Lissie riu com suavidade, sacudindo a cabeça.

— Vou fingir que não ouvi essa parte.

— Ei, não estou julgando. — Jay ergueu as mãos num gesto de rendição, ainda sorrindo. — Mas… bom, talvez seja um pouco.

Ela respirou fundo, como quem finalmente deixava o peso dos últimos minutos de lado. O clima parecia ter afrouxado, e a tensão que costumava estar presente entre eles agora dava lugar a uma conversa que, embora ainda cercada de cuidado, começava a parecer natural.

Por um instante, Jay ficou só olhando para ela, o sorriso menos evidente agora, mas presente no jeito como os olhos se fixavam nela — um olhar atento, não invasivo, mas curioso.

— Você está mesmo determinada em manter esse mistério todo, não é? — disse, mais como uma observação do que como uma crítica.

Lissie manteve o sorriso leve, os olhos firmes nele.

— Talvez eu só esteja esperando pra ver se vale a pena contar mais.

Jay segurou o riso, balançando a cabeça.

— Isso parece um teste.

— Talvez seja. — Ela respondeu, dando de ombros, como se dissesse que não havia nada de errado nisso.

O relógio preso à parede próxima marcou o fim do intervalo dela, o ponteiro dos minutos avançando impiedosamente. Lissie olhou de relance, depois apoiou as mãos na mesa e se levantou.

— Preciso voltar pro plantão. — disse, sem pressa, mas com aquela firmeza tranquila de quem sabe exatamente o que deve fazer.

Jay também se levantou, alisando a jaqueta com um gesto rápido.

— Acho que vou te deixar trabalhar. — Disse, mas sem perder o tom leve. — Mas vou cobrar mais respostas na próxima vez.

Lissie parou ao lado da cadeira, ajeitando a manga do jaleco antes de responder.

— Vai ter que continuar tentando, Halstead.

Ele sorriu, inclinando levemente a cabeça, aceitando a provocação como um convite para insistir.

— Justo.

Lissie o observou por um instante, e então, com um breve aceno de cabeça, virou-se em direção ao corredor que levava de volta à emergência. Jay ficou alguns segundos parado, vendo-a se afastar, antes de caminhar para a saída do hospital.

O som dos passos dela se misturou ao burburinho do hospital que nunca dormia, enquanto ele seguia para a noite fria de Chicago — cada um voltando ao seu mundo, mas levando consigo a lembrança daquele pequeno espaço de conversa que, de algum modo, aproximava-os mais do que qualquer resposta direta poderia fazer.

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O Distrito 21 estava mergulhado naquele burburinho típico de fim de tarde: o tilintar de telefones, o zumbido de conversas entre as mesas, o som de passos apressados no piso desgastado. Jay entrou pelo saguão principal com a jaqueta ainda entreaberta, os cabelos um pouco bagunçados pelo vento frio de Chicago. Havia algo mais leve na expressão dele — não um sorriso escancarado, mas a sombra de quem teve um momento bom no meio da rotina.

Hailey, sentada na própria mesa, percebeu a entrada dele imediatamente. Levantou o olhar do relatório que digitava e arqueou uma sobrancelha com um sorriso que deixava claro que estava prestes a provocar.

— Olha só quem voltou do hospital… de novo. — A voz dela saiu carregada de ironia amistosa.

Jay passou direto pela mesa dela em direção à sua própria, largando a jaqueta nas costas da cadeira, fingindo indiferença.

— Bom te ver também, Upton.

Antes que pudesse sentar, Ruzek surgiu do lado da máquina de café com um copo descartável na mão e aquele sorriso de quem não ia perder a chance de entrar na provocação.

— Uma semana, cara. — Ele disse, balançando a cabeça, como quem não acreditava. — Uma semana inteira sem ver a Dr. Carter pessoalmente… e você já não aguentou.

Jay lançou a Ruzek um olhar cansado, mas o canto da boca traiu um meio sorriso.

— Boa tarde pra você também, Ruzek.

Hailey apoiou o queixo na mão, observando a cena, claramente se divertindo.

— Então… como foi dessa vez? — perguntou, fingindo inocência.

Jay suspirou, sentou-se finalmente e apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.

— Levei o café que ela gosta… um shot de expresso, creme duplo e bastante chocolate. — A voz dele tinha um leve tom de orgulho contido. — E um cupcake de chocolate. Ela adorou.

Hailey arqueou a sobrancelha, surpresa.

— Levou doce também? Uau. Aposto que isso quebrou a barreira um pouquinho.

— Talvez. — Jay admitiu, mas logo balançou a cabeça. — A gente conversou, mas ela deixou bem claro que não quer saber nada sobre o meu trabalho. Zero.

Hailey se endireitou um pouco na cadeira, cruzando os braços.

— Isso é… específico. — comentou, intrigada. — Algum motivo pra isso?

Jay passou a mão pela nuca, pensativo.

— Tem a ver com o passado dela. Ela ainda não contou o que exatamente, mas dá pra ver que é algo que ela prefere manter bem distante. — Fez uma pausa breve, lançando um olhar na direção de Hailey. — Mas eu ainda vou descobrir.

Ruzek deu uma risadinha baixa, sacudindo a cabeça.

— Cara… parece que você tá começando a gostar do desafio.

Jay não respondeu, apenas lançou a ele um olhar de canto que era mais um aviso para parar de provocar do que qualquer outra coisa. Hailey, no entanto, não deixou o assunto morrer.

— Ela só trabalha desde que voltou pra Chicago? — perguntou, inclinando a cabeça.

— É. — Jay confirmou, apoiando-se no encosto da cadeira. — Ela mesma disse que não tem feito muito além disso.

Hailey soltou um suspiro, apoiando os cotovelos na mesa.

— Isso não é exatamente um bom sinal. Alguém que só vive pro trabalho… geralmente está fugindo de alguma coisa.

Jay olhou para o tampo da mesa por um instante, pensativo, antes de erguer o olhar para Hailey.

— Eu sei. — respondeu com a voz firme, mas não defensiva. — Eu só… acho que consigo fazer ela relaxar um pouco. Sei lá, ajudar ela a encontrar algo que tire a cabeça dela do hospital de vez em quando.

Hailey deu um pequeno sorriso, cruzando os braços de novo, como quem achava graça do jeito dele.

— Boa sorte com isso. Ela não parece do tipo que se deixa convencer fácil.

Jay sorriu de lado, pegou um bloco de anotações na mesa e começou a folhear, encerrando o assunto com naturalidade.

— Não seria interessante se fosse fácil.

Ruzek riu, balançando a cabeça enquanto passava por eles para voltar à própria mesa.

— Isso vai dar história… eu tô vendo.

Hailey trocou um olhar rápido com Jay, mas não insistiu. O som de Voight chamando pelo time ecoou do escritório, e os três voltaram a focar no trabalho — ainda com aquele tom leve de provocação suspenso no ar, como se fosse um segredo compartilhado entre eles.

Invisible StringWhere stories live. Discover now