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O relógio do saguão do Chicago Med marcava pouco antes das oito quando Lissie atravessou as portas automáticas da Emergência. A manhã estava fria, e o contraste do calor interno do hospital fez seus ombros relaxarem ligeiramente. Carregava a mochila pendurada de um lado, o cabelo preso de forma prática, a expressão atenta — e, de alguma forma, diferente. Não mais leve, exatamente, mas menos fechada, como se a muralha que ela mantinha sempre à frente tivesse cedido meio centímetro.

Maggie, encostada no balcão do posto, conferia uma prancheta enquanto distribuía algumas orientações rápidas para a equipe. Ao perceber a aproximação da loira, ergueu só um pouquinho os olhos, um sorriso de canto aparecendo antes que voltasse a focar nos papéis.

— Você tá diferente. — disse, sem tirar os olhos da prancheta, a voz carregando um tom leve, quase provocativo.

Lissie parou ao lado do balcão, arqueando a sobrancelha, a boca formando uma linha reta.
— Tô com a mesma roupa de sempre. — replicou, seca, como se estivesse afirmando um fato.

Maggie levantou os olhos para ela, com um sorriso mais aberto agora, divertido.
— Tô falando da cara. Tá mais... viva.

Lissie revirou os olhos de leve, mas não conseguiu evitar que a ponta dos lábios cedesse um pouco, quase sorrindo.
— Ou é só a iluminação ruim daqui.

Maggie riu baixinho, balançando a cabeça.
— Não. Não é a luz. Mas, então… seguiu meu conselho? Sobre o Halstead?

A loira ajeitou a alça da mochila no ombro, desviando o olhar para o corredor.
— Aconteceu de eu encontrar com ele numa cafeteria. Só isso.

— Só isso… — repetiu Maggie, fingindo inocência, mas com aquele tom que denunciava que estava prestes a provocar. — E, por acaso, foi um encontro... planejado?

— Não. — Lissie respondeu rápido demais, depois respirou e corrigiu num tom mais calmo: — Foi… meio planejado. Mas foi só um café, nada além disso.

Maggie inclinou a cabeça, o sorriso crescendo, claramente se divertindo com a hesitação da amiga.
— Um café… hum. Isso explica muita coisa.

Lissie cruzou os braços, como quem queria manter uma distância segura daquele assunto.
— Não começa.

— Não tô começando, só observando. — Maggie apoiou a prancheta no balcão e se virou mais para ela, o sorriso suavizando um pouco. — Mas parece que fez bem pra você.

Houve um instante de silêncio entre as duas. O barulho característico da Emergência continuava ao redor — passos apressados, telefones tocando, o ruído das macas sendo movidas —, mas entre elas o momento era quase calmo, como uma pausa no meio do ritmo frenético.

Lissie, ainda olhando para o corredor à frente, finalmente falou:
— Eu não quero me envolver com o mundo de onde saí. — A voz saiu baixa, mas firme. — E ele… ele tá até o pescoço nisso.

Maggie a observou por alguns segundos, o sorriso desaparecendo para dar lugar a uma expressão mais suave, compreensiva.
— Talvez ele seja a exceção. — disse, com gentileza. — E você… não precisa se definir pelo que deixou pra trás.

Lissie baixou o olhar, como se a prancheta nas mãos de Maggie tivesse se tornado subitamente interessante. Demorou um pouco, mas assentiu de forma quase imperceptível, um gesto mínimo que dizia mais do que as palavras que vieram depois.
— Foi só um café.

Maggie voltou a sorrir, dessa vez com um toque de carinho e um pouco de humor que fazia parte da amizade entre as duas.
— É. Mas você voltou com cara de quem ficou até o último gole.

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