03

31 3 1
                                        

Os dias passaram rapidamente, e agora uma semana já se passou desde que Lissie Carter pisou pela primeira vez no Gaffney Chicago Medical Center. E, em sete dias, o hospital já havia testado sua paciência, sua resistência e seu senso de humor mais do que qualquer outro lugar em que trabalhara antes. Chicago era isso: imprevisível, caótica, intensa. Mas Lissie também era isso: prática, direta, preparada. Se alguém achava que ela recuaria, não a conhecia de verdade.

Naquela manhã, os corredores fervilhavam com o ritmo de sempre. O som dos monitores, o chamado no alto-falante, o vai e vem incessante de macas e profissionais. Lissie caminhava pelo corredor da emergência com o jaleco levemente desalinhado, um tablet do hospital na mão e um copo de café quase frio na outra. Não parecia cansada, embora tivesse virado a noite revisando casos. Na verdade, parecia energizada pelo caos.

Maggie a observava de longe e balançava a cabeça, um sorriso pequeno no rosto. Já começava a perceber os traços característicos da médica: profissionalismo impecável, humor sarcástico no momento certo, e uma recusa firme a qualquer intimidade que fosse além daquilo que ela permitia.

— Você já virou parte da mobília do Med — comentou Maggie, aproximando-se. — Ninguém diria que faz só uma semana.

Lissie ergueu os olhos do tablet, arqueando uma sobrancelha.

— Bom, pelo menos eu sou uma mobília funcional. Diferente dessas cadeiras da sala de descanso que rangem mais que paciente reclamando de espera.

Maggie riu, e a resposta da loira arrancou também uma risada contida de April, que passava ao lado. Esse era o efeito Carter: não fazia esforço para ser engraçada, mas a seriedade sarcástica às vezes escapava como um alívio inesperado no meio do trabalho pesado.

O movimento da manhã seguia constante, quando a entrada da emergência foi invadida por paramédicos trazendo uma maca. Adam Ruzek estava ali, segurando a mão de Kim Burgess, que claramente estava ferida. Sangue escorria pelo braço dela, havia cortes visíveis e o rosto contraído de dor.

— Precisamos de ajuda aqui! — gritou o paramédico, mas Ruzek foi mais rápido. — Foi uma perseguição, o carro bateu. Ela precisa de atendimento agora!

Lissie surgiu imediatamente, aproximando-se da maca com passos firmes. Seus olhos verdes avaliaram a cena em segundos.

— Sala três. Agora. — Sua voz não deixava margem para dúvidas.

Burgess tentava disfarçar a dor, típica resistência de policial acostumada a ferimentos, mas o corte profundo no braço exigia intervenção imediata. Lissie assumiu o comando sem hesitar.

— Dois acessos venosos. Preciso de analgesia e exames de imagem assim que estabilizarmos. — A cada instrução, a equipe se movia com precisão.

Ruzek, por sua vez, não conseguia ficar parado. Acompanhava cada movimento com olhos arregalados, nervoso, até que a voz seca de Lissie o cortou.

— Você está atrapalhando. Se não for ajudar, precisa sair.

Ele piscou, surpreso, e tentou justificar.

— Eu… é que… só quero ter certeza que ela vai ficar bem.

Lissie ergueu o olhar para ele, avaliando. O tom dela não foi ríspido, mas direto.

Invisible StringWhere stories live. Discover now