— Ele. — Maggie deixou a palavra no ar, esperando a reação dela.
— Ele…? — Lissie repetiu, sem esconder a confusão.
— Jay Halstead — Maggie completou, firme, mas com um sorriso discreto nos lábios. — O jeito como ele olha pra você… como se fosse a coisa mais impressionante e linda que já passou na frente dele.
Lissie piscou algumas vezes, como se o cérebro precisasse processar a informação em câmera lenta.
— O detetive?
Maggie assentiu, paciente.
— Isso mesmo.
Um riso quase incrédulo escapou da médica, abafado contra a borda da caneca de café. — Maggie, você deve estar imaginando coisas.
— Não estou. — retrucou a morena sem hesitar. — Eu trabalho nesse hospital há anos, Lissie. Já vi muitos policiais passarem por aqui, já vi muitos olhares rápidos, muitos flertes mal disfarçados. Mas o dele é diferente. Ele presta atenção. Ele observa você como se estivesse tentando decifrar algo que ninguém mais pode ver.
Lissie balançou a cabeça, apoiando a caneca na mesa.
— Ele é apenas educado. E curioso demais, talvez.
Maggie se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos na mesa, o tom de voz suavizando, mas sem perder a firmeza.
— Querida, você pode até tentar disfarçar, mas eu sei o quanto você está se esforçando para evitar qualquer coisa que possa ser relacionada ao seu pai. E eu entendo. Você tem todo o direito de manter essa distância.
A loira ficou em silêncio, os olhos fixos no café, mas não respondeu.
— Mas… — Maggie continuou — eu acho que você não deveria se privar de certas coisas por causa disso. O Jay é um homem bom, dedicado, e claramente interessado em você.
— Maggie… — Lissie começou, hesitante. — Eu não sei se é uma boa ideia.
— Não precisa ser muito. — interrompeu a supervisora. — Ninguém está dizendo que você tem que mergulhar de cabeça. As coisas podem ir devagar. Tenho certeza que ele vai entender.
Houve um silêncio carregado de pensamentos. Lissie levou a caneca aos lábios novamente, mas não bebeu. Apenas encarou o líquido escuro como se buscasse ali uma resposta. A verdade era que ela não estava indiferente. Ela havia notado Jay. Havia notado a calma dele, a forma como se aproximava sem invadir, a paciência quase teimosa com que tentava atravessar a barreira que ela erguera. Mas admitir aquilo em voz alta parecia dar ao sentimento um peso que ela ainda não estava pronta para carregar.
— Talvez… — murmurou, finalmente. — Talvez eu possa tentar.
Maggie sorriu, satisfeita, e pousou a mão sobre a dela, em um gesto caloroso.
— É só isso que eu queria ouvir.
Lissie suspirou, mas não recuou. O toque de Maggie tinha algo de materno, de seguro.
E então, como se quisesse quebrar o peso da conversa, Maggie inclinou-se de leve para trás e acrescentou, com uma pontada de humor:
— Aliás, amanhã o seu turno começa mais tarde. Você não tem desculpa nenhuma pra não aceitar pelo menos um café com ele.
Lissie soltou uma risada curta, a primeira desde que a conversa tinha começado.
— Você já estava planejando isso?
— Eu só estou abrindo espaço pra você respirar um pouco. — disse Maggie, dando de ombros. — O resto é com você.
O riso de Lissie foi breve, mas real. Ela levou a caneca aos lábios de novo e, pela primeira vez desde que chegara a Chicago, se permitiu imaginar que talvez — só talvez — deixar alguém entrar não fosse o mesmo que perder o controle.
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Já era tarde da noite e o hospital estava mergulhado naquele silêncio particular de fim de turno, quando o ritmo desacelera, mas nunca para por completo. Lissie fechava um dos últimos registros no tablet, os olhos cansados, mas ainda atentos. Ao erguer a cabeça, avistou Jay encostado perto da saída principal, provavelmente esperando Will. Ele parecia à vontade, mãos nos bolsos, observando o movimento raro de calma nos corredores do Med.
Ela hesitou. O impulso natural foi fingir que não o tinha visto, mergulhar de novo no trabalho e escapar da situação. Mas as palavras de Maggie, mais cedo, ainda ecoavam em algum canto da mente. “Você deveria deixar ele entrar. Não precisa ser muito, as coisas podem ir devagar.”
— Detetive Halstead. — disse, com a voz baixa, quase casual.
Jay ergueu o olhar, sorrindo de leve. — Doutora Carter. Achei que já tinha escapado daqui.
— Quase. — Ela mostrou o tablet em mãos. — Só finalizando umas fichas.
Ele assentiu, relaxado.
— Sempre trabalhando demais. Mas estou começando a achar que isso é coisa sua mesmo.
Ela arqueou uma sobrancelha, sem comentar, e por alguns segundos deixou o silêncio se estender. Depois, de forma quase displicente, como se fosse apenas um comentário qualquer, soltou:
— Na verdade, a Maggie me disse que meu turno amanhã começa mais tarde. Então acho que eu poderia tomar um café em algum lugar diferente. — Baixou os olhos para o tablet, como quem não dava muita importância, e em seguida voltou a encará-lo. — Você conhece algum lugar bom pra café por aqui?
O sorriso dele cresceu, contido, mas carregado daquela percepção imediata de quem tinha entendido a jogada.
— Conheço, sim. Tem um na Wabash, pequeno, nada de muito especial. — Ele inclinou a cabeça, entrando na leveza dela. — Eles fazem um café que pode até competir com o do Med.
— Isso não é exatamente difícil. — Lissie deixou escapar, num humor seco, mas o canto da boca dela denunciou uma risadinha contida.
Jay deu de ombros, acompanhando a ironia.
— Verdade. Mas quem sabe, se você passar por lá amanhã… por volta das seis da manhã, talvez encontre um detetive que costuma frequentar o lugar. Ouvi dizer que ele é um cara legal.
O canto da boca dela cedeu num riso curto, genuíno, que ela tentou abafar logo em seguida.
— Parece arriscado, mas... quem sabe eu apareça. — disse, com aquela ironia suave que era quase natural no jeito dela.
Antes que pudesse acrescentar qualquer coisa, Will voltou, ofegante, com uma pasta de exames na mão. — Agora sim. Podemos ir.
— Finalmente. — Jay resmungou com humor, desviando por um instante.
— Boa noite, Lissie. — disse Will, já seguindo para a saída.
— Boa noite, Will. — ela respondeu com naturalidade.
Jay ficou um segundo a mais, segurando o olhar dela, sem pressa de se despedir.
— Boa noite, doutora. — disse por fim, com um tom baixo, quase sugestivo.
— Boa noite, detetive. — ela devolveu, discreta, mas deixando um pequeno brilho escapar nos olhos.
Ele então seguiu o irmão, e ela voltou para o tablet, mesmo que a concentração já tivesse se dissipado. A rotina do Med não parava, mas, naquela noite, ela sabia que o dia seguinte guardava algo diferente — e, pela primeira vez em muito tempo, Lissie não se incomodou com a ideia.
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Invisible String
Romance‧₊˚♡ "Something wrapped all of my past mistakes in barbed wire ‧₊˚♡ Chains around my demons Wool to brave the seasons...
