08

22 4 0
                                        

Um tempo depois, ainda na lanchonete do Med, Jay recostou-se levemente na cadeira, cruzando os braços num gesto despreocupado, como se estivesse tentando encontrar um ponto de entrada na muralha que Lissie parecia manter. O sorriso dele era discreto, quase irônico, mas os olhos guardavam um brilho paciente — algo entre curiosidade e desafio.

— Sabe… — começou, num tom leve, quase como quem joga uma provocação casual. — Você continua difícil de ler. Pensei que, depois daquele café, eu teria conseguido avançar pelo menos uns dois centímetros nessa barreira aí.

Lissie ergueu uma sobrancelha, sem disfarçar a ponta de diversão no olhar.

— Eu avisei na cafeteria, Halstead. — Ela levou a caneca de café aos lábios, calmamente. — Três perguntas. Só aquelas respostas. Não prometi nada além disso.

— É, eu lembro. — Jay apoiou o cotovelo na mesa e inclinou a cabeça para o lado, sorrindo de leve. — Mas achei que, com o tempo, você ia esquecer da regra.

— Costumo lembrar das coisas que me protegem. — A voz dela não soou ríspida; na verdade, parecia uma constatação simples, com um tom quase sereno.

Jay não recuou. Continuou com aquele ar de quem encara a barreira não como um muro intransponível, mas como um desafio interessante.

— E o que exatamente você acha que eu faria se soubesse mais sobre você? — perguntou, mantendo a voz baixa, sem acusação, só curiosidade.

Lissie desviou o olhar para a xícara nas mãos, girando-a lentamente entre os dedos, como se escolhesse as palavras com cuidado.

— Não é sobre você, Halstead. É sobre mim. — Ela voltou a encará-lo, os olhos claros refletindo uma franqueza contida. — Contar mais… significa revisitar coisas que eu não quero. Pelo menos não agora.

O detetive assentiu devagar, respeitando a linha que ela traçara. Ainda assim, o sorriso no canto da boca não desapareceu.

— Tudo bem. — Fez uma pausa curta. — Mas eu vou continuar tentando.

Lissie não conseguiu evitar o riso leve que escapou, um daqueles risos que surgem sem permissão, mais como um suspiro divertido do que como uma gargalhada.

— Por que eu não estou surpresa? — murmurou, sacudindo a cabeça.

— Porque você é esperta. — Jay apoiou o queixo na mão, como quem admite uma verdade. — E também porque, no fundo, você sabe que eu não sou do tipo que desiste fácil.

Ela desviou o olhar outra vez, agora com um sorriso discreto que quase não se deixava ver. Por alguns segundos, o silêncio entre eles foi mais leve, não como um muro, mas como um intervalo de trégua.

Jay aproveitou a brecha.

— Então, já que não posso perguntar sobre o seu passado… me diz pelo menos o que você gosta de fazer quando não está enfiada no hospital. — A voz dele estava calma, sem pressão, quase amistosa.

Lissie deixou escapar um suspiro suave, como quem considera a pergunta com uma pitada de relutância.

— Acho que eu desaprendi a ter hobbies. — Admitiu, apoiando um cotovelo na mesa e passando o dedo pela borda do copo. — Antes eu gostava de correr. Não maratonas, nada competitivo… só correr. E ler. Mas desde que voltei pra cá… — Ela parou por um instante, balançando levemente a cabeça. — Não tenho feito muito além de trabalhar.

— Isso explica muita coisa. — Jay arqueou uma sobrancelha, sorrindo de leve. — Trabalhar demais e não fazer nada que relaxe. Nenhum doce salva alguém assim.

Invisible StringWhere stories live. Discover now