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Era uma tarde fria de outono em Chicago, do tipo em que o vento cortante se infiltrava até por baixo do casaco. Lissie estava em casa, no pequeno apartamento que alugou quando voltou para a cidade. O lugar era funcional: poucos móveis, uma estante com livros médicos e alguns romances que quase nunca tinha tempo de abrir, plantas discretas no parapeito da janela e uma cozinha que mais parecia um posto de café do que um espaço para cozinhar de verdade.

A loira estava sentada no sofá, com as pernas dobradas sob si, uma caneca de chá nas mãos e o tablet no colo, lendo um artigo de pesquisa sobre novos protocolos de trauma — dia de folga, teoricamente, mas ainda ligada ao trabalho.

O celular vibrou sobre a mesa de centro. Ela lançou um olhar breve para a tela: Halstead.

Um canto de seu lábio se curvou num sorriso discreto, que ela não se permitia admitir. Pegou o celular e atendeu.

— Halstead. — disse num tom que misturava reconhecimento e leve ironia.

Do outro lado, a voz dele veio com um tom descontraído:

— Carter. O que você tá fazendo nesse seu famoso dia de folga?

— Lendo. — respondeu ela com naturalidade. — O que mais eu faria?

— Não sei… qualquer coisa que não envolva relatórios médicos.

Ela ergueu uma sobrancelha, como se ele pudesse ver.

— É um bom jeito de passar o tempo.

— Não é, não. — retrucou ele, rindo. — Você precisa sair um pouco.

Ela recostou-se no sofá, soltando um suspiro leve, que mais parecia um meio sorriso.

— E o que você sugere, detetive?

Houve uma breve pausa do outro lado, como se ele estivesse escolhendo as palavras.

— Que tal eu te buscar em meia hora? Prometo que não tem nada a ver com a polícia.

Lissie hesitou, olhando de relance para a pilha de anotações médicas na mesinha. A ideia de simplesmente sair parecia estranha — quase imprópria. Mas algo na voz dele, naquela promessa de que não era sobre trabalho, fez com que ela largasse a caneca na mesa.

— Tá bem. Meia hora. — disse, um pouco mais seca do que pretendia. — Mas não precisa vir ao meu apartamento. Eu te mando um endereço.

Quando desligou, sentiu um pequeno aperto no peito — aquela sensação desconfortável de estar prestes a sair do território seguro da rotina.

﹏﹏﹏﹏﹏﹏

Meia hora depois, Lissie foi até uma padaria perto do seu apartamento, endereço o qual ela mandou para o Jay. De suéter grosso cinza, jeans e um sobretudo preto, ela desceu os degraus do prédio. O vento frio fez seus cabelos loiros caírem para a frente do rosto enquanto ela fazia seu caminho para a padaria.

Jay já estava lá, encostado na caminhonete, as mãos nos bolsos do casaco, e abriu um sorriso contido ao vê-la se aproximando.

— Pronta para descobrir que a vida existe fora do Med?

— Vou fingir que isso não foi uma provocação. — respondeu ela, erguendo levemente uma sobrancelha.

Ele riu e fez um gesto para que ela subisse.

— Confia em mim. Não é nada radical.

No caminho, Lissie observava a cidade pela janela, o que sempre fazia quando queria manter a mente ocupada. Jay, de vez em quando, lançava olhares rápidos, percebendo que ela estava mais quieta que o normal — mas não a forçou a falar.

Invisible StringWhere stories live. Discover now