Ele manteve o olhar firme, mas a voz saiu baixa:

— E agora?

Lissie levantou os olhos, e havia um sorriso cansado, quase resignado, no rosto dela.

— Agora eu tenho você insistindo pra eu aprender a relaxar.

Ele riu de leve.

— Alguém tem que fazer o trabalho difícil, certo?

O riso dela veio dessa vez mais solto, e por alguns segundos, o peso que a acompanhava parecia se dissipar. Eles ficaram ali, lado a lado, observando o movimento da cidade. Aquele silêncio, em vez de desconfortável, parecia um entendimento mútuo.

Quando terminaram de comer, Jay se levantou primeiro e estendeu a mão.

— Vamos. Eu te levo até o carro.

Lissie olhou para a mão dele por um instante. O gesto simples fez algo apertar dentro dela. E, quase de imediato, o sorriso sumiu. As barreiras voltaram — aquelas que ela vinha tentando manter em pé desde o primeiro dia.

— Halstead... — a voz dela soou mais baixa, contida.

Jay franziu o cenho, confuso.

— O que foi?

— Talvez... isso seja errado. — Ela evitou o olhar dele. — Eu nem deveria estar aqui com você.

Ele suspirou, cruzando os braços, tentando entender.

— É por causa do meu trabalho? — perguntou, direto. — Porque eu sei que você tenta se manter longe desse mundo, mas eu não—

— Não se trata só do seu trabalho. — Lissie o interrompeu, o tom firme, embora os olhos revelassem uma hesitação rara. — Existem diversas coisas sobre a minha vida, sobre o meu passado, que eu nunca vou poder te contar. Coisas que... eu não quero te contar.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, observando-a.

— Você acha que eu preciso saber tudo pra me importar?

— Eu acho que você merece mais do que um mistério sem previsão de respostas. — Ela respirou fundo. — Não seria justo com você. Não é normal pra você aceitar coisas sem explicações, sem descobrir mais. Da mesma forma que não é da minha natureza entregar explicações sobre mim.

Jay se aproximou um pouco mais, a voz baixa, firme, mas sem pressão.

— Você acha que eu tô aqui porque quero respostas? Eu só... quero estar aqui. Só isso.

Ela desviou o olhar, apertando a garrafa nas mãos.

— É que nada na minha vida é "só isso", Halstead. Não é tão simples. E você parece ser alguém que gosta das coisas claras, definidas.

Ele sorriu, com um humor contido.

— Eu trabalho com crime organizado, Lissie. Se eu gostasse de coisas simples, teria escolhido outro caminho.

Ela quase riu, mas logo suspirou. O ar frio formou uma pequena nuvem à frente do rosto dela.

— Você não entende. Eu... eu não quero te arrastar pra dentro de algo que nem eu mesma consigo encarar direito.

Jay a olhou com uma expressão que misturava preocupação e calma.

— Então me deixa ficar do lado de fora... pelo menos. — disse, em tom baixo. — Eu não preciso entrar no seu passado pra querer estar no seu presente.

As palavras ficaram suspensas entre eles, mais fortes do que qualquer promessa.

Por um momento, o silêncio foi absoluto — só o som distante da cidade, o frio cortando o ar e o café esfriando nas mãos dela.

Invisible StringWhere stories live. Discover now