Seguiu o mapa que Sharon havia enviado, e quando chegou à quadra indicada, parou.
Ali estava.
Justin Voight.
Datas que agora marcavam o início e o fim de uma vida que, pra ela, nunca deixou de ser inacabada.
Lissie ficou imóvel por um longo tempo. O coração batendo devagar, os olhos fixos no nome gravado na pedra.
O tempo parecia se curvar, o som do mundo se apagando até que tudo o que restava era o vento e a lembrança.
Ajoelhou-se, apoiando uma das mãos no chão frio.
Os dedos tocaram a borda da lápide com cuidado, como se o simples toque pudesse acordar algo adormecido há anos.
— Oi, Justin... — disse, e a voz saiu baixa, trêmula.
Um silêncio longo se seguiu, o tipo de silêncio que pesa mais do que qualquer palavra. Ela respirou fundo e continuou:
— Eu... nem sei por onde começar. — Um riso nervoso escapou, pequeno, quebrado. — Faz tanto tempo que eu não falo com você.
Olhou para a lápide outra vez, e as lágrimas vieram sem aviso.
— Eu senti tanto a sua falta, Justin. — confessou, num sussurro que parecia doer até pra existir. — Eu sei que éramos só crianças, mas você e a Camille... vocês eram tudo o que eu tinha. Mesmo quando o mundo lá fora parecia um caos, eu sempre achava que enquanto a gente estivesse junto, ia ficar tudo bem.
Fechou os olhos, e as lembranças vieram em fragmentos:
O quintal pequeno da casa antiga, as brincadeiras de "polícia e ladrão", o riso dele quando ela o "prendia" fingindo colocar algemas feitas de fita, os gritos da mãe chamando os dois pra jantar. Era um tempo em que o mundo ainda fazia sentido.
— Lembra de quando a gente brincava "polícia e ladrão"? — ela murmurou, sorrindo por entre as lágrimas. — Eu nunca deixava você ser o policial. Dizia que esse era o meu papel. E você reclamava, mas acabava aceitando. — Respirou fundo, o sorriso se desfazendo. — Acho que, no fundo, eu só queria ser como o papai naquela época. Achava que ele era um herói. Que o trabalho dele salvava o mundo.
O olhar dela desceu para o chão. A voz foi ficando mais pesada, embargada.
— Mas ele não salvou a gente, não é? — disse, quase num sussurro. — Ele nos afastou. Me mandou embora. E eu nunca entendi o porquê. Um dia eu tinha uma família... e no outro, eu tava num avião pra Portland, indo morar com uma família que nem me conhecia.
Os dedos apertaram o tecido do casaco, tentando conter o tremor que vinha.
— Ele disse que era pra minha segurança. — continuou. — Mas o que ele nunca explicou foi por que não me procurou depois. Por que sumiu, por que nunca mandou uma carta, nunca atendeu uma ligação. — A respiração acelerou. — Você ficou aqui, e eu... eu fiquei lá, tentando me convencer de que um dia ele ia aparecer na porta, dizendo que tava tudo bem. Que a gente podia voltar pra casa.
As lágrimas começaram a cair sem resistência.
— Só que ele nunca veio, Justin. — A voz quebrou. — Nunca.
Por um instante, o vento soprou mais forte, e ela fechou os olhos, sentindo o ar frio cortar a pele. O silêncio era quase sagrado, o tipo que parece escutar de volta.
— Eu sempre achei que, de algum jeito, você tava bem. — disse, num tom mais baixo. — Que você tinha seguido em frente. Que o papai ainda cuidava de você, mesmo tendo me mandado embora. — A pausa foi longa. — Mas ele nem isso conseguiu fazer direito.
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Invisible String
Romance‧₊˚♡ "Something wrapped all of my past mistakes in barbed wire ‧₊˚♡ Chains around my demons Wool to brave the seasons...
