— Sempre. — ele respondeu, e o som suave da ligação se encerrando ecoou no ar.
Lissie ficou parada, o celular ainda na mão, como se o gesto de desligar não tivesse sido o suficiente para encerrar a conversa. O nome dele ainda brilhava na tela escura antes de apagar.
"O passado me aparecendo de novo." As próprias palavras dela voltaram à mente, ecoando como um lembrete cruel. E era isso mesmo. O passado nunca tinha ido embora — só tinha ficado quieto tempo o bastante para ela acreditar que estava livre.
Olhou em volta: o apartamento silencioso, o café frio, as cortinas abertas demais. Tudo parecia distante, como se não pertencesse mais àquele lugar.
Deixou o celular sobre o sofá e ficou olhando o nada. Lá fora, a luz começava a mudar, e um vento leve balançava a cortina. A sensação de vazio crescia, mas vinha acompanhada de uma certeza estranha — uma que ela não queria sentir, mas sabia que precisava: era hora de ir.
Não pra fugir. Mas pra encarar.
Respirou fundo e caminhou até o quarto. Pegou o casaco pendurado atrás da porta e o vestiu devagar, como quem se prepara para algo que exige coragem. No espelho do corredor, o reflexo mostrava um rosto cansado, os olhos vermelhos e o cabelo preso de qualquer jeito. Não havia vaidade ali, só a necessidade de seguir em frente.
Abriu o aplicativo de mensagens e viu o endereço que Sharon tinha enviado. O nome do cemitério parecia pesar na tela, como se as letras tivessem corpo. Tocou o visor por um instante, sem realmente ler, e depois bloqueou o celular.
O relógio marcava onze.
O dia ainda nem tinha começado direito, mas pra Lissie, parecia já ter vivido semanas inteiras.
Pegou as chaves sobre a mesa, respirou fundo e, antes de sair, olhou de novo pro apartamento. O silêncio continuava o mesmo, mas havia algo diferente nela — uma decisão.
Não havia como mudar o passado, mas talvez houvesse um jeito de fazer as pazes com ele. Mesmo que isso significasse encarar o túmulo do próprio irmão.
Ela fechou a porta atrás de si.
Do lado de fora, o vento da manhã era frio, mas trouxe um respiro que ela não sentia há muito tempo. O tipo de frio que acorda, que faz o coração lembrar que ainda está ali, batendo.
Enquanto caminhava em direção ao carro, uma única certeza a acompanhava: não importava o quanto doesse, ela precisava ver o Justin. Precisava se despedir.
E, talvez, naquele mesmo gesto silencioso, começasse — finalmente — a se perdoar.
﹏﹏﹏﹏﹏﹏
O cemitério ficava silencioso naquela hora da tarde, envolto por um vento frio que soprava entre as árvores, balançando as folhas secas que cobriam parte do chão. Lissie estacionou o carro perto da entrada e ficou dentro dele por alguns minutos, observando o portão de ferro à frente — um obstáculo simples, mas que parecia mais difícil de atravessar do que qualquer coisa que já enfrentara.
As mãos estavam firmes no volante, embora o coração batesse descompassado. Respirou fundo, olhou o céu, e tentou reunir coragem.
Não era uma médica agora. Não era a profissional que enfrentava emergências com precisão e frieza.
Era só uma mulher tentando dizer adeus a alguém que amou e perdeu sem nem saber.
Finalmente, desligou o motor e abriu a porta. Cada passo no caminho de pedras parecia ecoar alto demais. À medida que caminhava, lia os nomes nas lápides — cada um contando uma história encerrada.
YOU ARE READING
Invisible String
Romance‧₊˚♡ "Something wrapped all of my past mistakes in barbed wire ‧₊˚♡ Chains around my demons Wool to brave the seasons...
