— Foi menos terrível do que eu esperava. — admitiu ela, o tom quase brincalhão.

— Esse é um dos melhores elogios que eu já recebi. — respondeu ele, sorrindo.

Ela balançou a cabeça, sem conter um pequeno sorriso.

— Não se acostuma.

Ele riu, mas não insistiu. O silêncio que os acompanhou no caminho de volta não era pesado; era tranquilo, do tipo que deixa espaço para algo que ainda está se construindo, devagar.

Quando Jay estacionou em frente a padaria novamente, o céu de Chicago já estava tingido de tons alaranjados e rosados do entardecer. O vento frio que soprava pelas ruas arrancava algumas folhas amareladas das árvores, espalhando-as pela calçada.

Lissie ficou um instante olhando para a fachada do pequeno prédio antes de soltar o cinto de segurança. Não parecia ansiosa nem desconfortável, mas havia algo em seu semblante que indicava que ela ainda estava processando a tarde.

— Obrigada… — disse por fim, virando-se para ele. — Pela ideia. Foi… diferente.

Jay apoiou o braço esquerdo no volante e inclinou-se um pouco na direção dela, sorrindo de leve.

— “Diferente” eu vou considerar como um elogio.

Ela deixou escapar uma risada breve, baixa, antes de balançar a cabeça.

— Você realmente não desiste fácil, né, Halstead?

— Depende do que está em jogo. — respondeu ele com um tom mais leve. — Mas eu já tinha decidido que você precisava de um dia sem plantão e sem tablet.

Lissie mordeu levemente o lábio inferior, segurando o riso. O modo como ele dizia aquilo, com aquela naturalidade, ainda a pegava de surpresa.

— E você decidiu isso por mim.

— Alguém tinha que decidir. — replicou ele, erguendo uma sobrancelha. — Pelo jeito, você ia passar o dia inteiro lendo artigos médicos.

Ela bufou, fingindo indignação.

— Não é um crime querer me manter atualizada.

— Não é, mas… todo mundo precisa respirar.

O comentário dele pairou por um momento. Lissie desviou o olhar para a janela, observando o reflexo das luzes da rua no vidro. Parecia pensar em alguma resposta, mas acabou apenas dizendo:

— É mais difícil do que parece.

Jay não pressionou, apenas assentiu devagar, respeitando aquele limite silencioso que ela estabelecia.

Quando ela abriu a porta para descer, ele chamou, em tom mais descontraído:

— Carter.

Ela se virou, uma das mãos segurando a alça da bolsa.

— Hm?

Ele ergueu a peça de argila mal acabada que haviam feito na oficina, estendendo o objeto para ela, com um sorriso divertido.

— Na próxima vez, eu espero ver você fazendo algo um pouco mais sofisticado que um cilindro torto.

Lissie arqueou uma sobrancelha, segurando uma risada, e pegou a peça.

— Não prometo nada. E o seu também ficou meio torto.

Jay riu.

— Até mais, doutora.

Ela balançou a cabeça levemente, ainda com um pequeno sorriso no rosto, e fechou a porta do carro. Enquanto fazia o seu caminho de volta ao seu prédio, Lissie sentia a estranha leveza que vinha depois de um dia que não seguiu seu roteiro usual.

Invisible StringWhere stories live. Discover now