Lissie finalmente levantou o olhar.

— Você é teimoso.

— Costumo ouvir isso. — Ele deu um meio sorriso. — E, pra ser honesto, eu não pretendo mudar.

Ela balançou a cabeça e se levantou, um sorriso discreto surgindo apesar da tensão.

— Você é um problema, Halstead.

— E você parece adorar resolver problemas.

Dessa vez ela riu, um som suave que quebrou o peso do momento. Ainda assim, não pegou a mão dele — mas também não deu as costas.

Eles caminharam lado a lado até o carro dela. Lissie abriu a porta, apoiou o café no teto e olhou para ele uma última vez.

— Boa noite, detetive.

— Boa noite, doutora. — respondeu, com aquele olhar que dizia muito mais do que as palavras.

Ela entrou no carro e partiu, deixando Jay parado sob o frio, observando as luzes vermelhas se afastarem.

E ele ficou ali por um instante, sorrindo sozinho, sabendo que, por mais lentos que fossem os passos dela, Lissie estava começando a deixar alguém se aproximar — mesmo que ainda não admitisse isso pra si mesma.

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O pronto-socorro estava em puro caos naquela manhã. Monitores apitando, enfermeiros cruzando os corredores às pressas, pacientes chegando em sequência — um cenário que exigia foco absoluto. E, ainda assim, Lissie Carter parecia se mover no modo automático.

Prescrevia, avaliava, conversava com calma com cada paciente, mas por dentro, a mente dela não parava. Cada pausa entre um atendimento e outro era invadida pelas lembranças da noite anterior.

As palavras que ela mesma disse para Jay ecoavam como uma ferida aberta.

"Existem coisas sobre a minha vida que eu nunca vou poder te contar."

"Não seria justo com você."

O problema era que ele não reagiu com raiva ou frustração. Não houve defesa, nem cobrança. Só aquele olhar tranquilo, paciente, compreensivo demais — o tipo de reação que deixava tudo ainda mais difícil. Porque era muito mais fácil afastar alguém quando esse alguém revidava. Mas Jay não revidou. Ele ficou ali. Esperando.

Lissie estava tentando se concentrar no tablet, revisando exames, quando uma voz conhecida a trouxe de volta.

— Terra chamando doutora Carter — disse Maggie, apoiando-se no balcão, com um tom entre divertido e atento. — Tá me ouvindo ou tá planejando algum projeto de fuga?

Lissie piscou, desviando os olhos da tela. — Desculpa. Tô só... cansada.

— Cansada, eu acredito. Mas tem mais coisa aí. — Maggie cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha. — Esse seu olhar eu já vi antes, e da última vez envolvia algo que tinha nome e sobrenome.

A loira suspirou, rendida. — Tá. Você tem cinco minutos.

— Vem comigo. — Maggie apontou para a sala de descanso.

Lá dentro, o barulho do hospital se tornou um fundo distante. Lissie se sentou na beira da poltrona, os dedos inquietos.

— Ontem à noite o Halstead apareceu aqui. — começou ela, sem rodeios. — Me esperou sair do plantão, trouxe café, e me levou pra jantar num food truck. Foi bom. Simples, leve... até o momento em que eu estraguei tudo.

— Estragou como?

— Quando ele foi me levar até o carro, estendeu a mão. E eu... travei. — Lissie soltou um riso curto, quase sem humor. — Era só um gesto, não era grande coisa, mas me deu aquele estalo de que talvez eu nem devesse estar ali com ele. Então eu disse umas coisas que soaram mais duras do que eu queria. Disse que existem coisas sobre a minha vida que eu nunca vou poder contar, e que não seria justo, porque ele é o tipo de pessoa que precisa entender as coisas, e eu... não quero abrir certas portas.

Invisible StringWhere stories live. Discover now