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O resto do turno passou em um turbilhão de atendimentos. Emergências chegando em sequência, alarmes soando, pacientes sendo encaminhados. O tipo de dia em que o Med parecia girar em torno do próprio caos — e ainda assim, Lissie seguiu no automático, como sempre. Mas agora havia algo diferente.

Entre um caso e outro, as palavras da Maggie continuavam ecoando dentro dela. "Nem todo policial é o seu pai. E nem toda história precisa terminar como a dele."

Ela repetia isso mentalmente, como quem testa o peso de uma frase. Às vezes, soava como esperança. Em outras, como uma provocação incômoda.

Por volta das seis da tarde, quando o movimento finalmente começou a desacelerar, Lissie se permitiu sentar no posto de enfermagem. A luz do fim de tarde atravessava as janelas do pronto-socorro, tingindo de dourado os corredores frios. A loira apoiou os cotovelos na bancada, observando o soro pingar lentamente no monitor de um dos pacientes à distância.

— Dia longo, hein? — A voz de April quebrou o silêncio, enquanto ela se aproximava com duas canecas de café nas mãos.

— Tá sendo. — respondeu Lissie, aceitando a caneca com um leve sorriso. — Obrigada.

— A Maggie me contou que vocês conversaram. — disse April, sentando ao lado dela. — Ela disse que você precisava de um café, e eu... bem, sigo ordens da Maggie.

Lissie soltou um suspiro, mexendo no café. — Eu devia começar a cobrar por tanto tempo de terapia disfarçada.

April riu. — A Maggie só se preocupa. E com razão. Você anda parecendo... — ela fez um gesto vago com as mãos — meio fora daqui.

— É. — Lissie apoiou o queixo na mão. — Às vezes eu tô mesmo.

As duas ficaram em silêncio por um instante. O tipo de silêncio que não incomoda, que apenas existe entre pessoas que se entendem sem precisar dizer muito.

April olhou para ela de lado. — Então... o detetive Halstead de novo, né?

Lissie arqueou uma sobrancelha, sem olhar diretamente. — Todo mundo resolveu virar especialista na minha vida pessoal hoje?

— Nem precisa ser especialista pra ver, doutora. — brincou April. — É só prestar atenção.

Lissie bufou, mas o canto da boca denunciou um pequeno sorriso. — A gente conversou ontem à noite. Só isso.

— "Só isso" — repetiu April, com um tom divertido. — E você tá aí, parada há cinco minutos, olhando pro nada, como quem tá revendo cada palavra mentalmente.

A médica fingiu não ouvir, mas o olhar mais suave que lançou à janela a entregou.

Depois de alguns segundos, April ficou mais séria. — Ele é um cara bom, Liss. Um dos raros.

— Ele é. — admitiu a loira, quase num sussurro. — E é exatamente isso que me deixa confusa.

April inclinou a cabeça, curiosa. — Confusa como?

— Porque quanto mais eu percebo que ele é bom, mais eu tenho medo de me aproximar. — Lissie deu uma risadinha amarga. — Eu sei que parece contraditório.

— Não parece, não. — respondeu April. — Só parece humano.

As duas se olharam, e April sorriu, gentil. — Você sabe, o mundo policial e o hospital não são tão diferentes. Os dois lidam com dor, perda, gente tentando consertar o que não tem conserto. Mas isso não quer dizer que você tenha que se afastar de tudo que te lembra o que doeu. Às vezes é ali que a cura começa.

Lissie respirou fundo, absorvendo as palavras. — Eu só não quero que ele entre num buraco que não tem nada a ver com ele.

— Então mostra pra ele que dá pra ficar do lado de fora. — sugeriu April. — Você não precisa esconder o que sente pra se proteger. Às vezes, deixar alguém ver que você tem medo é o que torna tudo mais real.

Invisible StringWhere stories live. Discover now