Dentro do carro, Jay ficou observando ela caminhar, os lábios curvados num sorriso que não tentou disfarçar. Quando ligou o motor, pensou que talvez tivesse encontrado uma pequena brecha naquela muralha que ela erguia ao redor de si.

Para Lissie, no entanto, a tarde deixava um sentimento diferente: uma mistura de cautela e curiosidade. Não era fácil abrir espaço para algo que não fosse o trabalho, mas, pela primeira vez desde que voltara a Chicago, ela não tinha se arrependido de ter saído de casa num dia de folga.

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O dia seguinte amanheceu cinzento, com nuvens pesadas cobrindo o céu da cidade. O frio de outono deixava as ruas mais silenciosas que o normal. No Distrito 21, a rotina matinal já estava em andamento: detetives revisando relatórios, uniformizados indo e vindo, o telefone tocando de tempos em tempos.

Jay entrou na sala da Inteligência com um café na mão e uma expressão pensativa, que não passou despercebida por Hailey. Ela estava sentada à sua mesa, revisando um arquivo, e ergueu o olhar assim que ele passou.

— Bom dia — saudou ela com um sorriso leve. — Não parece que dormiu muito.

Jay deu de ombros, largando o casaco na cadeira.
— Dormi. Só… estava pensando.

Ruzek, que estava encostado na mesa dele, folheando um relatório, arqueou a sobrancelha com um sorriso provocativo.
— Aposto que estava pensando na Dra. Carter.

Jay revirou os olhos, mas não respondeu de imediato, o que foi o suficiente para Hailey soltar uma risada baixa.
— Não me diga que está começando a gostar de passar mais tempo no Med.

Jay se jogou na cadeira, tomando um gole do café.
— Não é bem assim. — Fez uma pausa, olhando para o monitor desligado na frente. — Eu só… tentei fazer com que ela relaxasse um pouco ontem.

Hailey ergueu uma sobrancelha, interessada.
— Relaxar? Como assim?

— Levei ela pra uma oficina de cerâmica. — Ele sorriu de leve, lembrando da tarde anterior. — Não que tenha sido um sucesso artístico, mas… foi legal. Ela riu. Não parece muito, mas é um progresso.

Ruzek soltou uma risada abafada.
— Então é isso. Você está oficialmente no modo “projeto de reabilitação emocional”.

Jay franziu a testa, mas sem perder o humor.
— Não é um projeto. É só… — procurou as palavras certas. — Acho que ela precisa de um pouco de normalidade. Desde que voltou pra Chicago, parece que só existe trabalho na vida dela.

Hailey apoiou o queixo na mão, observando-o.
— E você está determinado a mudar isso.

Ele não negou. Apenas encolheu levemente os ombros.
— Alguém tem que tentar.

A provocação nos olhos de Hailey suavizou, dando lugar a um olhar mais sério.
— Ela te contou mais alguma coisa sobre a vida dela?

Jay fez que não com a cabeça.
— Só algumas coisas… perdas, família complicada. Não entra em detalhes. E quando o assunto chega perto do meu trabalho, ela corta logo. Disse que, se eu quiser continuar vendo ela, preciso aceitar que não vou falar de polícia com ela.

Ruzek assobiou baixo.
— Essa é nova.

— É, mas acho que tem mais a ver com o que ela viveu antes. — Jay olhou para a mesa, com um tom mais reflexivo. — Dá pra ver que tem coisas pesadas ali. Eu só não sei o quê. Ainda.

Hailey respirou fundo, cruzando os braços.
— E isso não te assusta, né?

— Assusta um pouco. — Ele admitiu. — Mas também… acho que vale a pena tentar.

O breve silêncio que se seguiu foi interrompido quando Voight saiu da sala dele, chamando a equipe para uma atualização de caso. O clima leve se dissipou aos poucos, substituído pela seriedade de sempre.

Enquanto se levantava, Jay ainda sentia na mente a imagem da Lissie na tarde anterior: mais descontraída do que ele já a tinha visto, as mãos cobertas de argila, sorrindo sem perceber. Ele não tinha ideia do que o futuro reservava, mas a lembrança daquele sorriso bastava para lhe dar algum tipo de determinação silenciosa.

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Naquela mesma manhã, no Med, Lissie estava de folga novamente, mas decidira passar algumas horas no hospital para terminar uns relatórios pendentes. Vestia roupas casuais, o cabelo preso de maneira prática.

Maggie a encontrou no corredor, surpresa.
— Você não consegue ficar longe daqui nem no dia de folga, não é?

Lissie sorriu de leve, erguendo a pasta de relatórios.
— Prometo que é só por algumas horas.

— Claro… — disse Maggie, cruzando os braços com um sorriso divertido. — Só espero que tenha aproveitado ontem. Ouvi falar que saiu com alguém.

A sobrancelha de Lissie se arqueou num misto de surpresa e resignação.
— Essa cidade precisa de novos assuntos.

— Não é a cidade — rebateu Maggie, rindo. — São as pessoas que gostam de ver você finalmente tirando um tempo pra si mesma.

Lissie não respondeu, apenas desviou o olhar com um sorriso pequeno, quase imperceptível. Não era algo que admitisse facilmente, mas, de fato, a tarde anterior tinha deixado um resquício de leveza que ela não sentia há muito tempo.

Invisible StringWhere stories live. Discover now