Isso é verdade.
— Bom, seja bem-vinda à nossa Emergência, doutora Voight — disse Maggie, estendendo a mão, com um sorriso simpático de boas-vindas.
— É Carter, na verdade — corrigiu Lissie, aceitando o cumprimento com leveza. — Uso o sobrenome da minha mãe. “Voight” tem mais peso do que parece, então decidi evitar.
Sharon e Maggie trocaram um olhar silencioso, respeitoso, daqueles que dizem muito sem palavras. Entenderam o que ela deixava subentendido: distância. E não perguntaram mais nada.
— Claro. Lissie Carter, então — assentiu Maggie, continuando com um sorriso caloroso.
O som súbito das portas da Emergência se abrindo e o barulho de rodas e vozes alterou a cena. Um grupo de paramédicos entrou apressado, empurrando uma maca. O ar se encheu de pressa; ordens sobrepostas, passos, apitos dos aparelhos. Atrás deles, dois detetives acompanhavam a cena. Lissie não os conhecia, mas percebeu o distintivo preso ao cinto de um deles, a postura alerta, os olhos atentos em tudo.
— Homem, cerca de 30 anos — informou um dos paramédicos, sem diminuir o passo. — Vítima de múltiplos disparos. Instável, GCS 9. Encontrado em um beco. Os detetives trouxeram.
Antes que Lissie pudesse perguntar algo, Maggie se virou para ela com um leve sorriso no canto da boca, uma mistura de encorajamento e aviso.
— Seu primeiro caso no Med. Direto para Bagdá, doutora Carter.
Lissie respirou fundo, e se virou para o paciente.
— Tudo bem, vamos lá.
Aproximou-se da maca, avaliando o paciente com agilidade, sem perder a calma. Sua voz saiu firme, mas tranquila, cortando o caos com instruções claras:
— Dois acessos calibrosos. Monitoramento contínuo. Avisem o banco de sangue e preparem o kit de drenagem torácica.
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Invisible String
Romance‧₊˚♡ "Something wrapped all of my past mistakes in barbed wire ‧₊˚♡ Chains around my demons Wool to brave the seasons...
