Lissie, percebendo o peso que o silêncio começava a ganhar, quebrou-o com uma leveza irônica:
— Você só tem mais uma pergunta, detetive.
A boca de Jay se curvou num meio sorriso, embora seus olhos mantivessem a intensidade.
— Por isso é tão difícil — murmurou, mais para si do que para ela, antes de erguer o olhar e escolher com cuidado.
A última pergunta veio mais baixa, mas clara:
— O que fez você voltar pra Chicago depois de tanto tempo?
Lissie sustentou o olhar dele por um momento, depois pousou a caneca na mesa, entrelaçando os dedos com calma. Havia algo na forma como ela respondeu que soou quase como se estivesse tirando uma camada de si mesma.
— Na verdade, ser médica não era minha primeira opção. — Ela hesitou, como se pesasse cada palavra. — Quando era criança eu queria ser igual ao meu pai. Mas depois que ele… desapareceu… eu não queria mais ficar perto daquilo.
Deu um pequeno sorriso, breve e sem humor.
— Minha nova mãe era enfermeira. Ela me mostrava tudo. E, aos poucos, comecei a gostar desse mundo da medicina. Fiz faculdade e, talvez não pareça, mas eu fui uma das melhores alunas. Também fiz vários estágios em áreas diferentes: cardiologia, psicologia e algumas outras. Gostava de testar coisas novas.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, como se decidisse se continuaria ou não. Por fim, completou, a voz um pouco mais baixa:
— Voltar pra Chicago parecia… difícil. Mas a minha família de Portland insistiu que seria uma oportunidade incrível. A Sra. Goodwin gostou muito do meu trabalho e fez uma oferta. Então voltei. Mas não completamente. Ainda tem partes de Chicago que eu tento evitar… não acho que estou pronta pra enfrentar tudo ainda.
Jay permaneceu em silêncio por um instante, absorvendo cada palavra. O modo como ela falava — sem dramatizar, sem floreios — só aumentava sua curiosidade, como se houvesse muito mais a descobrir sob a superfície.
Ele inclinou levemente a cabeça, um sorriso de compreensão surgindo, sem pressioná-la por mais respostas.
— Faz sentido — disse por fim, em tom tranquilo. — E acho que enfrentar as coisas no seu tempo é o mais sensato.
Lissie apenas assentiu, levando a caneca aos lábios mais uma vez, deixando o calor do café preencher o breve silêncio que se instalou entre os dois.
Jay, à sua frente, tinha o cotovelo apoiado na mesa e batucava com os dedos na porcelana da própria xícara — um gesto distraído, mas que entregava que estava atento.
— Então… — ele disse por fim, inclinando a cabeça com um sorriso quase contido. — Acho que é a minha vez de ser interrogado, certo?
Lissie ergueu uma sobrancelha, um canto do lábio se curvando de leve.
— Sim, detetive. — Ela girou a caneca nas mãos, com aquele ar de que estava levando a coisa a sério só para provocá-lo. — Quatro perguntas. E eu pretendo pensar bem em cada uma.
Jay soltou um riso baixo, balançando a cabeça.
— Isso me preocupa.
Ela ficou um momento em silêncio, os olhos avaliando-o como se pesasse as perguntas na balança. Então foi direto:
— Primeira: você sempre quis ser policial?
Jay deixou escapar uma risada um pouco mais aberta, o olhar baixando por um instante antes de voltar para ela.
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Invisible String
Romance‧₊˚♡ "Something wrapped all of my past mistakes in barbed wire ‧₊˚♡ Chains around my demons Wool to brave the seasons...
