O café de Lissie chegou. Ela o pegou com as duas mãos, inalando o aroma antes do primeiro gole. Depois, sem aviso, olhou para Jay de forma quase analítica.

— Escolhe um número.

Ele piscou, confuso.

— Como assim, um número?

— Só escolhe.

Jay franziu levemente o cenho, mas colaborou.

— Três.

Ela assentiu, como se estivesse calculando alguma coisa.

— Agora eu escolho… quatro.

Jay a encarou com um meio sorriso, claramente intrigado.

— Ok… e o que a gente faz com esses números?

— É a quantidade de perguntas que podemos fazer um para o outro. — Lissie deu um gole no café, apoiando o cotovelo na mesa com naturalidade. — Nada de interrogatório infinito.

A risada baixa de Jay escapou fácil, misturada com um leve balançar de cabeça.

— Isso é… novo. Mas gostei.

— Regras são úteis. — A voz dela mantinha aquele tom calmo, quase neutro, mas os olhos tinham um toque de humor. — Então, detetive, você tem três perguntas.

Jay apoiou as mãos na mesa, os dedos entrelaçados, e a olhou de modo curioso, sem pressa de falar. Havia algo naquela mulher que fazia cada resposta parecer mais valiosa do que qualquer conversa trivial.

O café entre eles esfriava devagar, mas a tensão era leve, quase confortável. Lissie permanecia tranquila, os ombros relaxados, e a maneira como mantinha a compostura deixava claro que, mesmo aceitando estar ali, não cedia facilmente ao que não queria.

Ele finalmente respirou fundo, como quem aceitava o jogo que ela havia proposto.

O aroma do café fresco ainda era forte, misturado ao leve perfume de chocolate vindo da bebida de Lissie. Ela mantinha a postura tranquila, ombros relaxados, a caneca apoiada à frente, enquanto Jay se inclinava um pouco mais para ela, intrigado.

— Certo… primeira pergunta — disse ele, com um tom leve, mas com um brilho de genuína curiosidade no olhar. — Você já comentou que nasceu em Chicago. Onde morava antes de voltar pra cá?

Lissie tomou um pequeno gole do café, como se comprasse um segundo a mais para responder.

— Em Portland. — A resposta saiu simples, direta. — Moro lá desde os meus doze anos… com a minha nova família.

Jay arqueou ligeiramente as sobrancelhas. Aquela última parte — nova família — ficou ecoando. Sem perceber, inclinou a cabeça, tentando processar, e a segunda pergunta escapou antes que pudesse conter.

— Então… você perdeu seus pais?

Lissie baixou levemente os olhos, não por desconforto, mas como quem acessa lembranças antigas. Falou sem pressa, a voz firme, sem nenhum traço de autocomiseração:

— Minha mãe morreu pouco depois que eu nasci. Meu pai se casou de novo, e eu tive um meio-irmão. Minha madrasta morreu também… câncer. — Pausou por um instante, depois completou com naturalidade quase cortante: — Meu pai desapareceu. Não sei como ele e meu irmão estão.

O silêncio que se seguiu foi breve, mas denso. Jay a observou com atenção, sentindo que cada frase dela carregava mais do que aparentava. Não era apenas curiosidade; havia algo no jeito contido com que Lissie falava que o fazia querer entender mais, como se cada peça fosse parte de um enigma.

Invisible StringWhere stories live. Discover now